Minha vida mudou completamente naquele dia fatídico. Tudo parecia acontecer em câmera lenta, como se o tempo tivesse parado. Eu, com apenas 5 anos, me vi órfã, sem meus pais, meu alicerce, minha segurança.
Enquanto a notícia se espalhava, senti um vazio profundo se instalar dentro de mim. Meus pais, que sempre estiveram lá para me proteger e me amar incondicionalmente, foram tirados de mim de uma forma tão repentina e cruel.
Minha tia Regina, que se tornou minha guardiã após a tragédia, não era uma boa pessoa. Ela não tinha o mesmo amor e carinho que meus pais tinham por mim. Ao contrário, ela me tratava com indiferença, como se eu fosse apenas um fardo em sua vida.
Minha infância, que antes era repleta de amor e cuidado, transformou-se em uma vida de sofrimento e humilhação. Minha tia não me dava nada além de um teto para morar, e eu vivia uma existência solitária e dolorida.
Enquanto crescia, percebia cada vez mais a diferença entre o amor que meus pais me deram e a frieza que minha tia demonstrava. Eu ansiava por aquele amor perdido, por aquele abraço protetor que apenas meus pais podiam me dar.
Apesar de todas as dificuldades, eu nunca perdi a esperança. Dentro de mim, havia uma chama que se recusava a se apagar. Eu sabia que merecia mais do que aquela vida de privações e desprezo.
Com o passar dos anos, eu me tornei determinada a mudar minha situação. Eu estava determinada a construir uma vida melhor para mim mesma, uma vida que honrasse a memória dos meus pais.
Encontrei refúgio nos estudos, dedicando-me com afinco para alcançar um futuro promissor. Cada conquista acadêmica era uma forma de honrar meus pais, mostrando a eles que seu amor e sacrifício não foram em vão.
Enquanto lutava para superar os obstáculos que a vida me impunha, eu também buscava apoio em pessoas positivas e inspiradoras. Encontrei amigos verdadeiros, que me apoiaram e me encorajaram a seguir em frente, porém a tia Regina me proibia de vê-los
Aos poucos, comecei um plano para me libertar do domínio de minha tia Regina. Conforme ia me tornando mais independente, percebi que eu era capaz de criar minha própria história, longe da sombra do passado.
No dia do meu aniversário de 18 anos, minha tia me surpreendeu falando que iria sair comigo para fazer compras, pois tinha que estar apresentável para uma festa que ela estava organizando para mim.
Um fio de esperança brilha em meu ser, talvez ela me veja como sua sobrinha a final, e tudo que ela fez foi para me fortalecer como pessoa.
— Quero o vestido mais lindo que você tem nesta loja para esta jovem. — Fala minha tia para a atendente.
— Ela é linda, então vou encontrar um vestido que realce ainda mais as curvas dessa bela moça. — diz a vendedora.
— Perfeito — fala minha tia e desconfio o porquê ela quer tanto que me destaque se ela sempre fez de tudo para me esconder.
Enquanto a vendedora busca o vestido perfeito, sinto um misto de emoções dentro de mim. A desconfiança em relação às intenções da minha tia ainda paira no ar, mas também há uma pequena centelha de esperança de que talvez ela esteja mudando, de que talvez ela finalmente esteja vendo o valor em mim.
Enquanto experimento o vestido, me olho no espelho e vejo uma transformação acontecer diante dos meus olhos. Aquele vestido, com seu corte elegante e tecido delicado, realça a minha beleza de uma forma que nunca havia experimentado antes. Sinto-me confiante e poderosa.
Ao sair da loja com o vestido escolhido, minha tia parecia satisfeita. Ela me olha com um olhar diferente, como se estivesse vendo algo novo em mim. Será que finalmente ela está reconhecendo o meu valor?
Seguimos para um salão onde ela pediu para fazer meus cabelos, unhas e uma leve maquiagem. Estava encantada com tudo que estava acontecendo, e me segurava para não chorar, pois não queria estragar a maquiagem.
