Com a boca aberta de espanto, ela ficou parada, olhando para ele sem acreditar.
— Não é isso que está no contrato, é um ano de casado e só estaremos unidos para garantir a parceria empresarial. Ele tirou de dentro do bolso interno do casaco, igual fez o seu pai, os papéis que ela assinou e mostrou-lhe na segunda folha, bem em cima. “... e neste prazo de um ano, terá que ser gerado um herdeiro.” — Não pode ser! Então Lia lembrou da correria na hora de assinar o contrato, seu pai fez de propósito e sua mãe cooperou. Deixaram para assinar no último momento para que ela não tivesse tempo de ler e conferir. Assinou confiando no seu pai e percebeu tarde demais que ele não era digno de confiança. Olhou a sua volta e avistou uma poltrona de couro, onde se jogou, totalmente derrotada por aquela traição. Lembrou-se que há duas semanas sua mãe insistiu em levá-la ao médico, mesmo ela dizendo que não havia necessidade, pois estava muito bem. A médica preencheu seu formulário, perguntou quando tinha menstruado, se o seu ciclo era normal, se tomava algum anticoncepcional e sua mãe só escutava. Agora tudo fazia sentido. Lembrou-se que tomou uma injeção, mas se era para ela engravidar, não deve ser anticoncepcional, muito pelo contrário, deve ser um estimulante. Romão, de braços cruzados e pernas abertas, contemplava o desespero da mulher. Por sua face passavam várias expressões: desagrado, tristeza, mágoa, raiva, compreensão e finalmente, aceitação e total desilusão. — Não vou me deitar com você! — Se você não quiser deitar, faremos em pé, sem problemas... Ela levantou-se, pronta para sair pela porta, afinal de contas, era o seu carro que estava ali. Mas nem chegou na porta, ele barrou sua passagem e abaixando-se a botou no ombro com a bunda para o alto e caminhou para o quarto. Nem se deu ao trabalho de fechar a porta, colocou-a no chão e rasgou seu vestido que havia custado uma pequena fortuna. Horrorizada, Lia ficou estática, olhando os pedaços do vestido e de sua roupa íntima caídos no chão. Romão parou por um momento para apreciá-la, enquanto tirava sua própria roupa e notou que ela era bonita. — Pelo menos você não é feia. Essas palavras a fizeram despertar, cobrindo-se com os braços e mãos, olhou em volta para ver se tinha um banheiro onde pudesse se trancar, mas ele percebeu e pegando-a pelos braços, jogou-a na cama e deitou-se sobre ela, prendendo-a com seu peso. Enfiou o rosto em seu pescoço e chupou, deixando uma marca e um ponto de dor. Ela esperneou e socou, tentando empurrá-lo, mas ele era muito forte e pesado, isso contava contra ela. Quando ela viu que não teria como escapar, pediu com seriedade: — PARE! Ele sentiu a autoridade em sua voz e parou para olhála de frente. — O que foi, agora? — Já que eu não tenho escapatória, gostaria de pedir que você não me violentasse. Eu nunca fiz isso e não gostaria que minha primeira vez fosse com violência. Ele virou a cabeça para trás e deu uma sonora gargalhada, sabia muito bem que ela havia ganhado a vida no exterior como prostituta. Raquel lhe contou muitos pormenores sobre a irmã. — Não adianta me enganar querida, sei que você é mais rodada do que motorista de caminhão. Fica quietinha e aproveita, sou muito bom no sexo. Dito isso, sem qualquer prevenção, penetrou-a de uma vez, mantendo os olhos fitos em seu rosto e a dor que ela sentiu foi tanta, que não emitiu som, ficou paralisada, prendendo o fôlego com olhos fechados e uma lágrima solitária rolou pela lateral do seu rosto. Ele também ficou estático por um tempo, percebeu que ultrapassou a barreira inicial e entrou no local mais apertado que já tinha entrado em sua vida. Ela não tinha mentido, realmente era virgem. Então, começou