CAPÍTULO 5

Seguindo com o meu dia, decidi finalizar todas as pendências que eu tinha, tanto de forma on-line quanto presencial. Organizei documentos, separei contratos e, por fim, continuei com meu objetivo de iniciar a negociação de compra do terreno. Agora já são 16h; espero que o tal Arthur não esteja ocupado.

Decido começar pelo básico: ligação.

Abro minha agenda na mesma página em que meu pai escreveu o contato do rapaz. Abro o teclado telefônico do meu celular e digito rapidamente. Coloco no viva-voz e aguardo alguém atender.

Tento ligar uma, duas, três vezes, mas não obtenho retorno.

— Vou tentar apenas mais uma vez. — Novamente, clico no botão verde de chamada. Três segundos depois, alguém atende.

— Alô?

Uma voz feminina?

— Alô? Perturba tanto e não vai falar nada? Olha só, você quase estragou um momento importante!

Momento importante? Ai, meu Deus.

— A-alô, boa tarde. Peço desculpas. Esse é o contato do Sr. Arthur?

— É sim — a mulher do outro lado da linha responde de modo desconfiado. — Quem é? Do que se trata?

— Peço desculpas novamente, mas preciso falar diretamente com o Sr. Arthur. Teria como passar para ele?

— Não. Ligue depois. Ele está muito ocupado no momento. — Escuto vozes ao fundo, mas não consigo identificar. — Ele não vai conseguir falar hoje. Tchau.

Tum, tum, tum...

Ela desliga a chamada.

— Droga, que secretária mal-educada.

Vou esperar até amanhã e ligar mais cedo. Realmente, esse horário é complicado. Curiosa que sou, decido pesquisar no G****e sobre a fazenda que meu pai está de olho.

Digito na barra de pesquisa: "Fazenda Guimarães".

Os resultados aparecem listados.

"Fazenda Guimarães encerra suas atividades agrônomas após tragédia."

"Fazenda Guimarães: relembre como aconteceu e o que causou o incêndio no ano de 2000."

— Espera... já aconteceu um incêndio ali?

"Fazenda Guimarães: o que aconteceu com o único sobrevivente da família?"

Decido clicar na última notícia.

JORNAL POP NOTÍCIAS

O dia 01/01/2000 foi marcado por uma grande tragédia na família Guimarães. No dia anterior, ocorreram as festividades de fim de ano. No dia seguinte, o fogo tudo consumiu. A família era composta por cinco pessoas: o pai, a mãe e três irmãos. Por um milagre divino ou grande sorte, um dos irmãos conseguiu sobreviver, sendo este hoje o único herdeiro, Arthur Guimarães.

Desde o terrível fato ocorrido, o mesmo passou a viver de forma discreta. Hoje, aos 36 anos, a única coisa que se sabe é que ele chegou a se casar, mas logo também se tornou viúvo. Depois disso, seu temperamento se tornou amargo. Daqui a poucos meses, a tragédia familiar completa vinte e cinco anos.

Em memória dos falecidos: Joaquim Guimarães, Roberta Guimarães, Pedro Guimarães e Vanessa Guimarães, desejamos nossos sinceros sentimentos aos que ainda sofrem.

Publicado em 13/10/2025, por Camila Gregório.

Respiro fundo. Que história triste. Perder toda a família em um incêndio e, anos depois, perder a esposa. Imagino como deve estar a cabeça desse homem.

Desligo o celular e arrumo tudo para ir para casa. Ainda tenho uma semana e seis dias. Vai dar certo.

[......]

*Dia seguinte*

Hoje amanheceu nublado novamente. Pela manhã, tive que enfrentar uma forte chuva para chegar à empresa. Não havia ido direto para lá, pois queria tomar um café quente na cafeteria da quadra ao lado. Sem guarda-chuva ou proteção, não tive escolha.

Cheguei ao prédio da empresa como se fosse uma sobrevivente do Titanic: gelada, molhada e tremendo de bater os dentes.

Fiquei um tempo na recepção, em cima de um tapete que a gentil recepcionista me ofereceu. Esperei que a água escorresse um pouco antes de subir.

— Vou só pegar minha bolsa e ir pra casa, desse jeito não dá pra ficar aqui — disse. O lugar todo tem ar-condicionado; com as roupas molhadas, eu ia virar o próprio Jack.

Rapidamente, enviei uma mensagem para o meu pai informando o imprevisto, mesmo sabendo que ele não irá visualizar. Ele só atende ligações.

Agora, já em casa e com vestimentas limpas e secas, seco meus cabelos com o secador. Eles parecem chamas revoltas refletidas no espelho.

Penteio, faço cachos com o babyliss e pego minha bolsa. Não passo maquiagem, não tenho mais tempo.

Meu dia não começou com sorte.

Saio do quarto e, antes de fechar a porta, escuto minha mãe cochichando, conversando com alguém ao telefone.

— No quarto de Milena? — sussurro e aproximo a orelha da porta. Logo escuto um barulho de coisas sendo reviradas.

— Não está aqui, Lena. Tem certeza de que você não levou? Estou dizendo, já procurei por todo lugar aqui dentro do seu quarto, não está aqui. Tem certeza? Mas como você perde seu anel de noivado e só se dá conta dias depois? Eu não sei, Lena. Vou continuar procurando. Quando eu achar, te ligo.

Afasto o ouvido da porta e desço as escadas de fininho. Milena perdeu o anel de noivado? Pelo futuro marido que escolheu, não duvido que esteja escutando xingamentos uma hora dessas.

Mimados.

Chego à empresa faltando poucos minutos para o meio-dia. Percebo que alguns funcionários já estão indo tirar o horário de almoço no refeitório. Chamo o elevador e espero ele chegar. Estou ansiosa, então fico batucando o pé direito no chão.

Quando ele chega e as portas se abrem, meu pai está lá dentro com um homem que suponho ter seus sessenta anos de idade. Papai acena para ele, aperta sua mão e o homem logo sai, me cedendo o lugar.

— Negócios? — penso. Não se mete, Olivia.

Me surpreendo quando ele me olha, abre um pequeno sorriso e diz:

— Negócios.

Algo está anormal hoje, posso sentir. Não sei se é a ansiedade. Meu dia começou mal e tenho me sentido melancólica. Deve ser coisa da minha cabeça.

— Filha, tenho um jantar de negócios mais tarde. Esteja presente — diz, olhando para o relógio, não mais para mim. — Não será em casa. Vista algo elegante, esteja apresentável.

— Conseguiu alguma resposta do Arthur?

Nego devagar.

— Vou ligar para ele novamente daqui a pouco. Ontem acabou ficando tarde, não consegui contato.

Ele levanta a cabeça e encontra meu olhar através do espelho do elevador. Faz um movimento para cima com o queixo e prossegue.

Para a minha surpresa, não comenta sobre o meu fracasso do dia anterior. Apenas diz:

— Não esquece da maquiagem de noite.

— Sim, pai.

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