Ponto de vista de Arthur
A casa ainda cheirava a lenha queimada e ao sabor quente do vinho que tínhamos dividido. Lá fora, a lua ainda pairava alta, testemunha silenciosa das nossas inquietações. Por dentro, eu sentia o corpo e a mente em espasmo depois do que tínhamos partilhado — Apolo, Mara e eu — naquele abandono que nos fez esquecer por instantes do mundo lá fora. E, no entanto, aquela mesma mulher ali, deitada entre nós, ainda estava ferida, magoada por algo que, para nós, parecia trivial: a descoberta de que falávamos entre nós pela mente.
Ela estava de costas para mim, com o cabelo espalhado no travesseiro, o rosto sério mesmo depois do calor dos nossos corpos. O brilho das lágrimas ainda não havia secado completamente em suas bochechas. Eu sabia que havia feito amor com ela como se fosse uma prece; eu sabia que tínhamos doado pedaços de nós mesmos, que tínhamos selado como proprietários e protetores e amantes. Mas as feridas pequenas — as que nascem da incompreensão — tardava