a manipular seu corpo para ela relaxar e começar a sentir prazer. Infelizmente, não dava para consertar o erro, ela não conseguiu relaxar e ele terminou mais rápido do que pretendia para dar alívio ao corpo retesado dela. Quando saiu de cima de Lia, ela se encolheu de lado em posição fetal, quieta, calada, sem emitir som, como uma ovelha entregue ao sacrifício. Olhou ele para si mesmo e viu o sangue virginal, levantou-se e foi ao banheiro, onde se lavou e molhou uma toalha. Ela continuava na mesma posição, chorando sem emitir som e de olhos fechados. Ele aproximou-se com a toalha úmida e limpou-a por entre as pernas, depois jogou a toalha no banheiro e voltou para se deitar. — Ainda dói? — Ela não respondeu. — Desculpe, eu não podia imaginar, afinal, você já tem vinte e cinco anos. Qual a mulher que chega nessa idade ainda virgem? Nem sua irmã que é mais nova, ainda é virgem. Ao ouvir isso, Lia virou o rosto para olhar para ele. — Como você sabe que minha irmã não é mais virgem? — Porque sua irmã é minha namorada, nós íamos nos casar até seu pai exigir que eu me casasse com você. Eu tirei a virgindade dela. — Era uma meia verdade. Ela voltou a posição em que estava, percebendo que estava cercada por cobras, o que mais poderia lhe acontecer? Ela, que sempre foi uma mulher forte, batalhadora e que voltou para casa pensando que tudo daria certo, se viu enredada pela própria família. — Eu nunca tive tempo para relacionamentos, por que trabalhei muito para voltar para casa e ajudar minha família; e o que aconteceu? Fui roubada de todas as formas possíveis e imagináveis. — Agora não adianta chorar sobre o leite derramado, ou nesse caso, a virgindade perdida. Você assinou um contrato e terá que cumprir, foi uma exigência da minha mãe para me deixar casar com Raquel depois que nos separarmos. A frieza com que ele falou, chocou-a, parecia não ter a mínima consciência do que fez, muito menos, arrependimento. — Não entendo, se você queria casar com Raquel, por que aceitou casar comigo e ainda por cima ter um filho? — Raquel engravidou e fez um aborto que não deu certo e que a impossibilitou de ter outros filhos. Tendo um filho seu, poderemos criar como nosso e terá o nosso sangue de qualquer maneira. Ela calou-se, envergonhada de si mesma e da sua irmã. Que pessoas são essas que fazem da vida dos outros marionetes para sua própria satisfação? Foi enredada neste jogo sujo, traída por aqueles que mais deviam a proteger e agora não adiantava, como ele disse, chorar sobre o leite derramado. — Durma. Vou poupá-la amanhã, para que não fique muito sofrível para você, mas nos próximos dias, nos dedicaremos a ter esse filho. Sei que está em seu período fértil e trouxe vários testes de gravidez para confirmar. Mais uma vez ela ficou quieta, sabia que esses testes só davam o resultado depois de dias. Mas ele parecendo ter escutado os pensamentos dela, completou: — Você não sairá daqui até estar grávida, eu a visitarei dia sim, dia não. Agora durma. Ele apagou a luz do abajur ao lado da cama, e virouse para dormir, não demorou e já estava ressonando. Ela, talvez pelo cansaço e pelo estresse, também não demorou e logo estava dormindo.Na casa da família Brandão, sem ter noção do que a filha passava, Carlos expulsou a rolha da garrafa de champanhe, que estourou, e todos comemoraram. — Estamos salvos. Eu sabia que aquela menina um dia iria me servir e muito. — Regozijou-se ele. — Mas era eu quem devia ter me casado com Romão. — reclamou Raquel. — Pare de ser ingrata. Sua irmã está lhe fazendo um favor, mesmo depois de você ter roubado todo o dinheiro que ela nos enviou e você ainda está reclamando? — É mãe, mas agora é ela que está se refestelando com ele, o meu homem, o meu macho que deveria estar comigo. Carlos não teve dúvida, ao ouvir a forma vulgar com que sua filha estava falando, levantou a mão e acertou seu rosto com um forte tapa. As duas mulheres ficaram horrorizadas, nunca tinham sido agredidas desta forma. — O que pensa que está fazendo, Carlos? Como se atreve a bater na cara da nossa filha? Não sabe que não se bate na cara de ninguém, principalmente de uma mulher? — Ela não é ninguém, é a
