Ethan Narrando
Cheguei na empresa às sete e quatro. Dois minutos fora do comum. Gosto de ser o primeiro a chegar, de sentir o silêncio que antecede o caos, de dominar o ambiente antes que ele tenha tempo de reagir. Assim que cruzei o saguão do andar da presidência, senti aquele perfume. Doce, com uma nota sutilmente de ameixa. Era ela. Sophie. Seu perfume sempre chega antes dela, uma mistura que remete à grossura da ameixa, intensa, quase impertinente, mas envolvente. Ela acha que é sutil. Não é. É memorável.
Ignorei tudo ao redor, como de costume. Não há necessidade de cumprimentos protocolares quando se está na minha posição. Fui direto para minha sala, um espaço que reflete exatamente quem eu sou: vidro, aço escovado e silêncio. Em menos de dois minutos, como um relógio bem ajustado, a secretária entrou com o café. Fumegante, escuro como a noite sem lua, forte e amargo do jeito que eu gosto.
Tomei o primeiro gole e senti a familiar queimação na garganta. Reconfortante.
Logo em se