Capítulo 02

Ivy Calleya

Eu me alimentei, descansei e tomei os diversos chás de ervas que aqueles sacerdotes do templo de Urc me deram, eram muitas xícaras por dia, e minha boca permanecia com o gosto amargo quase o tempo todo, mas mesmo assim continuei os tomando.

Já haviam se passado algumas semanas, e eu sentia que estava ficando cada vez mais revigorada.

 Até que em uma daquelas manhãs frias uma das serviçais do palácio veio até mim, eles eram diferentes dos criados de Lyra, seus cabelos tinham sempre o mesmo tom claro, como se fossem realmente iguais nas histórias que me foram contadas, como se todos tivessem sido banhados pela luz da lua.

— Princesa.. Vossa Majestade, Helena Calleya, chegou de viagem.. Ela deseja vê-la, e pediu para que você comparecesse ao salão para acompanhá-la no café da manhã. — Como sempre, a serviçal evitou contato visual, e após ouvir minha resposta, me auxiliou a vestir algo adequado.

— Como ela é? — Perguntei despreocupada, todos estavam cientes da minha total perda de memória, e eu não podia negar, que aquela desculpa era perfeita, e estava me fazendo passar bem pela quieta e delicada Ivy.

A imperatriz não havia aparecido desde o meu despertar, Victor havia me informado que ela não estava presente, que estava resolvendo alguns detalhes políticos em Opacham, um reino próximo, rico em agropecuária e repleto de solo fértil, eles faziam muitas negociações, e por isso, mantinham contato e faziam visitas frequentes.

— Vossa Majestade e uma dama muito séria, direta e refinada — ela dizia terminando os detalhes da minha maquiagem, acrescentando um batom de tom rosado em minha boca que ainda estava com a cor sem vida, pálida, e continuou — Por isso, princesa, não pense que ela não se importa com você, apenas por não falar muito, ou não demonstrar.. Acredito que logo irá se lembrar do quanto ela te ama, e entenderá que aquela é apenas a forma dela de ser. — A serviçal terminou, prendendo meu longo cabelo em um penteado que caia como cascata do lado direito de meu ombro.

Respirei fundo, e saí do quarto, fui guiada até o salão, onde encontrei uma enorme mesa decorada com flores importadas e peças de cristais que eram tão brilhantes quanto as estrelas. Havia um banquete invejável disponível, um que alimentaria facilmente 20 soldados famintos após retornarem da guerra, aquilo tudo, apenas para o meu tão esperado encontro com minha “mãe”.

No momento em que pisei dentro do salão, uma presença avassaladora me aterrorizou, meu corpo gelou e quando olhei a minha volta, percebi que todos os serviçais  permaneciam de cabeça baixa, aquela presença, aquela força invisível que pairava no ar, era dela, Helena Calleya e eu soube na hora, quem era o Alpha daquele lugar.

— Sente-se — sua voz soou fria como uma lâmina, e imediatamente, meu corpo obedeceu, eu sentei e assim como todos presentes naquele cômodo, olhei para o chão, o lobo que aquela mulher carregava, era diferente de tudo que eu já havia visto.

Eu estava curiosa, algo em mim queria ver quem ela era, e mesmo com medo, ousei olhar para frente, e quando meus olhos se levantaram, pude ver que ela nem mesmo se dirigia a mim enquanto falava, aquela autoridade que ela exalava, era apenas um pequeno fragmento de sua essência, e aquilo me amedrontou, pois, se aquela era a mãe de Ivy quando estava calma e feliz por ter finalmente encontrado com sua filha, eu não queria estar perto para vê la irada.

— Seu pai me informou de tudo, assim que recebi sua carta em Opacham, vim o mais rápido que pude. — Ela olhava para algo em suas mãos, parecia estar a ler uma carta, havia vários pergaminhos e papéis ao seu lado na mesa.

Quando ela terminou de falar, levantou seu olhar, e me pegou de surpresa enquanto eu a examinava.

— É bom ver que você está bem — Quando ela disse aquilo, pude ver um breve sorriso em seu rosto, mas da mesma velocidade que ele surgiu, desapareceu, e ela continuou. — Foi a primeira vez que você ficou tanto tempo desacordada, estávamos preocupados…— Ela falou se levantando, e eu percebi o quanto ela era alta, como seu corpo era perfeito, um verdadeiro exemplo de beleza pura.

Ela caminhou até mim, e estendeu sua mão, me entregando os papéis que tanto encarava anteriormente, e eu fiquei confusa, completamente perdida no meio de suas ações.

— Quando pequena, você sempre me pedia para ver as notícias dos reinos vizinhos, você sempre quis viajar, conhecer o mundo, e como faz muito tempo desde que você esteve acordada, pensei que gostaria de saber como anda o mundo. — Ela me encarava com atenção, seus olhos eram como de um predador, mas diferente de antes, o medo que eu sentia se dissipou, aquela força, aquela autoridade, não era hostil, muito pelo contrário, me senti protegida, me senti segura, pois só de vê-la tão próxima a mim, senti que ela faria qualquer coisa para me proteger, para me salvar.

Aliviada, dou um sorriso como resposta, enquanto pegava os papéis daquela mão elegante repleta de anéis incrustados de pedras preciosas, e quando meus olhos encontraram as palavras da carta que estava à frente das demais, congelei.

Não sabia se era brincadeira do destino, ou se a Deusa estava brincando comigo, mas aquela carta, aquele selo, era do reino de Lyra, minha casa.

Eu não consegui esperar, e mesmo na presença marcante de Helena eu desdobrei aquele papel com pressa, e quando li o conteúdo que aquela carta carregava, me segurei para não a amassar, pois meu sangue ferveu, e meus dentes rangeram de raiva.

Era uma carta sobre minha morte, sobre o sacrifício que a Imperatriz Camille Larsen havia feito há 3 anos atrás ao dar um herdeiro a seu reino, um anúncio Real sobre a perda de alguém que havia sido importante, mas não era apenas aquilo, não, seria bom demais se fosse.

“ Se passaram 3 anos…“ Pensei, apertando o pergaminho com forma, quase o rasgando.

Logo após o curto parágrafo que dizia mentiras, de como Camille era amada e com deixava saudades, havia outro prenúncio, aquele maldito, aquele desgraçado de Adiel Viegas, não poderia ficar sem uma esposa, o reino não poderia ficar mais sem uma imperatriz, e na mesma carta em que ele lamentava de forma mentirosa a minha morte, ele também convidou a todos a um baile, uma cerimônia feita especialmente para que ele buscasse uma nova companheira e novos aliados.

Senti minhas mãos tremerem, senti minha pressão baixar, e senti que morreria novamente.

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