Chegando em casa, Romão viu que, sua mãe, andava de um lado para o outro na sala, perturbada com a presença de Raquel, sentada no sofá. — Que bom que você chegou, meu filho, deu tudo certo? — Claro que sim, mamãe. — Ela reclamou ou fez escândalo, como foi? Enquanto a mãe falava, Raquel levantou-se e grudou-se em seu braço, emburrada. — Foi bem mais tranquilo do que eu esperava. — olhou para Raquel. — Aliás, aproveitando que você está aqui, precisamos conversar. — Ela não só está aqui, ela se mudou para cá. Chegou com duas malas e se instalou no seu quarto. — Obrigado, mãe. Vamos para o escritório, Raquel. Ele segurou-a pelo braço. Amava-a por sua doçura e delicadeza, por sempre o apoiar sem ligar para o seu passado de Dono do morro, mas se instalar em sua casa, no seu quarto, sem pedir permissão? Foi um grande erro. Agora que ele estava casado, como o grande empresário que é, não pode deixar nenhum escândalo desse tipo vazar e atrapalhar seus negócios. Também tinha o fato
Romão ficou intrigado, não sabia no que acreditar. Uma mulher forte que se dedicou a carreira, ganhou muitos prêmios, mas deixou a família em dificuldades financeiras, não parecia muito justa. Estava indeciso. Não era um homem bom, obtinha o que queria sem pedir licença, mas gostava de se ver como justo. Desde quando liderava o contrabando e o tráfico no morro, mantinha tudo em ordem com mãos de ferro. Sempre protegeu mulheres e crianças de maldades e abusos. Agora se tornou um abusador por acreditar em uma mentira. Será que sua menina era tão descrente da competência da irmã que não acreditava em sua capacidade de conquistar sucesso profissional? — Então, sua filha é uma arquiteta profissional e ganha a vida com seus projetos? — Creio que sim. Não sei muito sobre sua vida no exterior. É impossível alguém ter tanto dinheiro só desenhando riscos num papel. — Raquel disse, entrando no escritório, despeitada e não querendo que seu namorado descobrisse a verdade. Romão a olhou sério
Romão levantou-se para sair, mas a governanta o chamou. — Senhor Ferreira, o buffet do casamento deixou aqui algumas caixas com bolo e salgadinhos, o senhor não gostaria de levar para sua esposa? Ele parou um instante para pensar e chegou à conclusão que seria uma ótima desculpa para voltar a cabana, ainda neste dia. Havia prometido que a procuraria dia sim, dia não, mas podia aparecer com uma desculpa. Queria vêla e colocar o plano de sua mãe em prática. — Prepare uma boa embalagem que vou levar para ela. Obrigada, Zuleide. Chegando à cabana, surpreendeu Lia, que estava deitada no sofá. Sentia-se apática e ainda dolorida, mas sentou-se rapidamente, percebendo que a porta da frente abriu. Havia ouvido o som do motor de seu carro, chegando, mas pensou que era ilusão de sua cabeça, já que ele prometeu voltar só no dia seguinte. Quando ele apareceu, ela olhou-o com olhos arregalados e medrosos, não suportaria mais uma sessão de sexo como a do dia anterior. — O que faz aqui