… No carro, enquanto seguíamos para o local da festa, minha mente estava uma tempestade. Será que eu tinha finalmente ganhado o afeto dela? Será que, depois de tantos anos de rejeição, eu tinha conseguido conquistar um espaço no coração da mulher que me criou — mesmo que com frieza?
Chegamos a uma mansão iluminada, que eu jamais imaginaria que minha tia teria acesso. Luzes de cristal pendiam da entrada principal, e uma passarela de tapete vermelho se estendia até a porta. Parecia um sonho. Ou uma armadilha.
— Lembre-se de sorrir — ela sussurrou enquanto me guiava para dentro, com a mão pousada levemente em minhas costas.
A sala estava cheia. Gente bem-vestida, copos de cristal tilintando, risos ensaiados. Um ambiente luxuoso, elegante, e extremamente desconfortável para mim. Todos os olhares se voltaram quando entramos. Senti meu coração acelerar. Era por mim aquele evento? Ou por ela?
— Esta é minha sobrinha — ela anunciou com um sorriso orgulhoso, mas que não alcançava os olhos. — Finalmente está pronta para assumir seu lugar.
Seu lugar?
As palavras ficaram ecoando na minha cabeça enquanto as pessoas se aproximavam para me cumprimentar. Alguns sorriam com simpatia, outros com uma curiosidade fria, como se estivessem analisando um item de vitrine. E eu, confusa, apenas sorria de volta, tentando entender o que tudo aquilo significava.
Horas se passaram. Fui apresentada a várias pessoas influentes — políticos, empresários, figuras importantes da alta sociedade. Todos pareciam conhecer minha tia muito bem. E, estranhamente, todos pareciam ansiosos por me conhecer.
Em certo momento, uma mulher elegante, de cabelos grisalhos e olhos cortantes, se aproximou.
— Então essa é a menina. — Ela me observou dos pés à cabeça com um olhar afiado. — Você realmente é bonita. Vai dar conta do recado, Regina.
— Vai sim — respondeu minha tia, ainda com aquele falso sorriso. — Ela foi criada para isso.
Aquela frase me congelou por dentro.
Criada... para isso?
Afastei-me por um instante, dizendo que precisava de um pouco de ar. Saí pela lateral do salão e encontrei um jardim iluminado por pequenas luzes penduradas entre as árvores. Sentei-me em um banco, tentando controlar a respiração. Havia algo de errado. Muito errado.
Pela primeira vez em muito tempo, desejei voltar para o meu quarto apertado, para a solidão segura da minha antiga rotina. Aquilo tudo não era carinho. Era outra coisa. Um plano.
Foi então que ouvi duas vozes atrás de mim, do outro lado da cerca de heras.
— E ela nem imagina, não é? — disse uma voz masculina.
— Claro que não — respondeu uma mulher, rindo com desprezo. — Regina escondeu tudo até hoje. A garota acredita que isso é uma festa de aniversário.
Meu estômago revirou.
Eles estavam falando de mim. E de algum segredo que eu não fazia ideia.
Voltei para a festa com passos firmes, mas por dentro, era como se cada célula do meu corpo gritasse. Eu precisava descobrir a verdade. Precisava entender o que minha tia estava planejando. Porque agora eu tinha certeza: aquilo não era sobre amor. Era sobre controle. E eu não seria mais a marionete de ninguém.
— Tia Regina, podemos conversar? A sós? — perguntei, encarando-a com uma calma ensaiada.
Ela me olhou, surpresa, mas assentiu com um leve movimento de cabeça.
Enquanto caminhávamos para um corredor lateral, eu senti o peso do meu passado nos ombros... mas pela primeira vez, eu também sentia o poder do meu presente. Algo em mim havia mudado. E, seja qual fosse a verdade que ela estava escondendo, eu estava pronta para enfrentá-la.