Capítulo Dois- Elisa Brandão

— Quais serão os próximos passos, Dr. Matos? — Pergunto desejando pela milésima vez naquele dia acordar desse pesadelo que parece nunca ter fim.

— Desde o início deixei claro que os principais tratamentos para o caso da Elena, seriam a quimioterapia e o transplante de medula óssea. Como a quimioterapia não funcionou… — Noto no semblante do médico entretecimento por te que me dar essa notícia novamente. — agora tentaremos o transplante de medula óssea, apesar de ser extremamente difícil encontrar um doador compatível, essas são as melhores possibilidades de cura para Elena.

Sacudo a cabeça confirmando que entendi apesar desta não ser a primeira vez que conversamos sobre o assunto. Já perdi as contas de quantas vezes conversamos sobre a doença e tratamento da minha filha, fora as horas intermináveis de pesquisa.

Levanto minha cabeça e fecho os olhos e respirando profundamente para evitar que as lágrimas que já estão se acumulando em meus olhos sejam derramadas.

Estou exausta esses últimos meses têm sido extremamente desgastante. Estou tentando ser forte por Elena, mas a cada dia que se passa, parece que fica mais difícil não fraquejar.

Ela foi a minha força quando precisei. Foi o meu apoio e minha luz. Agora mais do que nunca ela precisa de mim, e eu nunca me senti tão incapaz de ser sua mãe, como agora no momento em que tudo que eu mais gostaria no mundo era trocar de lugar com a minha menininha.

— Sugiro que você entre em contato o mais rápido possível com todos os parentes, tanto do lado paterno quanto materno, para serem feitos testes de compatibilidade.

— Sou pai e mãe da Elisa, Doutor.

— Entendo, mas se restar algum parente mesmo que distante precisará ser testado. Isso irá aumentar as probabilidades de compatibilidade.

Quero dizer que minha filha não precisa de nada e nem ninguém além de mim, mas preciso engolir o meu orgulho e ficar calada porque sei que se for para que minha filha fique bem vou me arrastar e me humilhar diante dos Albertelli.

O dia em que eu descobri estar grávida foi o dia mais feliz e mais doloroso de toda minha vida. Feliz pela descoberta de estar gerando uma vida dentro de mim e doloroso por ser também o dia em que fui humilhada pelo homem que jurei ser amor da minha vida. Ele me acusou e culpou-me por um crime que não cometi; o de traição. Como um juiz cruel, ele condenou o nosso amor à morte.

Sabia que os Albertelli eram uma família muito rica, o Conglomerado Albertelli é dono de várias empresas, uma delas é a empresa de cosméticos LaBella, a marca de cosméticos é mundialmente conhecida, seus produtos são usados por uma boa parcela da população mundial. O Conglomerado é responsável por colocar o nome da família no top 10 das mais ricas do país. Foi ingenuidade minha acreditar que eu iria me envolver com um deles e não sair com o coração partido.

Na época em que conheci Mateus Albertelli, eu trabalhava na limpeza do escritório central do Conglomerado. Era assim que pagava a minha faculdade de administração, como a boa filha que sempre foi, tinha um sonho de proporcionar uma vida melhor para minha mãe que desde sempre foi a única responsável por minha criação.

No instante em que os meus olhos cruzaram com os seus, eu sabia que estava perdida.

Não foi amor à primeira vista. Matheus estava apenas interessado em me ter em sua cama. Todos naquela empresa sabiam que o herdeiro não resistia a um rabo de saia e eu não queria fazer parte de sua lista de conquistas.

Devo confessar que foi muito difícil resistir ao seu charme. Sempre deixei claro que não fazia parte dos meus planos ter um envolvimento fugaz com um dos meus chefes.

Até que ele mudou de tática, fez de tudo para me conquistar e me convencer a ser sua namorada. O meu coração bobo não resistiu por muito mais tempo e cedeu as suas investidas.

Para surpresa de ninguém, seus pais dele não ficaram nada satisfeitos com o nosso namoro, mas aparentemente decidiram não intervir, digo aparentemente, porque não tenho dúvidas de onde aquelas fotos montagens surgiram.

Após meses de relacionamento eu esperava no mínimo que o Mateus tivesse uma mínima dúvida sobre a veracidade daquelas imagens, mas aparentemente, não foi isso que aconteceu. Ele não me deu chance de defesa.

Em nossa última conversa além de me xingar e humilhar, deixou claro que não queria nunca mais me ver. Acatei a sua decisão, e com ela omiti a existência da Elena.

Não me arrependo de ter me tornado mãe, solo. Mesmo diante de todas as dificuldades que tive de enfrentar para estudar, trabalhar e ainda ter que cuidar de uma criança. Ver um sorriso no rosto da minha filha compensou tudo.

Antes mesmo de me formar, um dos meus professores, conseguiu um estágio para mim no LeBlanc Hotel Palace. Onde hoje eu sou gerente geral, foi difícil conquistar essa vaga, mas valeu a pena ter começado de baixo. Hoje consigo proporcionar para minha mãe e filha a vida que eu tanto desejava, graças a esse emprego que eu consigo pagar o plano de saúde responsável pelo tratamento da minha filha.

Quando Elena recebeu o diagnóstico de leucemia, a sensação que tive foi de que o chão estava abrindo-se embaixo dos meus pés. De repente, como num passe de mágica, a menina serelepe e cheia de energia, que corria alegremente pela casa, já não existia. Sempre muito cansada e com dor, minha menina já não era mais a mesma. Arrependi-me de todos os momentos em que desejei que ela ficasse quieta.

Foi muito doloroso ver o seu corpinho pequeno submetido a um tratamento tão agressivo como quimioterapia. Vê-la ficar cada dia mais frágil também me afetou. A imagem que enxergo hoje no espelho reflete uma mulher que aparenta ter bem mais do que os meus vinte e oito anos. Alguns quilos mais magra, olheiras profundas e semblante sempre preocupado, este é o retrato perfeito de uma mulher que carrega um mundo nas costas e tem feito de tudo nos últimos meses para não quebrar em milhares de pedacinhos.

Após me despedir do médico sigo em direção do quarto da minha pequena, encontro-a dormindo, seu corpinho está mais magro e pálido. Seus lindos cabelos longos e loiros, como os meus, deram lugar a uma pequena penugem.

— Como foi a conversa com o médico? — Minha mãe me pergunta assim que apareço no quarto.

— O tratamento não funcionou. — Respondo finalmente permitido as lágrimas que estavam represadas em meus olhos caíam.

— Ah, meu Deus! — Minha mãe responde com os olhos arregalados e com uma mão sobre a boca.

— Agora a solução será o transplante de medula óssea, você precisará fazer um teste para ver se é compatível.

— Ainda há esperanças minha filha, não perca a fé, dará tudo certo!

— Tem que dar certo, eu não posso perder a minha filha.

— Dará filha. Às vezes tudo o que precisamos é ter um pouco mais de fé.

— A minha filha será curada, nem que para isso eu tenha que me humilhar e procurar o Matheus. — Decido.

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