O susto e a expressão dele diziam tudo: ele não acreditava no que Raquel era capaz de fazer e fez contra os próprios pais. — Como assim, do que você está falando? Raquel não é assim. — Só depois que eu cheguei, descobri que todos os e-mails e fundos que enviei para ajudar a família, foram interceptados por Raquel. Ela apagou os e-mails e transferiu todo o dinheiro para sua conta particular. Encontrei uma situação tão caótica na casa, que precisei comprar comida ou passaríamos fome. Enquanto isso, Raquel desfilava com uma bolsa de marca da moda e joias caríssimas. — Eu dou a Raquel o que ela quer, portanto, isso não significa que ela usou o seu dinheiro. — Eu tenho provas, fui ao banco e segui o dinheiro. Mas se você quer continuar se enganando, o problema é seu. Romão não pensou duas vezes, levantou-se e saiu como um foguete, deixando Lia sozinha, saboreando o bolo do casamento. O jantar ficou totalmente esquecido. Entrando no carro, antes de ligá-lo, lembrou que o carro
Lia não quis deixar ele perceber sua mágoa e frustração com seus pais. Tudo teria sido diferente se eles tivessem contado a verdade, ela poderia até conceder seus óvulos para eles terem um filho. — Não se preocupe, cuidarei deles. Conversei com a Raquel e creio que ela vai pôr a cabeça no lugar. — Ela confessou que pegou o dinheiro ou deu uma desculpa? Para nós, ela disse que se deixasse o dinheiro na mão do papai, ele ia gastar tudo sem resolver questão nenhuma. Romão olhou para ela e lembrou que Raquel falou a mesma coisa para ele, então, era uma desculpa ensaiada, o que aumentou a desconfiança e desagrado dele. — Sim, basicamente foi isso que ela falou, mas não negou que pegou o dinheiro. Disse que o dinheiro estava em uma conta conjunta da família e todos eles podiam mexer e ela gastou com suas necessidades para que ele não gastasse de forma negligente. — É uma desculpa aceitável, já que ela não negou, tira a culpa do roubo, mas não nos leva a nada continuar com essa discuss
Cláudia foi para o corredor da ala cirúrgica e sentou para esperar a amiga sair da cirurgia e saber o que aconteceu. Não demorou muito e logo a maca passou, levando a paciente para o quarto, então foi falar com a doutora. — Como ela está, doutora? — Você é parente? — Sou a advogada responsável por ela. — Ela foi abusada, precisou levar alguns pontos, mas ficará bem. — Meu Deus, isso é terrível! — Exclamou indignada, mas não fez mais comentários, esperaria para falar com Lia, primeiro. — As leis mandam denunciar qualquer crime de abuso. Por isso, já enviamos os dados para a delegacia da mulher. Obrigada doutora, vou conversar com ela e decidir o que fazer. — Pode solicitar o prontuário e a descrição dos procedimentos, fale com a assistente social. Mas a senhora sabe qual é o procedimento legal nesses casos. — Sim, eu sei, vou contar a ela, mas será melhor esperar. Obrigada, daqui em diante é comigo. Claudia seguiu para o quarto, chegou quando tiravam a maca, entrou e encontr
Romão fitou seu rosto, depois desceu pelo corpo e voltou ao rosto, sem acreditar no que ela estava falando. Como uma simples transa gostosa, poderia ter feito tal estrago? — Não entendo…como assim, você precisou levar pontos? Foi só uma transa… — Eu não sei como era com suas outras mulheres, mas comigo, foi muito difícil, me rasgou. Eu estava sentindo tanta dor, que não aguentei nem tomar banho. Coloquei uma toalha entre as pernas, pois sangrava muito e procurei pela chave do carro que vi você colocando dentro do bolso e vim para o hospital. Você pode conversar com a médica, caso não esteja acreditando nas minhas palavras. O discurso dela foi muito convincente, ele ficou repassando tudo que fez e não entendia onde tinha errado. Costumava ser bruto em suas transas, mas nunca nenhuma mulher reclamou ou se feriu a ponto de parar no prontosocorro. — Isso nunca aconteceu… pensei que você estivesse gostando. Ele terminou a frase na hora que a porta abriu e a médica que a operou, entro