Kairós
Os olhos de Esmel cravaram-se em mim, carregados de uma fúria infantil avassaladora. Naquele instante, o peso da arma em minha mão pareceu insuportável, e ela escorregou dos meus dedos, caindo no chão com um baque seco que ecoou no silêncio brutal da casa.
Senti meu corpo paralisar, o choque me atingindo como uma onda gelada. A cena diante de mim era um pesadelo palpável: Marcelo inerte, Esmel coberta de sangue, e o ódio puro e desconsolado emanando daquela pequena figura. Minha mente estava um turbilhão de emoções conflitantes – o alívio de ter evitado uma tragédia maior, a culpa por ter tirado uma vida, e, acima de tudo, a dor lancinante no olhar de Esmel. Não havia palavras, não havia reação possível que pudesse amenizar a devastação daquele momento. Eu estava petrificado, sem saber o que dizer ou como reagir diante da acusação silenciosa e dolorosa daquela criança.
— Você! Você matou o meu pai! Eu te odeio! Eu quero que você morra! — Esmel gritou, sua voz infantil rasgada p