Vicent dia 16 Ela dorme ao meu lado. Seus cabelos caem sobre o travesseiro como uma moldura suave e bagunçada. E, pela primeira vez em muito tempo, eu não sinto o peso do mundo nas costas.Sinto paz.Não deveria. Eu sei disso. Estou me expondo. Baixando defesas que levei anos pra construir. Mas essa mulher... essa garota da Rocinha com olhos de coragem e alma de tempestade, ela me desarma. Me tira da rota. E ao invés de me perder... eu me encontro nela.Deslizo meus dedos pelo braço dela, devagar, como se qualquer movimento em falso fosse acordá-la ou pior, fazê-la sumir. Porque agora... agora eu tenho medo. Medo do que estou sentindo. Medo de que ela descubra o quanto está no controle sem nem perceber.Eu, Vicent Mangano, herdeiro da máfia italiana... estou apaixonado. E isso é perigoso. Ela se remexe, os cílios tremem, mas não acorda. Um sorrisinho surge nos lábios dela. Está sonhando. Quero acreditar que é comigo. Não consigo resistir. Me aproximo mais, beijo sua testa e respiro o
Mirella dia 18 A casa era como um cenário de filme. Lareira acesa, cheiro de madeira queimada e o som distante das ondas quebrando nas pedras. Mas nada disso me prendia mais do que o olhar dele. Vicent me observava em silêncio, como se cada movimento meu fosse parte de algo que ele já esperava há tempos.— Gosta de vinho? ele perguntou, enquanto abria uma garrafa com as mangas da camisa dobradas até os antebraços. O jeito que ele fazia até o mais simples dos gestos era absurdamente sexy.— Gosto... mas não sei escolher. admiti, me sentando no sofá com uma manta leve sobre as pernas. Ele serviu as taças, caminhou até mim e me entregou uma.— Só precisa confiar em mim. disse, se sentando ao meu lado. — Aliás, isso vale pra mais do que o vinho.Bebi um gole e deixei o olhar se perder no fogo da lareira. A tensão entre nós não era mais uma barreira, era uma corda invisível nos puxando, centímetro por centímetro, um pro outro.— Você ainda acha que não se encaixa no meu mundo? ele pergun
Vicent Voltei antes do previsto, o sol ainda estava alto quando estacionei a SUV em frente à casa. A fumaça da lareira ainda dançava pela chaminé, e o cheiro de café recém-passado me atingiu assim que abri a porta. Por um segundo, tudo parecia calmo. Quase normal. Mas nada no meu mundo era normal. Mirella estava na cozinha, de costas, usando uma camisa minha uma azul escura. Longa o bastante pra cobrir as coxas, mas curta o suficiente pra me distrair mesmo depois de tudo o que tinha acontecido.Ela se virou ao me ouvir, os olhos se iluminando antes de franzirem um pouco. — Achei que só voltaria à noite. — Resolvi encurtar o caminho. Tinha coisa demais latejando na minha cabeça . respondi, tentando manter o tom leve. Me aproximei, puxando-a pela cintura. Ela não recuou, mas também não se derreteu como antes. Havia perguntas nos olhos dela. Desconfiança misturada com desejo. — Essa "coisa" que você foi resolver… deu certo? ela perguntou, os dedos tocando de leve meu peito, com
Vincent continuação... Assim que a porta se fechou atrás de Marco , o ar pareceu perder o oxigênio. Eu sabia que ele faria isso. Que chegaria até ela. E mesmo sabendo, fui lento. Fui ingênuo em pensar que poderia protegê-la apenas com meus braços. Quando voltei pra sala, encontrei Mirella de pé, imóvel, mas com o olhar carregado. Ela sabia. Ela sentiu. A dúvida estava em cada músculo do rosto dela. E isso me atingiu mais do que qualquer golpe. — Quem era aquele homem? ela perguntou, firme, decidida. Sem hesitar. Desviei o olhar. Não por fraqueza, mas por vergonha. Eu não queria que ela visse esse lado ainda. Queria mais tempo. Queria dar a ela só o que era bom. Fui até o bar e servi um copo de uísque. A bebida queimou na garganta, mas não tanto quanto o que estava por vir. — Vicent, olha pra mim. a voz dela soou como um apelo. — Eu mereço saber com o que estou lidando. A encarei. Ela estava linda até mesmo no confronto. Forte. Determinada. A mulher que eu jamais deveria te
