Noah
Olhei para o convite em minhas mãos. O hotel irá fazer um baile de máscaras na noite de natal, homens de preto e mulheres devermelho. Uma máscara preta foi deixada com meu convite. Eu poderia ir para outras festas mais interessantes, mas a vantagem desse baile é que não vou precisar lidar com o trânsito e, quando estiver entediado, posso voltar para o meu quarto. Meu celular toca e eu olho na tela; a palavra "Mãe" parece saltar para fora. Era a décima ligação do dia. Ela quer me convencer a ficar com meu avô, para que eu "puxe um pouco o saco do velho".
— Oi, mãe! — Atendi, decidindo que seria a última vez essa noite que deixaria ela me perturbar.
— Onde está? — Ela pergunta.
— No quarto de hotel, não pretendo sair hoje. — Mentir não tem por que, não devo satisfação a ela.
— Noah, você está abrindo espaço para aquele bastardo se aproximar do seu avô. — Ela fala irritada.
— Meu avô me expulsou da mansão, mãe, o que quer que eu faça? — Minha mãe me fez morar com meu avô, me fez "puxar o saco" dele, mas nunca consegui ser o neto favorito.
— O bastardo vai conseguir a cadeira que, por direito, é sua, Noah, não vê isso? — Puxei o ar. Nicholas sendo o CEO da empresa, isso é algo difícil de engolir, admito.
— Isso só vamos resolver depois que meu avô morrer, mamãe, e sabemos que o velho está longe disso. — A verdade é que não gosto de pensar nisso, então afastei meus pensamentos.
— O bastardo deve estar agora lá, lambendo as botas do seu avô. Eu falo que vai perder a sua herança se não ficar esperto. — Puxei o ar.
— Tchau, mãe, não me ligue mais. Amanhã dou uma passada na mansão para ver como o velho está, mas duvido muito que ele sinta minha falta. — Desliguei o telefone antes que ela dissesse algo.
Me vesti e desci para o baile. Até que está animado, a música toca ao fundo e as pessoas dançam. A máscara tira a inibição das pessoas e me traz o conforto de não ter olhares voltados para mim. Desde que fui expulso da mansão Carter, sou alvo de comentários, o que irrita cada vez mais meu avô conservador.
Caminhei até o bar. Algumas garotas conversam e percebo que estão tentando adivinhar quem são os homens de máscara. Elas me olham e sorriem. Peguei um copo de uísque e olhei pelo salão. Uma garota que parecia estar perdida chamou minha atenção. Seus cabelos negros e estão caindo feito cascata. O vestido vermelho parecia um pouco maior do que ela, mas, ao mesmo tempo, se tornava encantador.
— Boa noite! — Falei quando a alcancei. Ela me olhou assustada, com certeza não deveria estar aqui.
— Boa noite! — Ela falou, abrindo um sorriso que fez meu coração disparar.
— Se perdeu dos seus amigos? — Perguntei, ela obviamente estava sozinha.
— Estou sozinha essa noite. — Ela falou, um pouco triste.
— Eu também, podemos fazer companhia um para o outro, o que acha? — Ela pareceu pensar sobre isso.
— Também não tem amigos? — Ela perguntou, de maneira tímida, o que me encantou. Não costumo sair com garotas tímidas, essas garotas na verdade não são meu tipo, mas há algo nela, algo diferente.
— Tenho muitos, mas meus amigos só me metem em problemas, e preciso ficar longe de problemas por um tempo. — Falei a verdade, ela sorriu.
— Bem, posso ser sua amiga hoje. — Balancei a cabeça.
— E como é o nome da minha nova amiga? — Ela sorriu. Seus olhos eram de um verde profundo e seus lábios, um batom vermelho que parecia não combinar com ela. Não sei explicar por que tenho essa certeza.
— Não direi, eu não deveria estar aqui. — Ela falou, olhando para os lados como se estivesse tendo certeza de que ninguém nos observava.
— Que misteriosa a minha nova amiga é. — Ela baixou o olhar e depois sorriu, como se lembrasse de algo.
— Hoje eu posso ser o quem eu quiser. — Ela colocou a mão na máscara prateada. — Só por hoje.
E isso me fez ter certeza de que ela não deveria estar aqui.
— Quer me deixar curioso, não é? — Ela piscou para mim.
— Um pouco de mistério, Sr. Carter, não te fará mal. — Então, sabe quem eu sou.
— Vejo que eu não consigo fazer o mesmo mistério. — Ela sorriu.
— Seus lindos olhos te entregam. — Dei de ombros.
— Está me intrigando, senhorita misteriosa, por acaso nos conhecemos? — Ela balançou a cabeça.
— Eu o conheço, mas o senhor não me conhece. — Percebi que estava muito próximo dela e olhei para meu copo de uísque.
