Logan entrou em contato mais cedo, querendo saber quanto tempo vou demorar. Xiaomei prontamente se ofereceu para cuidar da K’Corp durante minha ausência — e, claro, aceitei. Ela é meticulosa, confiável e sabe como lidar com a burocracia fria das corporações. Jair, por sua vez, me perguntou se queria que ele me acompanhasse. Pedi que ficasse e desse suporte à Xiaomei. Ele assentiu em silêncio, mas o olhar denunciava seu desejo de estar ao meu lado.Teresa está imersa em uma investigação. Disse ter encontrado algo que se conecta ao projeto desenvolvido comigo — mas não da forma como imaginávamos. Segundo ela, eu não fui criada pela BioCom… eu já era uma cobaia muito antes disso. Teresa acredita que eu carrego algo dentro de mim, algo tão incomum e grandioso, que Hugo Heinz chegou a considerar me dissecar só para descobrir o que sou.Ofereci a Analisa como apoio. As duas parecem crianças em uma expedição científica — empolgadas, inquietas, tagarelas. Falam sobre uma base militar nas mont
Estou no meu quarto. Acabei de saber que Aurora e Kira saíram juntas. Me contorço em pensamentos, uma inquietação que me consome por dentro. Nessas últimas duas semanas, fiquei ainda mais próximo de Kira — e cada vez mais fascinado por ela. Ela não é apenas uma combatente letal. Vai muito além disso. É estratégica, fria quando necessário, mas ao mesmo tempo... surpreendentemente lúcida, inteligente e astuta também fora do campo de batalha. Tivemos uma conversa que me desmontou por dentro, me deixou atordoado, quase excitado com a mente que habita aquele corpo fenomenal. FLASHBACK — Bom dia, Sr. Alessandro — disse ela com sua postura impecável e voz controlada. — Não precisamos de formalidades nesse momento — comento, tentando soar casual, mas a verdade é que quando ela me chama de "senhor", meu pau pulsa violentamente. Ela me lança um sorriso discreto. Seu olhar brilha como a lâmina de sua monokatana — afiado, perigoso, irresistível. — Sr. Alessandro, revisei algumas cláusulas do
Estou em meu quarto no hotel. Ligo os monitores com um toque rápido e direciono o foco para o quarto da Kira. Estranho, ela ainda não voltou. Algo não parece certo. Uma inquietação começa a crescer em meu peito.Levanto-me, atravesso o ambiente silencioso e abro a porta lateral — estamos na suíte presidencial, e os quartos são separados, como num pequeno apartamento. Há até uma cozinha compacta entre nós. O espaço é luxuoso, confortável, mas nesse momento tudo parece frio e inútil.Ajusto as câmeras, tentando obter agora a visão do quarto de Aurora. É então que tudo desaba.Um barulho violento. Estilhaços. Gritos abafados. Tiros. Muitos tiros. O som seco e contínuo de disparos pesados reverbera pelos corredores como marteladas no crânio. O ar treme com o volume, e o chão vibra sob meus pés. Algo está acontecendo. Algo muito sério. Meus punhos cerram. Minha mente entra em alerta. A apreensão toma forma e se transforma em um turbilhão de adrenalina. Estão atrás de Kira. Só pode ser iss
SEDE DOS MÃOS DO DESTINO— Hoje, meus amigos, estamos aqui para celebrar o nosso sucesso. Finalmente conseguimos comprovar que a nossa Kira é a mesma registrada em 1782, a mesma de 1959, e agora, de 2001 — digo com orgulho. — Obtivemos, por fim, os registros do Dr. Solomov e seus experimentos em Aspen.— Senhor Hugo Hëinz, Kira é propriedade da BioCom. Como pretendemos trazê-la para cá e colocá-la sob nossa jurisdição? — questiona o Sr. Erich Stahl.— Não se preocupe com isso, Sr. Stahl — respondo com tranquilidade. — Estou cuidando disso pessoalmente. Vou designá-la como minha guarda pessoal e, em seguida, farei uma viagem para a "Europa". Durante essa viagem, vamos forjar um atentado. Ambos — eu e Kira — seremos dados como mortos.Faço uma breve pausa, deixando que a tensão se acumule no ar.— Ninguém, até agora, sabe das verdadeiras habilidades de Kira.O sorriso se alarga em meu rosto, alimentado pela antecipação do que está por vir. Seu verdadeiro potencial ainda está dormente, e
