Acordo em um pulo sentindo uma mão em meu rosto e vejo ele. O monstro. Me encolho no canto da minha cama esperando o que quer que ele veio fazer.
Ele parece me analisar com um olhar... Triste? Impossível ser um olhar de tristeza. Talvez eu esteja delirando, um ser como ele não sente isso, tenho certeza. Comecei a pensar em tudo o que ele me fez, um misto de raiva, ódio e dor me consome. — O que vai fazer comigo? Perguntei de forma impulsiva e me arrependi, ele odiava que eu falasse sem sua permissão, menos quando era para pedir perdão. Mas no fundo eu não ligava mais. Eu o odiava e mesmo se me matasse, estaria me libertando. — Você sempre desobedecendo, garotinha. Ele dá um sorriso de lado e fala com um tom malicioso que me embrulha o estômago, quando ele tenta tocar meu rosto eu no reflexo bato na sua mão e seu sorriso some, seu olhar escurece mas eu não ligo. Levantou a mão para me bater, mas ela parece travar no ar, logo abaixando devagar enquanto o mesmo respira fundo fechando os olhos. — Você é muito abusada, sabia? Pergunta e segura meu rosto forte, fazendo encarar seus olhos. — Sua sorte é que não posso marcá-la mais. Me exigiram que chegasse sem marcas no rosto ou qualquer lugar muito exposto. E claro… — ele sorri malicioso novamente. — Que sua virgindade esteja realmente intacta. Eu arregalo meus olhos e ele ri. Sim ele nunca tirou minha virgindade, mas não tinha só esse lugar para ele usar da forma que quisesse, como fez durante todos esses anos. O choque me consumiu, ele estava me vendendo virgem para ser usada por outro. Empurrei ele e corri para a porta, porém a mesma estava trancada e ouvi sua risada tosca. — Você é um MONSTRO! Eu sempre vou te odiar e juro que um dia vou fazer você pagar por tudo que me fez!! Gritei tudo de uma vez e ele riu mais alto se levantando vindo em minha direção como se eu fosse uma presa. — Não chegue perto de mim! Eu vou matar você! Ele andava calmo, chegando cada vez mais perto, eu tento jogar tudo o que eu vejo nele mas nada é eficaz, sinto suas mãos agarrando meu braço e uma pontada que me fez encolher com o incômodo e dor. era uma seringa. Me desesperei e tentei empurrar mas minha vista pesou, meu corpo amoleceu e cai nos braços dele — Não... Tentei falar mas estava fraca e a única coisa que ouvi foi: — Você pode tentar me ameaçar, mas nunca se esqueça... Eu sempre voltarei para te pegar, minha putinha. — Ele diz em um sussurro doentio — Você sempre será minha. Eu apago sentindo aquele vazio e desespero me tomarem. Será meu fim? Algumas horas depois, eu começo a despertar com uns barulhos de conversa. — Eu tive que drogar ela, porra! Ouço a voz do monstro, mas não consigo abrir os olhos e nem me mover. Sentia que tinha mais alguém ali. — Você pediu ela inteira, aqui está ela. E se eu fosse você manteria, ela drogada, ela pode tentar se matar ou fugir, não se deixe enganar com essa carinha inocente. — Dor de cabeça do caralho, nenhuma das outras deu esse trabalho. Só peguei ela porque você disse que ela é virgem, vai valer uma fortuna! Se estiver me enganando eu mato você. — Nunca tirei a virgindade dela, mas não quer dizer que não me diverti com outras partes. — Você é nojento pra caralho… é tua filha. — Quer me dar lição de moral? Você vende mulheres como se fosse uma porra de boneca sexual, filho da puta, pega logo ela que tenho mais o que fazer! Senti meu corpo ser carregado, o que vai acontecer comigo? Eu só queria que tudo isso acabasse, queria que alguém me tirasse dessa vida, entretanto, parece que fui criada pra sofrer. Logo perdi a consciência novamente me afundando na escuridão fria desejando não acordar nunca mais. Infelizmente eu acordo em uma cama dura e pequena. Tento olhar em volta, mas minha cabeça lateja, me fazendo fechar os olhos com força, encolhendo meu corpo devido o