Ellie
Passei pela porta da frente carregando duas sacolas plásticas. O barulho delas ecoou alto demais na quietude sufocante daquele lugar. Um cheiro rançoso de álcool envelhecido e comida estragada me deu boas-vindas como sempre. Coloquei as sacolas em cima da mesa da cozinha, sem me importar se alguma delas escorria gordura ou se estava furada. A fome que eu sentia já não era mais física.
Me virei lentamente, os olhos já encontrando o mesmo cenário de sempre: ela, afundada na poltrona da bebedeira, com os cabelos desgrenhados, o rosto inchado e a alma ausente. Aquela cadeira devia carregar mais memórias do que eu.
— Você demorou — resmungou, a voz arrastada pela ressaca, soando mais como uma acusação do que como um comentário.
Fiquei surpresa por não ver uma garrafa na mão dela. Talvez porque já estivesse vazia e caída no chão, ou talvez, só talvez, porque até o álcool estivesse cansado dela. Suspirei, sentindo a raiva queimando baixa no meu peito. Mas não era mais um incêndio, era