Capítulo 73
Lucia Bianchi Strondda
Voltamos para casa.
O banco do carro era quente ainda do sol. Encostei a testa no vidro e deixei os olhos perderem-se no reflexo distorcido das árvores que passavam rápidas — era curioso como tudo parecia se mover tão devagar quando eu me esforçava para prestar atenção. A mão dele repousava no meu joelho. Senti o formato dos nós dos dedos sob o tecido do vestido e, por um instante, pensei que sabia quem eu era ali dentro. Depois o pensamento fugiu.
— Está bem? — ele perguntou, baixo, sem virar para mim.
Olhei para ele. A luz batia na lateral do rosto, desenhando um ângulo duro que me lembrava cem decisões que eu não havia tomado e já me condenavam. Sorri, uma coisa pequena e fácil de esconder.
— Sabe, agora que tenho um pouco de liberdade... — comecei, meio provocando, meio testando. — Você bem que poderia me deixar fazer um jardim.
Ele bufou, e eu ouvi o riso contido — o riso que sempre vinha antes do aviso.
— Nós já conver