A semana corria com uma tranquilidade enganosa, daquelas que precedem reviravoltas sutis, quase imperceptíveis, mas que mudam tudo com o tempo.Era uma manhã clara, e Lilly preparava a última fornada de cookies quando recebeu uma mensagem no celular. Limpou as mãos no avental e desbloqueou a tela, curiosa.Gabriel:Bom dia, Lilly. Aqueles brownies ficaram incríveis. Será que posso encomendar mais pra esse fim de semana? E, se não for muito ousado… posso te convidar pra um café também?O coração dela deu um leve salto. Seus olhos ficaram fixos na tela por um segundo a mais do que o necessário. Gabriel tinha sido gentil, educado, simpático… e agora dava um passo direto, mas respeitoso. Lilly mordeu o lábio inferior, surpresa.— Olha só… — murmurou, meio sorrindo.Mais tarde, já com Emily na escola e os doces do dia prontos para entrega, Lilly conversava com dona Madalena, que costurava uma barra de cortina sentada perto da porta da cozinha.— Sabe aquele rapaz que veio buscar os brownie
A manhã estava ensolarada, mas havia uma névoa sutil no ar que parecia refletir o clima entre Lilly e James. Desde o jantar da noite anterior, ela sentia o olhar dele pesar mais do que o normal — como se a presença de Gabriel, mesmo ausente, tivesse se instalado entre eles como uma sombra indesejada.Lilly tentava se distrair. Passava a massa dos pães de mel com mais força do que o necessário, enquanto Marlene embalava os últimos pedidos da manhã.Seu celular vibrou. Era Gabriel.“Oi, Lilly! Consegui uma reserva pra aquele café que te falei, sábado à tarde. Vai ser ótimo te ver de novo :)”Ela
O pôr do sol pintava o céu com tons dourados e rosados quando Lilly terminou de se arrumar. Ela se olhou no espelho com um misto de ansiedade e insegurança. O vestido leve, em um tom suave de azul, caía perfeitamente sobre seu corpo, marcando a cintura e realçando sua silhueta de maneira delicada. Simples, mas bonito. Como ela queria se sentir: especial, sem exageros.Ouviu a campainha tocar e seu coração acelerou.— Eu atendo! — chamou Marlene, animada, já correndo para a porta.Do alto da escada, Lilly ajeitou uma mecha solta de cabelo atrás da orelha e respirou fundo antes de descer.James estava no escritório, mas ao ouvir a movimentação, não conseguiu se conter. Deixou os papéis de lado e foi até o corredor, parando discretamente, à meia sombra. Daquele ângulo, conseguia vê-la.E por um momento, esqueceu como respirar.Ela estava… deslumbrante.Não era apenas o vestido, ou o sorriso nervoso que ela tentava esconder. Era algo na maneira como caminhava, na luz que carregava sem nem
Lilly Harper estava acostumada a se virar sozinha. Desde que deixou a pequena cidade onde cresceu para estudar Pedagogia em São Paulo, aprendeu rapidamente que a vida na capital exigia mais do que apenas determinação – exigia sacrifícios.Aos vinte e cinco anos, morava sozinha em um apartamento modesto, com paredes finas demais e um aluguel que consumia quase tudo o que ganhava no café onde trabalhava meio período. O espaço era pequeno, mas era dela, e isso significava liberdade. Liberdade para construir seu próprio caminho, ainda que com dificuldades.Era magra, de estatura mediana, com longos cabelos castanhos que quase sempre usava presos em um coque desajeitado. Os olhos verdes eram vivos, cheios de sonhos que pareciam cada vez mais distantes conforme a realidade a empurrava para preocupações mais imediatas – como pagar a mensalidade atrasada da faculdade ou decidir entre jantar e economizar para o transporte.O trabalho no café era exaustivo. O turno começava cedo, e ela passava
