《Selma》
A biblioteca estava mergulhada em penumbra, iluminada apenas por dois abajures de luz âmbar que lançavam reflexos suaves sobre as prateleiras repletas de livros antigos. O cheiro de madeira envelhecida misturava-se ao perfume enjoativo dos lírios, e o ar parecia denso, quase pesado. No centro, o caixão de Cárter ocupava o espaço como uma peça imponente, o verniz escuro brilhando sob a iluminação tímida.
Caminhei até ele com passos medidos, o salto afundando no tapete persa que abafava o som. Parei diante do corpo imóvel e, por um momento, apenas o encarei. O silêncio absoluto realçava cada batida do meu coração… e, no fundo, o riso que tentava escapar.
Limpei as lágrimas falsas que havia exibido para os outros minutos antes — um gesto tão ensaiado quanto todo o meu luto. Eu sempre fui uma atriz impecável; até aquela pirralha acreditou no meu teatro.
— Cárter, Cárter… — murmurei, inclinando-me levemente sobre o caixão, o sorriso curvando meus lábios. — Achou mesmo que i