CyrusAtrás de nós a sombra translucida de Aero, rosnou em sinal de alerta. Algo se aproximava. Puxei Ravena para mim, ignorando sua pouca resistência, ela também estava em alerta de repente. Um cheiro pútrido cortou a névoa.— Não estamos sozinhos — Aero sussurrou, em sua forma espectral.A floresta começou a pulsar. Ao longe, urros de criaturas que não pertenciam à natureza ecoaram como prenúncio. O grito aterrador de criaturas sombrias. As Fúrias.Ravena se amparou em mim, ainda abalada, mas o instinto lupino falando mais alto. Nesse momento senti o vínculo entre nós selar mais uma camada invisível. Ela estava comigo, apesar de tudo. E isso nos fortalecia.— O que vamos fazer? — Perguntou ela.— Vamos destruí-los. – Respondi, sentindo minha aura se expandir, a medida que Aero e eu nos uníamos, nos preparando para a batalha. – Ravena, você precisa se abrigar no manto de Aero agora. Ela apenas acenou com a cabeça, enquanto Aero e eu a envolvíamos no manto poderoso de meu espectro. E
FrançoisOs relatórios dos Sombras não paravam de chegar, reforçando a força e a quantidade do inimigo que adentrou a barreira; o castelo estava em alerta máximo. Os Sombras Negras haviam relatado movimentações hostis nas bordas da barreira também. Através do espelho místico criado por Amon, da sala de guerra, Cyrus se comunicava com François— Vamos voltar. Precisamos de novas estratégias. As fúrias são infernais. E os lobos conseguem matar vampiros. — Os sombras afirmaram a mesma coisa. — François respondeu. Sua expressão estava dura, o cabelo preso na nuca, o uniforme negro preparado para qualquer batalha. — São aberrações. A magia profana está instável. Ao mesmo tempo que lutam contra nós, eles estão sendo consumidos pela escuridão. Foram alimentados com rituais antigos. As bruxas da Ordem estão por trás disso. E aquela Luna da Lua Negra. Eu disse a você que ela tinha um cheiro estranho. Ela é híbrida, bruxa e loba.— Ela não deve estar longe desse ataque. Acho que ela quer se vi
RavenaO cheiro de fumaça e sangue pairava pesado sobre Northshore, mesmo aqui, no templo antigo onde Cyrus me trouxera para me recuperar, antes de voltarmos ao castelo. A cada respiração, sentia o ar impregnado de morte e magia profana. Meus sentidos, antes embotados pela exaustão, estavam despertando de novo, como garras rompendo a carne frágil da minha antiga vida.Eu não era mais a mesma.Sentada na plataforma de pedra coberta de runas esquecidas, envolta na capa de veludo negro que Cyrus deixara sobre meus ombros, senti a vibração da floresta como uma batida de tambor distante. Algo se aproximava. Algo faminto.Fechei os olhos, tentando me concentrar. Dentro de mim, a força que havia despertado nas ruínas ainda palpitava, selvagem e descontrolada. Era como tentar conter o mar com as mãos.As portas do templo rangeram, e eu soube que era ele antes mesmo de abrir os olhos.Cyrus.Seu cheiro, sangue, madeira queimada e gelo, preencheu o ambiente antes que sua voz soasse.— Ravena.
