Capítulo 4 °

Acordo com o barulho de uma porta batendo e me sento na hora. Olho para os lados e vejo que não conheço esse lugar. Fico desesperada, pois acreditei ter sido apenas um pesadelo, igual a outra noite, mas não é.

Estou apavorada e com muito frio, pois meu vestido não está mais em meu corpo, apenas minhas roupas de baixo. Nem meu cabelo está preso mais. Quem me capturou?

Fico por um bom tempo tentando entender a situação, buscando um motivo para que a pessoa me trouxesse para cá. Só um apareceu em minha mente, o fato de eu ser uma princesa. Deve ser algum mercenário em busca de riquezas.

Tento me levantar após um bom tempo parada encarando a parede, meu pulso dói e acabo me sentando novamente. Estou acorrentada como um animal raivoso. Puxo o braço, tentando passar pela pulseira larga, mas tudo que ganho é uma pele machucada e avermelhada.

— Socorro, alguém me ajuda. — Começo a gritar. — Por favor, me tirem daqui. — Minha garganta dói pela intensidade que coloco, meus olhos transbordam pelo medo. — Socorro!

Minha última tentativa trás um novo som ao ambiente, alguém está prestes a abrir a porta. Me arrasto pela cama e fico o mais longe possível de quem vai aparecer.

Um homem aparece, seu cabelo é escuro e liso, seu rosto pálido, seus olhos azuis e sua expressão é de reprovação. Como se minha atitude fosse muito errada. Me encolho mais ainda, coloco os braços envolta dos joelhos e fico com a cabeça entre minhas pernas.

— Você pode gritar o quanto quiser, ninguém vai te escutar. — Fala com uma voz calma, levemente rouca. Percebo que ele se aproxima pelo som de seus passos e logo sinto meu cabelo ser puxado com força, a ponto de me colocar de pé para não sentir dor e o encarar. — Olhe para mim enquanto eu falo. — Esbraveja e olho para ele, a dor em meu casco é forte, pois ele puxa bastante. O que eu fiz para ele fazer isso comigo?

— Por favor, está doendo. — Imploro com os olhos cheios de lágrimas.

— Isso não é nada comparado ao que vou fazer com você. — Sussurra em meus ouvidos e logo me solta.

Por não estar apoiada em nada, caio na mesma hora, batendo a bunda com tudo no chão e as costas arrastando na parede. Resmungo de dor assim que chego ao chão. Como ele pode ser tão forte? Sequer percebi que não estava usando força nenhuma no meu corpo para me manter de pé. Ele apenas me olha e da um sorriso de canto de boca.

— Vai, levanta agora. — Seu tom se autoridade me deixa tensa, por isso decido obedecer. Sua voz perdeu a calmaria anterior, ele está irado e não sei o motivo.

Ainda sinto dor em minha bunda, então demoro um pouco a ficar de pé. Faço careta enquanto tento. Descobri que odeio sentir dor.

— Anda logo! — Grita e me assusto, dando um pulo e nesse momento ele me pega pelo braço, para me jogar na cama. — Você é tão lerda. — Fala sorrindo, apenas olho para ele, que se inclina em minha direção.

Meu coração acelera, fico nervosa e viro a cabeça, mas ele segura, puxando novamente para que me encare.

— Você é tão linda. — Sua boca fica a pouco espaço de distância da minha. — Quando olho para você, sinto vontade de devorá-la. — Arregalo os olhos, ele apenas passa a língua nos lábios parecendo amar minha expressão. Tento recuar para trás, mas suas mãos seguram com força meu rosto. — Sabe quantas vezes tive que me controlar, enquanto via você se banhar no rio? Tão bela, tão perfeita, em breve será só minha. Irei te destruir, até que não reste nada de você aí dentro. — Fala com um tom de voz calmo e sedutor, tremo por inteira e ele parece adorar isso. Consigo soltar meu rosto de suas mãos e chego para trás, encostando na parede, sem tirar os olhos dele.

Por que ele me odeia tanto? O que quer dizer com ser dele? Não me parece que ele quer riquezas, parece que seu interesse está em mim.

— O-o que você quer comigo? — Gaguejo, sem conseguir controlar meu medo, odeio essa sensação.

Ele fica de pé normalmente, me analisando e se deleitando com meu pavor. Parece procurar um meio para me explicar algo.

— Bom, vejamos, como começar? — Coça a cabeça. — Digamos que seu pai matou uma pessoa importante para mim e estou me vingando, tirando a pessoa mais importante para ele, fazendo ele sofrer da mesma forma que sofri. — Dá um sorriso assustador. — Esperei tanto tempo por isso, foram tantos anos esperando o melhor momento e agora, finalmente, consegui. — Engulo seco após suas palavras.