Mirella A voz dela me atingiu como uma facada sorrateira. "sou a ex que ele nunca esqueceu." Por dentro, meu coração disparou. A garganta secou. A imagem deles dois, tão próximos, tão... íntimos, fez algo dentro de mim estremecer. Mas por fora? Gelo. Dei um passo a frente, mantendo o queixo erguido, o olhar firme como meus pais me ensinaram desde de sempre . Analisei ela da cabeça aos pés , como quem estuda um inimigo. Alta, segura, vestida como quem sabe que é bonita e perigosa.Não seria eu quem abaixaria os olhos primeiro. — Ex, é? perguntei, com um sorriso frio nos lábios. — Deve ter doído perder um homem como o Vicent. Ela arqueou uma sobrancelha, surpresa com a minha calma. — Doeu. Mas não tanto quanto vai doer em você... quando ele fizer com você o que fez comigo , ele me fez promessas assim como faz com você e depois de apaixonada ele me largou e agora a história se repete mas com você. Senti o sangue gelar. Mas respirei fundo e mantive o controle. Eu já tinha passado por
Mirella continuação... Dia 22 Acordei com o gosto do medo preso na garganta . Um peso que agora... também era meu.Fui até o espelho e encarei meu reflexo. Havia algo diferente em mim. Os olhos mais atentos, os lábios menos suaves, a expressão... endurecida.Estava me tornando o tipo de mulher que sobrevive nesse mundo. Não por escolha. Por amor. Vesti minha roupa justa, quase como armadura. E sai de casa para mais um dia . Em frente ao prédio Vincent já me esperava . — Mirella...? Tá tudo bem? Vincent me olhou por um instante .— Você tá diferente. ele murmurou. — E você esperava o quê? Que depois de ontem fingisse que nada aconteceu? Ele se aproximou, mas eu ergui a mão. — Vicent, eu nao quero que me veja como uma mulher fragil porque eu não sou . Eu não vou ser mais uma mulher que espera por proteção. Se eu tiver que ficar nesse mundo, quero lutar também. Quero saber dos seus aliados, dos seus inimigos. Quero saber quem é Giulietta, além da mulher rejeitada. E quero saber até
Vicent A noite caía pesada, carregada de um silêncio que já fazia tudo estremecer. Eu sabia que estava a beira de um precipício. Desde que Mirella descobrira fragmentos do meu passado dos recados enigmáticos, de Giulietta , o ambiente entre nos transformara. Eu via a inquietação em seus olhos, o brilho de dúvida e de dor que se misturava com determinação ela estava fazendo a parte que ela acha que precisa pra entrar no meu mundo . Ver ela me confrontar sem rodeios. tentando esconder que ela estava com medo , pela primeira vez, eu me via vulnerável demais . Seus passos eram firmes, a postura ereta e o olhar... esse olhar apontava tudo exigência, raiva, mas também medo. Algo me incomodou a madrugada inteira e foi quando enviei a mensagem pra ela , e logo ele me confrontou mais uma vez , e na manhã seguinte eu sabia que teríamos uma manhã difícil. Dia 24 — Vincent, eu preciso saber agora o que diabos a Giulietta significa pra você ? Por que você nunca me conta a verdade sobre
Vincent continuação... dia 25 Hoje seria o dia em que eu abriria as portas do meu passado, sem reservas, sem me esconder atrás de promessas vagas ou mentiras confortáveis. Despertei antes do sol e, com o coração pesado.Tomei minha decisão se eu quisesse merecer sua confiança, precisava expor a verdade todas as partes de mim que eu havia enterrado na escuridão e assim que cheguei em sua casa para busca lá, ela já me esperava com olhar meio perdido . — Mirella, Hoje você vai saber absoluto tudo sobre mim , e se mesmo assim você resolver ficar sera pra sempre , nos dois contra o mundo. Minha voz soou baixa, carregada de uma sinceridade que sempre tentei refrear. Ela piscou, surpresa, e sentou-se. O ar estava gelado, e eu senti o peso de cada palavra que estava prestes a dizer. caminhei até a mesinha de café. Atrás daquelas tampas de recordações, havia muitos segredos que precisavam ser revelados. — Você já deve ter se perguntado por que evito falar do passado. Por que alguns n