Mirellacontinuação...Ver o homem mais forte que conheço entregue a uma cama, com tubos invadindo seu corpo e a vida pendurada em números de tela... é como morrer um pouco por dentro.— Eu queria que você visse o que eles fizeram. O que estão tentando fazer. — minha voz saiu baixa, rouca. — Estão mexendo com o que você e seu pai construiu. Estão tentando te apagar, Vincent. Apertei a mão dele mesmo sem resposta.— Mas eu juro por tudo o que sou... eles não vão conseguir.Me levantei e fui até a janela. O reflexo do vidro devolveu a imagem de alguém que eu mal reconheci. Cabelos bagunçados, olheiras profundas, a expressão vazia de alguém que já chorou demais.Voltei para perto dele.— Eu estou te protegendo agora. Os seus homens obedecem a mim porque sabem... sabem que se você cair, sou eu quem vai manter o trono quente. — sorri com amargura. — E se você não acordar, Vincent... eu viro rainha de guerra. Por você. Por nós.Fiquei em silêncio por longos minutos, escutando o som das máqui
Vincent Era como flutuar num oceano sem fim, onde o tempo não existia e a dor parecia uma memória distante. Mas então… algo me puxou. Um som. Uma voz. A única que eu reconheceria em qualquer lugar do mundo. "Você vai ser pai, meu amor." As palavras atravessaram a escuridão como uma lâmina, abrindo caminho até onde eu estava. Um sussurro que me prendeu à vida com mais força do que qualquer médico ou máquina. A cada noite, ela falava comigo. Às vezes baixinho. Às vezes com medo. Às vezes… com lágrimas que queimavam meu peito.E eu quis voltar para ela , por eles . Lutei. Me agarrei àquela voz como um soldado perdido que avista a bandeira da própria pátria. Aos poucos, o som do mundo foi voltando. Primeiro fraco, depois com mais nitidez. O bip dos aparelhos. O cheiro do hospital. A respiração dela. E foi quando pensei que já não conseguiria segurar por mais tempo, ela encostou a cabeça no meu peito e disse que estava cansada. "Eu não sei até quando consigo, Vincent." Foi ali que ro
Vincent continuação... — Preciso sumir — murmurei. — Por um tempo. De verdade.Ela inclinou a cabeça, desconfiada. — Como assim? — Quero que achem que morri. Quero que se sintam vitoriosos. Quero que se mostrem. Que tirem os rostos das sombras. E quando estiverem comemorando… eu volto. Ela ficou em silêncio por longos segundos. Depois se levantou, andando de um lado ao outro do quarto. Estava irritada. Preocupada. — Você acabou de voltar, Vincent. Não pode simplesmente desaparecer agora. Eu... eu preciso de você. Nosso filho precisa de você. — E vocês vão ter. Mas não por um tempo. Preciso garantir que o mundo que ele vai nascer não seja um campo minado. Me levantei. Doeu. Cada músculo doía como se tivesse passado por uma guerra e, de certa forma, passou. Mas me mantive firme. Mirella me olhava com os olhos marejados, e mesmo assim… assentiu. — Então faça direito. Não erra dessa vez. Porque se você cair de novo, Vincent… eu caio junto.A beijei. Com força. Com entrega. Com tudo
MirellaÉ um desafio diário morar em outro país, longe de toda a minha família. Um país totalmente diferente, com outra cultura, outro ritmo ,até o sono aqui é diferente! E, principalmente... a comida. Sempre fui muito regrada, mas morando nos Estados Unidos não dá pra manter esse ritmo. A maioria dos lugares só serve lanche. Café da manhã com hambúrguer e batata frita... essas coisas.Comida brasileira mesmo, a gente só encontra em poucos lugares e, quando encontra, não tem aquele sabor gostoso de comida de mãe. Nossa, estou sentindo tanta falta da comida da minha mãe! O que tem me salvado são umas marmitinhas que encontro prontas no supermercado saladas, carne, peixe, frutas... tudo embalado, só pegar e comer.Vida de estudante não está nada fácil. Quando não estou estudando, estou dormindo. Quando não estou dormindo, estou estudando [risos]. A correria tá grande, a rotina mais louca da minha vida. Nem quando eu fazia curso e trabalhava era desse jeito. Aqui, eu tenho que me desdobr