— Mas eu não tenho nada a ver com isso, se ele fez alguma coisa com você. Vá acertar com ele, não comigo. — Parece tão lógico o que acabei de falar.

— Isso é o que mais me encanta em você, tão inocente, tão pura. — Me encolho quando se inclina, mas, ele me puxa pelo braço, aproximando novamente nossos rostos. — Seu cheiro é tão bom, consigo sentir a distância o doce aroma de sua pele. — Se aproxima e puxa o ar próximo ao meu pescoço. — A vingança não tem o cheiro tão ácido como imaginei. — Me solta e se afasta.

Não me mexo, esperando para saber seus próximos passos, mas ele não faz nada. Apenas me encara por mais um tempo, antes de sair e bater a porta com força.

— Eu preciso sair daqui. — Me arrasto na cama e me levanto. — Não irei sofrer por algo que não tive culpa. Com certeza ele está inventando tudo isso, meu pai jamais faria mal a alguém. — Digo convicta. — Ele vai me destruir, preciso ir antes disso.

Por conta da corrente me prendendo, não consigo ir muito longe. Isso acaba prejudicando uma tentativa de fuga. Percebi que ele não trancou a porta, ou seja, se eu tirar isso de mim, posso correr para o mais longe daqui.

Olho para cada canto do quarto, o que não é difícil pelo tamanho dele. Tem somente uma cama aqui, a porta e uma pequena abertura em uma das paredes de pedra. Pequena demais para que eu possa sair. Minha única alternativa é a porta.

Posso abrir a corrente com alguma coisa pontiaguda, mas meu cabelo está solto, qualquer grampo de ter sido arrancado por ele. Me agacho, deve ter alguma coisa por aqui.

Olho embaixo da cama, está meio escuro, mas consigo notar algo brilhante. Estico a mão livre, tateio o chão e consigo pegar o que vi. Meus olhos brilham ao notar o pequeno grampo que deve ter caído quando ele retirava. Beijo o acessório que pode me tirar dessa situação. Estou feliz por ter decidido prender o cabelo, passo a maior parte do tempo com ele solto.

Não é a primeira vez que tentarei abrir uma corrente, quando éramos pequenas, Natalie e eu, sempre fazíamos isso. Brincávamos de prisioneiras, então, roubamos uma corrente que achamos perto das masmorras, só que estava sem a chave. Foi um sufoco para conseguir abrir, mas, no final, conseguimos e ninguém descobriu.

Tem um tempinho que não faço isso, mas, com certeza não mudou a forma. Só preciso encontrar o ponto certeiro para abrir. Enfio o grampo, mexo para lá e para cá.

— Droga. — Resmungo.

Não está dando certo. Paro um pouco, fecho os olhos e respiro fundo, o desespero está querendo voltar, e isso só vai me atrapalhar.

— Você consegue. — Nunca passei por situações de extremo estresse, mas não estou tão desesperada como imaginei que ficaria. Ou, minha ficha ainda não caiu. Provavelmente, é isso.

Volto a tentar, dessa vez com calma e atenção, para atingir o ponto certo. Eu posso fazer isso. Não vou ficar aqui e deixar ele me machucar, sem motivos. Escuto um click, a corrente cai no chão em seguida.

— Isso! — Abro um sorriso enorme, só não comemoro porque ainda não consegui fugir.

Agora é só tomar cuidado para ele não me pegar. Ando em direção a porta, abro bem devagar e olho para a escada em minha frente. Estou insegura, não sei se vou conseguir. Se ele me pegar, pode ficar mais irritado ainda. Isso não seria nada bom.

Balanço a cabeça, expulsando os pensamentos que me fazem recuar e saio do ambiente gélido. Meus pés descalços tocam o chão com delicadeza, fazendo o menor atrito possível, para não chamar a atenção.

Subo com calma, me controlando ao máximo para não exceder qualquer limite. Chego a ponta da escada, saio em um corredor e na minha frente, tem um arco de pedra que leva até uma sala. No início desse corredor tem uma porta, e ela deve ser minha saída.

Não tem sinal de ninguém por aqui, como se ele tivesse saído e me deixado sozinha. Olho novamente ao redor, e tomo coragem para ir até a grande porta de madeira. Puxo ela devagar, isso não ajuda muito, pois só faz estender o barulho. Decido puxar de uma vez, abrindo com tudo e correndo para fora antes que ela bata na parede.

Enquanto corro para fora, percebo que a casa parece ser em um precipício, pois a visão ao meu lado esquerdo dá essa sensação. Parece ser bem no alto. Paro quando uma ponte enorme de pedra aparece em minha frente. Precisa atravessar ela para chegar ao outro lado. Não espero mais, apenas volto a correr, mesmo sentindo a sola do meu pé reclamar pelo atrito com o solo.

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