Sophie Narrando
Consegui dormir um pouco, não sei dizer por quanto tempo, mas foi o suficiente pra acalmar minimamente aquela tempestade que tava dentro de mim. Acordei com um cheiro bom vindo da cozinha, alho refogado, cebola na manteiga, alguma coisa que mexeu direto na minha memória afetiva. Fiquei deitada por uns segundos, olhando pro teto, tentando lembrar onde eu tava. Quando olhei pela janela, vi que já era noite. A claridade alaranjada dos postes deixava tudo com cara de início de noite.
Levantei, amarrei meu cabelo de qualquer jeito num coque bagunçado e fui até o banheiro. Lavei o rosto pra tentar despertar de vez, mas a tristeza continuava agarrada em mim como uma segunda pele. Fui andando em silêncio até a cozinha, pisando devagar, e quando cheguei na porta, lá estava ela: Lizandra. De avental, mexendo a panela, falando sozinha e dançando com a colher de pau na mão.
Ela se virou e arregalou os olhos.
— Ué! Já tá em casa? — disse surpresa. — Não te ouvi entrando!
— Cheguei