A cena que vi nos monitores ainda pulsa na minha mente como um pesadelo que não consigo acordar. Kira. Minha agente. Minha subordinada. A mulher em quem eu depositei mais confiança do que em qualquer outro nesse maldito inferno. Ela me enganou. E agora, tudo que sinto é um misto de fúria, incredulidade e nojo de mim mesmo por não ter percebido antes. Ela não é só rápida. Não é só forte. Eu vi o que ela fez com aqueles homens caídos. Vi o instante exato em que o toque dela se tornou algo diferente. Os apêndices saiam de seus ferimentos, aderindo aos corpos e iniciando o processo, as células dos corpos deles colapsando, sendo sugadas, como se os estivessem devorando vivos e os absorvendo. Se reconstituindo enquanto eles se desconstruiam. Isso não é treinamento. Não é biotecnologia de elite. É algo mais. Algo que beira o abismo entre o humano e o monstro. E ela escondeu isso de mim. Eu sou o chefe dela. O chefe dela, porra! Eu me arrisquei por ela. Apostei tudo na ideia dela, eu
Alessandro está me fazendo perguntas para as quais nem eu tenho respostas. Quem sou eu? Quem fui? Existe essa lacuna dentro de mim, um vazio silencioso e, sinceramente, às vezes sinto como se não importasse.Aurora disse algo que não sai da minha cabeça: ele só amou uma mulher em toda a vida. E ela fala com propriedade. Afinal, é a secretária pessoal dele, está ao lado dele em quase tudo — viagens, almoços, jantares, eventos da empresa, confraternizações. Eles conversam. Ela o conhece.Durante anos, segundo ela — e todos na BioCom comentam isso —, ele esteve em luto. Um luto profundo, constante. Isso me incomoda de uma forma que não sei explicar. Uma sensação amarga, um aperto no peito que mistura ciúmes, inveja e possessividade.Amanda. Esse é o nome que todos sussurram com reverência. Amanda o teve. Ele era dela. E, pelo que dizem, ainda é.E isso me fere de um jeito estranho. Como se algo em mim gritasse que isso não está certo. Que ele não deveria pertencer a ela.Mas agora estou
O cômodo era abafado, úmido, com paredes revestidas de concreto cru. Um único ponto de luz, direto no rosto do prisioneiro, criava sombras longas atrás de mim. O homem à minha frente estava amarrado, com os braços estendidos para trás e os pulsos inchados pelas amarras plásticas. Sangue escorria do nariz e da boca, misturado com saliva e suor. O cheiro no ambiente era metálico, ácido.Fiquei em silêncio. Observando.— Sabe eu realmente detesto esse tipo de abordagem — disse, finalmente, com voz baixa. — Mas vocês sempre escolhem o caminho mais longo. Sempre acham que vão aguentar.Peguei o alicate da mesa metálica. O clique do metal ao ser aberto fez o prisioneiro prender a respiração.— Eu perguntei antes. Várias vezes. Quem deu a ordem. Qual o objetivo com Aurora? O que pretendem fazer com Kira?O homem cuspiu no chão.— Vai pro inferno…Em silêncio, me agachei diante do prisioneiro, fixei meus olhos nos dele. O olhar era calmo. Clínico. Quase vazio. Então, sem eu dizer nada, segure
Hoje o dia começou estranho. Um silêncio denso pairava no ar, como se o mundo segurasse a respiração. Eu sabia — a conversa de ontem ao entardecer foi um divisor de águas. E agora, não havia mais como ignorar o que viria depois.Mas como contar para ele? Como dizer a Alessandro que eu carrego um parasita dentro de mim? Que eu infecto pessoas. Que posso alterá-las a nível molecular, que posso transformar corpos, apagar memórias, moldar consciências...Como dizer que eu talvez seja mais velha do que toda a civilização atual? Que posso ter vivido mil anos ou mais... e não lembrar de absolutamente nada? Nem da minha vida anterior, nem da atual.O que sinto por Alessandro não é simples. É intenso. Quase irracional. É uma obediência cega, algo que beira submissão. Quando olho para as outras pessoas, é como olhar vitrines de manequins: sem expressão, sem luz, sem cor. São peças no tabuleiro, ferramentas, alvos.Mas ele...Ele é cor. É movimento. É vida.Enquanto o mundo gira em preto e branc