— Me acompanha em um drink no terraço? — Ela balançou a cabeça.
— Gosta de levar as suas garotas para o terraço, não é? — Avaliei, não me lembro dela, mas a máscara impede que eu reconheça seu rosto de qualquer forma. Olhei para o colar de diamante que ela usava no pescoço. Ela deve ser filha de algum magnata.
— Não sabia que me pertencia. — A puxei para mim de maneira rápida.
— Sr. Carter, estão nos olhando. — Ela sussurrou.
— Como se chama? — Ela balançou a cabeça em negativa. Eu me afastei dela.
— Estarei no terraço com uma garrafa de champanhe. — A deixei ali e fui ao bar pedir uma garrafa e duas taças. Quando me virei, ela havia sumido. Decidi fazer o que prometi e seguir para o terraço. É um dos meus lugares favoritos daqui, onde o barulho do hotel não chega, mas não sabia que minhas idas lá estavam sendo observadas ou comentadas pelos hóspedes.
Assim que abri a porta, eu a vi, linda, banhada pela luz da lua. A minha dama misteriosa me esperava. Ela sorriu para mim.
— Decidi vir na frente. — Me aproximei, entregando a taça para ela.
— Gosto das atrevidas. — Percebi que ela revirou os olhos.
— Noah Carter é o solteirão da década.
— Então leu a revista? — Quando completei 30 anos, me tornei "elegível" para o casamento. O jovem herdeiro Carter precisa se casar, e desde então tenho sido alvo das desesperadas.
— Um partidão. Tem linhagem aristocrática e gosta de garotas loiras. — Ela riu. — É o príncipe da era moderna, Noah.
— Então veio aqui com a intenção de me seduzir e se tornar a senhora Carter? — Ela balançou a cabeça.
— Não me casaria com você. — E dessa vez, senti que ela estava sendo verdadeira.
— E por que não? Talvez eu queira me casar. — Ela balançou os ombros.
— Não comigo. — Talvez eu a conheça, deve ser uma das filhas de algum magnata rico hospedado no hotel, mas o vestido, ainda folgado em seu corpo, me faz pensar que ela não estava preparada para esse baile. Pode ter chegado em cima da hora.
— Como se chama? — Ela sorriu e mexeu sua taça.
— Não vai abrir? — Ela falou. Olhei para a garrafa ainda em minhas mãos. Essa garota me faz perder a noção do tempo.
Abri a garrafa e a servi.
— O que quer para tirar essa máscara? — Perguntei para ela, que agora tomava a champanhe e parecia mais relaxada.
— Não quer saber quem sou, Noah. — Ela olhou para a lua, e tudo que eu queria naquele momento era beijá-la.
— É o que eu mais quero. — Falei, me sentando ao seu lado. — Por que manter esse mistério? Sabe que até o fim da noite eu irei beijá-la.
— Quem disse que quero beijá-lo? — Sorri e peguei o celular na mão para ver quantos minutos faltavam para meia-noite. Faltavam exatamente cinco minutos. Virei o celular para ela.
— Falta pouco, iremos ter que esperar para ver. — E antes que eu conseguisse guardar o celular, o nome "Allen" apareceu na tela e senti meu coração disparar. Por um momento, senti vontade de desligar, talvez não fosse nada, mas e se fosse?
— Alô, me diga que o velho sentiu minha falta e quer ouvir minha voz. — Houve um silêncio.
— Sr. Carter, seu avô está no hospital. Ele teve um infarto. — Senti como se alguém tivesse socado meu estômago. Aquele velho não pode morrer.
— Estou indo. Me mande o endereço. — Falei, desligando o celular. Olhei para a garota, que estava assustada.
— Meu avô está no hospital. Fico te devendo um beijo. — Não esperei por sua resposta. A verdade é que a única coisa que eu queria naquele momento era a certeza de que meu avô estava bem. Aquele velho não pode morrer, não enquanto está brigando comigo. Mas, do jeito que é ranzinza, ele fará isso só para me deixar culpado pelo resto da vida.
Parei um táxi e pedi que fosse para o hospital. Aqueles minutos até a chegada pareceram uma eternidade. Finalmente, cheguei. Uma parte minha temia entrar. A verdade é que, apesar de meu avô ser a pessoa mais irritante do mundo, não estou pronto para perdê-lo. Fiquei ali, na porta do hospital, até que Edward, o CEO da empresa, se aproximou de mim.
— Tudo bem, Noah? — Ele perguntou.
— Como o velho está? — Esperei pelo golpe, mas ele sorriu.
— Bem, ele está se recuperando. — E toda a tensão no meu corpo se desfez.
— Ele gosta de um drama, né?
— Vamos entrar, seu avô está sendo levado para o quarto. — Olhei para Allen, o mordomo e fiel amigo do meu avô.
— O que aconteceu? — Ele me olhou, balançando a cabeça.
— Ele tem se recusado a tomar os remédios. Está terrível, falando que os netos não se importam mais com ele. — Eu ri. Ele que me expulsou da mansão e eu sou o neto desnaturado.
— Quando vou poder vê-lo? — Ele deu de ombros.
— Estão levando para o quarto, pediram para aguardar. — Respirei fundo. Quero vê-lo, ter certeza de que ele está bem. Não demorou muito para Nicholas chegar. Seus olhos assustados, com medo. Apesar de não nos darmos bem, eu sei o quanto meu avô é importante para ele. Pensei em dizer algo para ele, mas não tinha o que dizer. Apenas balbuciei um "o velho".
Allen nos encarou. Ele acha que somos dois idiotas, e não posso negar tal fato. Esperamos impacientes a liberação para podermos ver o velho. E assim que liberaram, eu e Nicholas corremos para entrar no quarto.
— Vovô! — Nicholas se apressou a falar, sempre tentando ser o centro das atenções. — Como está se sentindo?
— O senhor me assustou. O que estava pensando quando decidiu parar com seus remédios? — Questionei, mal-humorado. Meu avô apenas levantou a mão para ignorar meus sermões.
— É tão bom ver meus dois netos juntos de novo! — Ele segurou nossas mãos, unindo-as. — Era assim que eu desejava vê-los antes de morrer, unidos como irmãos, tomando conta da empresa, continuando o meu legado.
— O senhor não vai morrer, vovô. Não diga uma coisa dessas. — Nicholas falou, apenas concordando com a cabeça. — Nunca conheci pessoas mais fortes que você. Não vai morrer nem tão cedo. E pare de se preocupar com a empresa, ela está em boas mãos.
Nosso avô bufou, irritado. O sonho dele é ver eu e Nicholas trabalhando juntos na empresa.
— Vocês é que estão me matando. Estão acabando comigo e nem percebem! — Ele falou irritado, fazendo os aparelhos enlouquecerem. — Por que não podem sossegar, formar uma família e seguir os negócios da família em paz? É isso o que eu preciso, ver que vocês estão encaminhados na vida, se tornando alguém e não que são apenas dois ricos mulherengos como o pai de vocês.
— Vovô, deveria se acalmar ou os médicos vão voltar aqui. — Falei, olhando para os aparelhos. — Podemos falar disso uma outra hora, quando estiver se sentindo melhor.
— Não vou me sentir melhor, não enquanto não colocá-los no caminho certo! — O caminho certo para o velho conservador é me levar para o altar.
— O senhor fez o bastante, agora nos deixe cuidar de você. Que tal começarmos a nos tornar os homens que quer, assim? — Nicholas falou. Revirei os olhos. Meu avô deu um tapa na mão dele.
A questão é que meu avô está com o drama pronto. Ele é um ótimo manipulador e, sabendo que eu e Nicholas queremos agradá-lo, ele irá usar isso.
— Isso vai acabar esse ano, não vou deixar que se tornem uma cópia do pai de vocês! — Nunca seria como meu pai, nunca desonraria a minha palavra como ele fez, nunca magoaria uma mulher como ele magoou minha mãe. — Eu o criei errado e deixei que agisse como queria toda a sua vida, mas não vou cometer o mesmo erro com vocês.
— O que quer dizer com isso, vovô? — Nicholas perguntou.
— Não queria ter de fazer isso, mas vejo que é a única solução. Vocês terão até o Natal do próximo ano para casar e me apresentar a noiva! — O velho enlouqueceu, provavelmente são os efeitos do medicamento.
— O quê? Vovô, não pode fazer isso, apenas por suas fantasias, enquanto nós não queremos nenhum casamento ou formar família. — Nicholas ainda tenta argumentar.
— Sim, não pode forçar as pessoas a se casarem e muito menos dar um ultimato com uma data final, vovô. — Tentei trazer a sanidade de volta ao velho.
— Queria que fossem assim sempre, como irmãos que se apoiam, mas o único momento em que conseguem fazer isso é para irem contra mim! — Ele falou irritado. — Não querem se casar e ter uma família? Ótimo, então não deixarei a empresa para nenhum de vocês. Querem a cadeira de CEO? Mostrem que merecem! O primeiro a se casar assume o posto!
Então o velho decidiu usar as armas que tem. A verdade é que, por direito, a cadeira é minha. Passei a vida me preparando para isso. Minha mãe não aceitaria nada menos do que seu filho no posto.
Dei de ombros. Provavelmente o velho irá esquecer dessa insanidade. Deve ser só os efeitos dos remédios.