Capítulo 03

Ivy Calleya

Tudo à minha volta havia ficado escuro novamente, e a única coisa que mantinha minha consciência ainda desperta, eram os gritos dos serviçais que vinham preocupados até meu corpo caído ao chão, e a voz com timbre abalado de Helena.

Fui levada até meu quarto, mas diferente das outras vezes, levaram apenas 2 dias para que eu me recuperasse, e levantasse da cama sozinha, sem nenhum apoio.

Eu tentei não pensar muito, não me estressar para que a saúde daquele corpo não fosse afetada, más era impossível. Toda vez que eu lembrava de Alexandre, meu pequeno filhote, nos braços da víbora que era Lindsey Ingraf, sentia minha carne tremer, e o gosto de ferro brotava em minha boca.

Aquele corpo tinha pouco tempo, e eu sabia disso, e precisava de um plano, um que me desse livre acesso ao palácio de Adiel, que me fizesse ter controle sobre aqueles nobres corruptos e mentirosos, pois somente daquela forma, eu conseguiria colocar meus planos em prática.

Eu precisava de poder, precisava de influência para destruir completamente aquele lugar.

Respirei fundo, e com calma, naquela manhã branca e fria, iniciei meu primeiro movimento.

Chamei um dos serviçais, e pedi para que informassem aos meus “pais”, que eu iria participar do almoço junto a eles, e assim, me preparei para o encontro com o imperador e a imperatriz daquele reino.

Como anteriormente, me foi colocado uma roupa de acordo a ocasião, um belo vestido vaporoso, e depois de pronta, deslumbrante e completamente enfeitada, desci aqueles degraus que estavam cobertos por um belo e enorme tapete violeta, bordado e costurado com fios tão dourados quanto o próprio ouro.

Adentrando aquele enorme salão, vi os dois sentados como estátuas, seus pratos ainda sequer haviam sido tocados, pois aguardavam minha presença para que prosseguissem com sua refeição.

Estava silencioso, quieto.

Não era possível ouvir nem mesmo os pássaros cantarem, talvez fosse por conta do frio, ou talvez, eles premeditavam o motivo de meu comparecimento.

Me aproximei, me acomodando em uma das numerosas cadeiras daquela imensa e farta mesa, e no momento em que me sentei, aquele silêncio perturbador foi quebrado pela voz de Helena, ela ainda parecia preocupada, assustada, e aquilo me deixou confusa, pois nenhum deles havia ido até meu quarto depois daquele terrível susto.

— Você está melhor? — Ela perguntou, pegando delicadamente no talher prateado, aguardando minha resposta para prosseguir, até sua atenção ser chamada pelo homem de cabelos perolados, ele parecia desconfortável, atribulado.

— Querida, não vamos incomodá-la com isso agora.. Deixe Ivy se alimentar com calma, deixamos a conversa para depois. — Victor a interrompeu, e pude ver a forma com que ela o olhou, naquele instante tive certeza de quem era dominante, quem realmente mandava ali, quem era a Alpha.

— Não me interrompa novamente, querido.. Eu não suporto ser cortada.. Sabe mais que todos como aguardo esse momento com minha filha, o tempo que aguardei para vê-la acordada.. — Seus olhos eram como flechas afiadas apontadas para ele, e quando percebi que o clima poderia piorar, eu simplesmente intervi.

— Está tudo bem, eu vim aqui exatamente para isso..  — Eu falei, sentindo a tensão a meu redor sobre minha pele, e receosa, continuei. 

— Eu queria vê-los… — Suspirei, vendo que havia conseguido toda atenção, seus olhares fixos em mim — Na verdade… gostaria de fazer um pedido.. — Eu terminei, vendo a expressão de estranheza surgindo no rosto do imperador.

— Que inusitado.. — Ele falou enquanto me encarava confuso. — E oque seria de tão importante? Para você vir nos encontrar pessoalmente… deveria estar descansando.. — Ele terminou virando a taça, e pude ver que em seus olhos havia preocupação, não sei qual tipo de relação Ivy e seu pai tinham, mas ele realmente se importava com a filha.

Helena permaneceu calada, prestando atenção em cada palavra que saia de minha boca, mantendo sua pose poderosa, superior.

Eu não sabia como eles iriam reagir, mas eu precisava tentar, cada segundo era crucial, e eu não suportava mais permanecer para naquele quarto, vegetando, enquanto a pessoa que arruinou minha vida, vivia de forma feliz e vitoriosa, com meu filho em seus braços.

Bufei, sentindo novamente a ira percorrer sobre meu corpo.

— Eu quero ir ao baile… a cerimônia que irá reunir a nobreza de todos os reinos vizinhos no palácio principal, em Lyra. — Eu falei com a postura firme, transmitindo o quão serio eram minhas palavras, e no momento em que Victor entendeu oque eu insinua, se levantou  abruptamente, tossindo o vinho que bebia, com qual quase havia se engasgado.

Ele se virou para mim incrédulo, parecia nervoso.

— Me desculpe.. Eu, não entendi direito.. Você quer oque? — Ele questionou, e eu percebi que seria mais complicado do que imaginava.

Eu não poderia deixar aquela oportunidade passar, Adiel buscava uma nova esposa, uma nova mãe para seu filho e reino, e aquela seria EU.

Eu iria seduzi-lo, conquistaria a confiança de todos, e quando tudo estivesse calmo, sereno como o mar de Úrsula, eu os assolaria por completo. 

Suspirei, me mantendo firme em meu plano, resistindo a tensão no ar que se intensificava, e continuei.

— Eu quero ir ao baile… eu vi aquele convite que foi enviado há alguns dias, minha mãe sabe sobre oque estou falando — Eu olhei para ela, para a imperatriz, seu olhar estava cravado em mim, de uma forma que eu sequer sabia descrever, era impossível imaginar oque passava em sua cabeça.

Victor se virou para ela, quase bufando, aguardando que ela o explicasse, que desse detalhe sobre oque se tratava, e eu, permaneci calada, pois mesmo que precisasse ir contra eles, contra o império de Oracalia, eu iria até aquele baile.

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