Ravena
O solo sob minhas patas era quente, vivo, pulsante. Cada toque, cada impacto do meu corpo contra a terra, me fazia sentir parte dela. Era como se a floresta respirasse comigo, e eu com ela.
A noite nos envolvia em seu manto escuro como a promessa de um segredo. E eu corria.
Corria com a minha alcateia.
O vento cortava minhas orelhas, sibilando como uma canção esquecida. O cheiro de musgo, de seiva, de água fresca e terra molhada se entrelaçava ao perfume do sangue e da liberdade. Acima de nós, a lua cheia, enorme, redonda, um olho de prata atento, iluminava nosso caminho com uma luz primordial.
Meus sentidos estavam mais aguçados que nunca.
Eu sentia cada folha amassada sob as patas de meus irmãos, cada grão de pólen flutuando no ar, cada respiração contida de um cervo a centenas de metros. Os ramos se afastavam quando passávamos, e as pedras, mesmo traiçoeiras, nos respeitavam. A floresta nos conhecia agora. E nos aceitava.
A alcateia que eu formei não era feita