Capítulo 3

David

“Quando ele pegava no violão

Conquistava as meninas

E quem mais quisesse ter”

Dezesseis - Legião Urbana

Aquela primeira semana de aula foi insana! Conheci tanta gente do turno da noite e até alguns do turno da tarde, que vinham à noite só para conversar ou ficar de pegação com alguma guria.

Eu estava felizão! Tinha tanta mina bonita se atirando em mim que eu nem sabia qual pegar primeiro. Fiz alguns colegas de violão também, que nunca me deixavam sozinho na hora do intervalo. Um deles era o Charles, meu colega de turma: todo metido a malandro, pegador, mas que, na verdade, só gostava mesmo de uma guria há anos. Como a paixão não era correspondida, Charles se dedicava a quem lhe dava abertura. Ele era muito engraçado e leal, não fazia o tipo inteligente, mas era conhecedor de boas músicas e cantava comigo.

Me apresentou muita gente, e eu fui me sentindo em casa naquela nova turma.

Milena, Jéssica e Luciele eram sempre muito próximas a mim. E, embora eu achasse Jéssica linda, sabia que ela era como corrimão de quartel: pegava geral. Mas eu estava na minha e não ia declinar. Mesmo assim, nenhuma delas mexia comigo como a Luci. Com ela, era diferente. Não era só beleza — tinha algo mais, que eu ainda não sabia explicar.

Luciele, por sua vez, era uma amiga espirituosa e inteligente, que sempre tinha todas as respostas na ponta da língua, o que me fazia rir à beça. Era estranho, porque não era paixão — pelo menos, não ainda. Mas cada vez que ela abria a boca, eu sentia que ela tinha um jeito de me marcar como ninguém. Às vezes, eu via ela e Charles ou ela e Jéssica se engalfinhando, e eu chorava de rir.

Que garota extraordinária! Não é de se espantar que aquele bunda mole do Douglas tenha dado em cima dela tão logo que a viu. Ela não tem a beleza de uma modelo de capa de revista, mas é especial e exótica, e isso combina perfeitamente com a personalidade ferina dela.

Essa guria tem me ajudado em tudo na escola — nas coisas que tenho dificuldade, nos trabalhos e nas provas. Além disso, nunca me deixa sozinho. Sinto que ela se sente protegida ao meu lado e que há um desejo dela de retribuir o que fiz por ela naquele fatídico primeiro dia de aula.

Enquanto eu tirava o violão da mochila, percebi a chegada do Charles.

— E aí, cara! Tudo bem? — Fizemos nosso cumprimento com direito a soquinho e ombro a ombro.

— Mano, tava aqui pensando que tu é o nosso "Johnny" da música dezesseis do Legião, nosso cara legal. Só falta o opala metálico azul — Charles falou, rindo. — Qual é o repertório de hoje, ô Johnny?

— Caraca, maluco! Não quero ser o rei dos pegas na Asa Sul, e muito menos morrer por amor não correspondido. Tô passando o opalão também — disse, rindo. — Nunca mais vi esse carro à venda. Cara, tô pensando em puxar um Engenheiros, acho que vai dar bom, né?

— Manda bala, véi! Tô a fim de ouvir "Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones"

— Só se for agora — falei, já começando a afinar para tocar a música.

Milena e Jéssica vinham em nossa direção, cochichando, e eu fiquei de olho. Parecia que algo diferente estava acontecendo. Continuei tocando e cantando.

Elas se aproximaram, cumprimentando-me e ao Charles com um movimento de cabeça. Continuei a música, mas estranhei não ver a Luci com elas.

— E aí, gurias? O que está rolando? — perguntei, me aproximando delas para um beijinho assim que a música acabou.

— Eu não sei ao certo! Só sei que estávamos na parada de ônibus e ouvimos alguém falar que a Priscila andou descobrindo algo que a deixou muito indignada e que ela quer dar um pau em alguém. Parece que alguém andou pegando o Douglas, como sempre. Mais um dia normal para o casal mais encrenqueiro da escola.

— Assim ela esquece a Luci — falei, dando de ombros, sem querer me envolver com aquela gente de novo.

— Tomara que a briga não seja justamente por causa da Luci. Porque era dela que o povo estava falando… — Jéssica falou com ar de ironia, quase querendo ver o circo pegar fogo.

Parei o que estava fazendo imediatamente, tentando entender o assunto, mas nada fazia sentido na minha cabeça. A única possibilidade seria que as pessoas estivessem se confundindo, por causa do que aconteceu há pouco tempo. