Capítulo 5 °

Quando chego ao final da ponte, vejo que tem uma caverna. Não olho para trás, apenas continuo correndo, entrando no local escuro mesmo sem saber para onde me levará.

Algumas folhas batem em mim, elas cobrem o caminho e parecem estar penduradas no teto. Vejo um paredão à frente, muitas folhas, mas só pode ser a saída. Fecho os olhos e corro em direção, espero o impacto, mas ele não vem, apenas consigo sair do outro lado e preciso frear meus pés para não cair.

Olho para trás, qualquer um que passasse por aqui, não saberia desse lugar, pois é imperceptível. Uma montanha enorme, com folhas penduradas em toda a sua extensão. Ele parece ter pensado em tudo.

Me dou conta de que estou fugindo e começo a correr em direção às muitas árvores à frente. Não sei para onde vou, só sei que chegarei em algum lugar. Se eu tiver sorte, encontrarei alguém que possa me ajudar.

Paro de correr quando escuto uma risada bem alta. Olho ao redor, mas não vejo ninguém. O mais estranho foi que ouvi ela dentro da minha cabeça. A correria está me deixando doida. Não é possível. O mesmo arrepio que senti antes daquele homem me pegar, se faz presente novamente. Mesmo sem ter certeza, sei que ele está perto. Isso me faz voltar a correr.

Corro pelo meio do mato alto, as folhas me pinicam e algumas raspam em minha pele descoberta. Consigo ver o que parece ser uma estrada mais a frente, pode ser minha saída.

*Não adianta se esconder, sinto seu cheiro maravilhoso em qualquer lugar.*

Paro novamente, agora não ouvi uma risada, ouvi claramente a voz dele dentro da minha cabeça. Como isso é possível? Me agacho, ficando escondida no meio do mato. De algum jeito que não consigo explicar, ele está falando em minha mente, ele deve ter algum tipo de magia e eu acabei de provocar a ira dele. Ou seja, apesar de tentar me esconder, é inútil.

Não consigo pensar em outra coisa, só em uma explicação plausível de como ele consegue falar em minha mente. Não percebo sua chegada abrupta, só sinto quando segura em meu braço com força e me puxa para ficar de pé. Ficando frente a frente comigo.

— Achou mesmo que poderia se esconder de mim? — Diz, enquanto aperta mais meu braço.

Ainda estou ofegante por ter corrido tanto, totalmente diferente dele. Não parece que correu nada, é como se tivesse aparecido atrás de mim. Estou assustada, mas não sei o motivo específico, são tantas coisas para temer.

— Por favor, me deixe ir embora. Eu não tenho culpa de nada. — Tento me ajoelhar para implorar, mas não consigo pela força em meu braço. Então, olho somente em seus olhos. — Não me machuque, eu te imploro. — Começo a chorar, já ele, desvia o olhar pro lado, parecendo mais irritado ainda.

Ele se aproxima mais do meu rosto, seu nariz encosta no meu e fico nervosa, pois parece que vai me beijar, mas não há lógica nisso. Instintivamente dou um tapa em seu rosto, com minha mão que está livre e me retraio quando percebo o que fiz. Só serviu para atiçar mais a fera.

— Vai se arrepender do que fez. Princesa, você vai desejar nunca ter nascido. — Diz apertando cada vez mais meu braço.

A dor é dilacerante, grito por parecer que meu braço está prestes a quebrar. Seus olhos encontram os meus, mas não vejo arrependimento, apenas o ódio que sente por mim e o prazer em me machucar, ou, melhor, ele parece querer me matar, mas isso atrapalharia seus planos.

O homem começa a me puxar, tento resistir, mas é inútil em comparação a força dele. Ele segue em direção ao local de onde fugi, ignorando totalmente meus protestos. Ele vai me matar agora, sem dó e nem piedade. Sempre tentei ser a melhor para todo mundo, justamente para nunca acontecer essas coisas comigo e agora estou sofrendo por causa de um louco.

Quando passamos pela porta principal, ele não me leva para o lugar de antes, ele começa a me puxar em direção a escada.

— Não, por favor. Para!— Sem forças e tomada pela dor eu começo a pedir, mas ele ignora totalmente isso.

Não subimos muito a escada, pois ele logo chega a uma porta, empurrando ela e me jogando para dentro. Me fazendo bater com tudo no chão e machucar meus joelhos. Sento no chão e seguro onde está doendo, apertando mais para fazer a dor diminuir, porém só piora.

— Eu poderia fazer tantas coisas com você. — Se agacha em minha frente, chegando perto do meu rosto. — Você poderia ser só minha, aqui e agora. — Diz e avança em mim, fazendo seus lábios se encostarem no meu quando me deito no chão. Reajo a esse toque, cravando as unhas no rosto dele, deixando uma bela marca.

Ainda estou embaixo dele, que está de quatro sobre mim e logo leva a mão ao sangue que escorre. Seu olhar mortal encontra o meu, fico mais nervosa quando um sorriso pinta seu rosto. É assustador, sádico, cruel. Isso me faz desejar não ter feito o que fiz. Afinal, era só um beijo, agora pode ser muito pior.

Quando a marca que antes estava saindo sangue, começa a se fechar, dou um grito e começo a rastejar para trás, ficando o mais longe possível dele. Já estou sentada, e bato com as costas na parede. Apesar da distância, consigo notar seus olhos adquirindo uma cor vermelha, não tem como não ver isso.

Ele se levanta, protejo meu rosto com os braços e me encolho ao máximo que posso. Já esqueci qualquer tipo de dor, no momento, só sinto medo do desconhecido. Grito quando sua mão me segura novamente, ele me pega e sou lançada dentro de uma jaula. Parece com a masmorra, com as grades fechando.

Estou deitada no chão, sem conseguir reagir. Fecho os olhos, esperando o pior, mas tenho que abrir quando escuto ele sugar o ar próximo a mim.

— Seu cheiro é inebriante. — Sussurra, parecendo apreciar e logo fecha os olhos. Um sorriso de canto aparece, e logo seus olhos se abrem, voltando ao tom azul cristalino de sempre. — A partir de hoje você vai aprender a não fugir novamente e nunca mais me bater. — Seu tom é severo. — Afinal, vai se arrepender de suas estripulias e vai desejar me obedecer.

— Por favor, desculpe, eu não queria fazer isso. Foi um reflexo, pois pensei que seria atacada. — Tento explicar. — Eu sinto muito! — Ele está fumegando de raiva. Seus olhos azuis parecem ter uma chama criada em uma fogueira grande e descontrolada.

— Tarde demais, devia ter pensado antes de fazer toda essa palhaçada. — Levanta e logo me agarra, me arrastando até o canto da jaula e prendendo o meu pé em uma corrente. Puxa meu braço e prende ele na corrente presa a parede, prende o outro também, me fazendo chorar, pois está doendo. Meu rosto está de frente para a parede agora.

— O machucado já até curou. — Resmungo chorosa. Por que tudo isso está acontecendo comigo?

Ele sai do quarto e aproveito para tentar me soltar, mas, dessa vez não tenho chances. Fico tentando puxar o pé, mas só consigo ganhar mais dor.

— Você não aprende, não é? Tentando fugir de novo? — Tomo um susto quando escuto a voz dele novamente.

— Não, não, e-e-eu... — Não consego terminar, pois olho para trás e vejo um chicote em suas mãos.

Costumam açoitar criminosos, pessoas cruéis e perigosas. Às vezes até alguns injustamente, acho que vai ser meu caso. Sempre ouvimos também de maridos que puniram suas esposas assim, para ensinar uma lição. É tão comum entre nós, mas eu não quero sofrer como eles.

— O-o que você va-vai fazer com isso? – Começo a gaguejar e tentar me soltar mais ainda.

— Não posso te matar ainda, pois, não teria graça. Quero fazer isso na frente dele, depois de concluir tudo que planejei. — Levanta o chicote. — Mas, podemos nos divertir bastante juntos, como eu disse ontem. — Olho para frente.

— Por favor, não faz isso. — Começo a gritar quando ele vêm em minha direção.

Sua mão toca na minha roupa por trás, sinto minha roupa se rasgar nas costas, me deixando somente com a parte debaixo.

— Você está chorando? A diversão começa agora. — Seu rosto está ao lado do meu, consigo ver seu sorriso sombrio com o canto dos olhos.

— Você é desprezível! Você é um monstro! — Grito, demonstrando todo o meu ódio por ele. — Eu te odeio, meu pai deveria ter te matado.

Meu surto acaba indo longe demais. Por que eu falei isso? Me sinto péssima, jamais senti tanta raiva assim. Ele parece sentir o mesmo que eu, pois em meio a meu surto, não vejo quando o chicote vem em minha direção. Só sinto se chocar contra minha pele, rasgando e me fazendo gritar de dor.

— Por favor, desculpa. – Suplico, já com o rosto banhado em lágrimas. Dói tanto, meu corpo todo está reclamando.

Logo sinto outra ser dada, cravo minhas unhas nas mãos, enquanto fecho os punhos com força. Eu poderia aguentar, mas, jamais senti tanta dor na vida. Acho que jamais me machuquei.

– Eu não aguento mais, eu prometo te obedecer, eu não vou mais fugir de você. Prometo ficar. – Sou fraca demais para sofrer, não quero continuar sentindo dor. — Para sempre, se for necessário.

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