James Carter não gostava de imprevistos. Sua vida era regida pela rotina, planejada nos mínimos detalhes para garantir que cada minuto fosse produtivo. Ele não era apenas um empresário de sucesso – era o CEO de uma das maiores empresas farmacêuticas do país, a Carter Pharmaceuticals, uma potência no setor de pesquisa e desenvolvimento de medicamentos.Seus dias começavam cedo, antes mesmo do sol nascer. Após uma hora de treino intenso em sua academia particular, onde alternava entre musculação e corrida, tomava um banho frio e vestia um de seus ternos impecáveis. Cada peça era feita sob medida, sem rugas, sem falhas – assim como ele preferia manter sua vida.O café da manhã era sempre o mesmo: café preto sem açúcar e uma omelete leve, enquanto lia relatórios financeiros e respondia e-mails. Tudo em sua rotina era otimizado para eficiência.Às sete em ponto, o motorista já o esperava do lado de fora da mansão. Durante o trajeto até a sede da Carter Pharmaceuticals, localizada em um dos
Lilly respirou fundo antes de entrar no escritório. O ambiente era tão impecável quanto esperava: amplo, sofisticado, com móveis de madeira escura e uma grande janela panorâmica que exibia a vista da cidade. Mas o que realmente chamava sua atenção era o homem sentado atrás da mesa. James Carter. Ele vestia um terno escuro, sem um único amassado, e observava-a com olhos atentos, avaliando-a sem pressa. — Senhorita Harper. — Sua voz era firme, autoritária. — Sente-se. Ela obedeceu, mantendo a postura ereta. — Você tem experiência como babá? — James perguntou sem rodeios, entrelaçando os dedos sobre a mesa. — Tenho experiência com crianças. Já trabalhei como voluntária em creches e dou aulas particulares para ajudar a pagar minha faculdade de Pedagogia. Ele ergueu levemente a sobrancelha, como se analisasse a resposta. — Mas nunca trabalhou como babá. — Nunca formalmente, mas cuidei de primos mais novos e filhos de amigos da família. James assentiu devagar. — Minha
Lilly respirou fundo antes de sair do táxi. O portão imponente da mansão Carter se erguia à sua frente, e ela sentiu um misto de ansiedade e empolgação. Era sua primeira manhã oficialmente trabalhando para James Carter e cuidando da pequena Emily. O emprego era um grande passo para sua estabilidade financeira, mas também algo totalmente novo em sua vida.Enquanto puxava sua mala em direção à entrada, a porta da casa se abriu. James saía apressado, ajustando o relógio de pulso, com a expressão séria de sempre. Ele vestia um terno impecável e segurava uma pasta de couro em uma das mãos. Ao notar Lilly, parou por um instante.— Você chegou cedo. — Sua voz era firme, sem traço de emoção.— Achei melhor não me atrasar no primeiro dia. — Ela sorriu, tentando amenizar a tensão natural que sempre sentia perto dele.James apenas assentiu, lançando um olhar breve para sua mala antes de olhar para o relógio novamente.— A governanta vai te mostrar tudo. Preciso sair agora. — Ele se virou em dire
Lilly ajudou Emily a entrar no banheiro e a menina começou a falar sem parar sobre a escola, os amigos e as atividades que gostava de fazer. Enquanto lavava o cabelo de Emily com cuidado, Lilly ria das histórias exageradas que a garotinha contava.— E então, a professora disse que meu desenho era o mais bonito! — Emily disse, orgulhosa.— Aposto que sim! Você parece ser muito talentosa. — Lilly sorriu, enxaguando os fios castanhos da menina.Depois do banho, Lilly ajudou Emily a se vestir, escolhendo um vestido azul claro e um casaquinho combinando. A menina parecia animada por ter alguém ali para ajudá-la, e Lilly percebeu o quanto Emily sentia falta de uma presença mais próxima no dia a dia.Quando desceram as escadas, a governanta já as esperava na porta.— O motorista já está pronto para levá-las. — informou, entregando a mochila de Emily para Lilly.— Motorista? — Lilly franziu o cenho.— Sim, o senhor Carter deixou um carro à sua disposição para que possa levar e buscar Emily qu