incômodo e a dor que se espalha por todo meu corpo. Cada músculo doía se tentasse me mover, fiquei apenas parada tentando recuperar minhas forças. Depois de um tempo ouvi alguém e tentei abrir os olhos novamente e vi uma mulher. Alta, branca, com algumas marcas nos dois braços. Seus cabelos eram longos e loiros. É tão linda... Se abaixou e ficou bem perto do meu rosto, tocou levemente e eu tentei me mexer falhando miseravelmente. Aquela mulher estranha fez um carinho no meu rosto e eu estranhamente senti um conforto no calor de sua mão, ela é tão delicada como se tivesse medo de me machucar. — Não precisa deixar ela drogada, isso é crueldade, Silver. — A voz dela soava calma, mas firme também. — Fui avisado que ela pode tentar se matar e outra… crueldade? Sério, Livia? Me poupe, vai dizer que se apegou a uma pirralha que nem conhece? Uma voz seca de um homem reclamava com a mesma. Eu finalmente consegui me mexer e segurei a mão dela chamando a atenção dos dois. — Por favor, me ajude, por favor. Falei pesadamente usando o pouco de força que eu tinha. O olhar dela transmitia pena, porém, isso não me incomodava. O homem veio em minha direção e eu vi a seringa em sua mão, fechei os olhos esperando o pior. Mas quando não senti nada, abri e vi ela em minha frente, ela estava... Me protegendo? Por que? — Para, Silver! Porra, ta com medo de uma menininha a ponto de droga-la?! — Ela começou a gritar empurrando o brutamontes. — Eu vou ser responsável por ela, agora sai dessa merda! O homem bufou e a olhou com raiva antes de sair batendo a porta com força. Ela veio até mim e me ajudou a levantar, fiquei sentada naquela cama e finalmente olhei em volta. Era um quarto mediano, só tinha a cama, um pequeno armário no canto perto da porta, um tapete grande redondo e preto. Os pisos eram de madeira escura, as paredes marrom com algumas manchas, tinha uma janela velha e grande com uma cortina preta e suja, reparei que estava de noite. Olhei para a mulher que me olhava com uma certa ternura, mas por que esse olhar? Quem era ela e onde eu estou? Eram somente perguntas e mais perguntas que fizeram minha cabeça voltar a latejar e eu soltei um suspiro de incômodo. Ela se aproximou e sentou do meu lado respirando fundo antes de falar. — Eu sei que está assustada e não vou mentir dizendo que vai ficar tudo bem — disse virando levemente meu rosto com sua mão em meu queixo. — Mas vou cuidar de você, tá bem? — Quem é você? Que lugar é esse? — Perguntei sentindo vontade de chorar. — Eu quero ir embora por favor. — Eu sei que não iria embora, eu sei que é inútil dizer isso, mas o que mais eu iria dizer? — Eu sei querida, mas infelizmente a vida é cruel com quem é bom. Olha, primeiro vamos cuidar de você, que tal um banho quente e torradas? Ela sorriu para mim e seu sorriso era tão lindo, a beleza dela era surreal. — Tudo bem... — não tinha porque contrariar. Livia me ajudou no banho e não sei porquê, mas não senti vergonha. Ela me contou tudo sobre este lugar. É um cabaré que na verdade esconde o fato de vender mulheres para homens ricos, mafiosos e criminosos. Não sei o que senti com essas informações, eu sei que serei vendida de qualquer forma. A "apresentação" era daqui a 1 semana, ela disse que ficamos em fila esperando para ver se iremos ser compradas ou voltar para o cabaré e continuar trabalhando como ela. Depois de comer, continuamos conversando, fazia tantos anos que não conhecia alguém diferente e bom como ela, mas não sabia mais como conversar, nunca tive contatos com pessoas diferentes a não ser a Anastácia, mas era raro. Lívia aceitou dormir comigo está noite, estava com medo de ficar sozinha e ela está aqui comigo, deitada e me fazendo carinho. Eu só consigo pensar no que vai acontecer comigo daqui pra frente, mas espero continuar com ela perto de mim.