A floresta se calou de repente.Um silêncio espesso, antinatural, caiu sobre nós como uma mortalha. Cyrus parou, as garras enormes envenenadas surgiram, emanando faíscas, o cabo de Palius surgiu nas sombras, os olhos varrendo a névoa adensada. Eu senti, no fundo do meu ser, que aquilo não era um simples ataque.Era algo muito pior.Uma presença faminta. Maléfica, perversa. E tristemente familiar.De dentro da bruma, surgiu Marcel.Ou o que restava dele.Seu corpo era uma caricatura do que já foi. Pele rasgada, veias pulsando com energia escura, os olhos negros como breu e as garras tão longas que arranhavam a terra a cada passo. Uma fumaça pútrida se desprendia de sua carne corrompida. A magia profana fervia ao redor dele como um halo maligno.Um rugido explodiu de sua garganta.Eu não hesitei nem por um segundo. Toda a dor e a revolta voltaram com força total. Meu coração ardia nas chamas da vingança.Laha tomou meu corpo em um fluxo devastador, meus ossos estalando, minha carne se r
O som dos gritos rasgava a floresta como facas afiadas. Cyrus lutava.Eu sentia seu poder explodindo na linha da cachoeira, sua fúria uma estrela negra queimando no horizonte da minha mente. Mas aqui dentro, na caverna sombria atrás da queda d’água, o horror tinha um nome: Marcel.Seus olhos, eram agora duas crateras negras, repletas de ódio e desejo de destruição. Ele me arrastou pelo chão úmido da caverna, sua respiração arfando feito um animal enlouquecido.— Você é minha! Minha vadia! A puta escrava que eu moldei para o meu prazer! — rosnava, enquanto suas mãos sujas de sangue tentavam me subjugar, tocando meu corpo. — Minha companheira! Você me traiu! Você trepou com aquele vampiro desgraçado! Sinto o fedor dele impregnado em você!O tap@ violento cortou meu rosto, mas nem tive tempo de registrar, porque logo em seguida ele abriu as minhas pernas com brutalidade.- Eu vou te ensinar a respeitar o seu macho, sua puta!Tentei me soltar, mas meu corpo estava fraco. A drenagem dos me
A primeira coisa que senti foi o perfume do incenso de âmbar queimando devagar, misturado ao cheiro amadeirado das paredes de pedra do castelo. A segunda foi o calor. Não o calor ardente da batalha, mas um calor reconfortante, acolhedor. Estava coberta com lençóis espessos de linho negro, e o som distante de uma lareira crepitando preenchia o silêncio ao redor.Meus músculos doíam. Como se eu tivesse lutado contra um exército. E, na verdade, eu lutei. Porque Marcel era um dos meus piores inimigos.Abri os olhos lentamente. Estava deitada no quarto real, reconheci a cama de Cyrus sob meu corpo. O teto abobadado, os candelabros suspensos com cristais escarlates, os cortinados grossos que impediam qualquer luz externa. Um dos painéis de vidro estava entreaberto, e a brisa da noite trazia o cheiro da floresta, e de fogo com sangue.Virei o rosto e encontrei Cyrus sentado ao meu lado, elegantemente, observando-me com um olhar que misturava alívio, fascínio e preocupação.— Você acordou — d
CelesteMarcel jazia nas garras da Fúria como uma oferenda falida. O corpo quase sem vida dele pendia, lânguido, coberto de cortes profundos e rasgos fumegantes. Sua carne exalava magia corrompida, queimada como carvão vil. Partes de seus membros estavam faltando. E mesmo assim, ao vê-lo naquele estado deplorável, algo em mim quebrou. Gritei.Um uivo de fúria, dor e desespero rasgou meu peito enquanto eu corria pela entrada da caverna. Os olhos da Fúria brilhavam em vermelho opaco. Ela havia feito o que eu ordenei, trazer meu lobo de volta. Mas não assim. Não despedaçado. Não a sombra de um cadáver.— Não! — caí de joelhos ao lado dele, o sangue quente manchando meus dedos. — Não era para terminar assim! Ele é meu! MEU!Minha voz ecoou nas profundezas da caverna onde os pergaminhos dançavam ao vento maldito, as velas tremulavam com chamas verdes e o caldeirão de ossos fervia com murmúrios do além. Foi ali que Cadmus surgiu das sombras, arrastando sua longa túnica como se a própria mo
Empregada Antes do dia clarear eu já estava na casa da alcatéia. Precisava ajudar a preparar o café da manhã de todos, e hoje eu sabia que as coisas seriam ainda mais difíceis, por causa dos convidados. A cozinheira gritava com todos, a cozinha estava quente e cheia de fumaça. Alguém tinha queimado alguma coisa. Encarregada de preparar o bacon e os ovos, eu me concentrei no que fazia ignorando todos, como eles faziam comigo. - Ei, você, escrava. – gritou a cozinheira. – Largue isso. O Alfa te convocou ao salão de jogos. Um arrepio sinistro percorreu minha espinha. Da última vez que estive naquele lugar, Alexander quase não me deixou sair viva. Ele me amarrou nua de cabeça para baixo, e rebateu bolas de beisebol contra o meu corpo, como se isso não bastasse, o alfa chamou Marcel e ordenou que ele me desse uma surra por não ser uma boa diversão. Caminhei na direção da sala de jogos tremendo, eu ainda estava muito machucada do dia anterior. Talvez esse fosse meu fim. Bati e es