VincentSou Vincent Mangano, tenho 34 anos e faço parte da família Gambino. Somos uma das cinco famílias que formam a organização da máfia italiana. Sou o próximo na linha de sucessão. Meu avô, Carlo Gambino, comandou a organização entre 1957 e 1976, até ser assassinado por inimigos. Depois, o comando passou para meu tio mais velho, que anos depois morreu de câncer. Desde então, quem está à frente é meu pai, Paul Gambino. Em breve, serei eu — assim que me casar.Dominamos a maior parte do território de Nova Iorque: Brooklyn, Staten Island, Manhattan, entre outras regiões.Atualmente, curso Medicina em Harvard. Não apenas por gosto pessoal, mas também como uma forma estratégica de despistar investigações. Além disso, ser cirurgião pode ser útil em tempos de guerra entre famílias. Quando os conflitos se estendem por meses, sempre temos feridos do nosso lado. E eu posso ajudar.Agradeço aos céus por, ao menos, poder escolher com quem vou me casar. E, pelo visto, já encontrei. Uma adoráve
Mirella Minha cabeça está a mil. Assim que fechei a porta atrás de mim, encostei as costas nela, tentando recuperar o fôlego. O que acabou de acontecer? Eu fui jantar com um completo estranho , um homem sedutor, misterioso, que me salvou de um idiota metido a galã e voltei com um pedido de casamento. Um pedido vindo de um mafioso.Sim, mafioso. Ele disse com todas as letras. Sem rodeios. Apenas jogou a verdade no meio do restaurante como se estivesse me contando que é alérgico a frutos do mar. E pior disse que me observava há semanas, que sabia tudo sobre mim... até que mandou investigarem minha vida.Minhas mãos ainda tremem. Sinto o gosto do vinho nos lábios misturado com o sabor do beijo dele. E que beijo. Intenso, dominador, confuso assim como ele. Meu corpo reagiu de uma forma que minha mente ainda não entendeu. E talvez seja isso que mais me assuste.Vincent Mangano. Ele é bonito de um jeito que chega a ser pecado. Olhos que parecem atravessar a alma, voz firme, postura de que
Mirella continuação....Fiquei parada na porta por alguns segundos, com o coração disparado e as pernas trêmulas. O cheiro dele ainda pairava no ar , uma mistura de perfume amadeirado com algo que eu não conseguia definir, mas que fazia meu corpo reagir de um jeito que me deixava ainda mais confusa. Fechei a porta devagar, encostei as costas nela e respirei fundo.Dia 1Será que eu estou ficando louca?Deitei na cama, abracei meu travesseiro e olhei pro teto, tentando organizar os pensamentos. Ele estava me conquistando, disso eu não podia mais fugir. A forma como me olha, a firmeza nas palavras, o jeito como parece saber exatamente o que dizer , tudo nele parece calculado, mas ao mesmo tempo, tão intenso. Ele me assusta. Mas também me atrai. E isso me assusta ainda mais.Na manhã seguinte, acordei com o barulho da campainha, uma caixa minha eu sabia que era coisa dele , Um vestido preto de cetim, justo na medida certa, e um par de saltos que pareciam saídos de uma passarela. Um bilh
Vincent Dia 4 Acordei pensando nela. Mirella. Com aquele jeitinho desconfiado, as palavras sempre na ponta da língua, mas os olhos… os olhos entregam tudo. Ela sente, ela tenta negar, mas sente. Hoje eu queria surpreendê-la de um jeito diferente. Nada de luxo, nada de flores ou presentes caros. Queria mostrar pra ela que, por trás da imagem que carrego, ainda existe algo humano. Algo real. Passei o dia inteiro resolvendo assuntos da família, assuntos que ela jamais entenderia e que nem quero que ela entenda. Não agora. Mas mesmo com o caos me cercando, era nela que eu pensava. Às 19h mandei uma mensagem: “Vista algo leve. Te pego em 20 minutos.” Ela demorou a responder, mas veio. Quando entrou no carro, seu olhar curioso e cauteloso estava ali como sempre, mas havia também uma certa... entrega. Como se ela tivesse decidido parar de lutar com os próprios sentimentos, nem que fosse só por hoje. — Hoje é especial . falei, guiando o carro para fora da cidade. — Por quê? ela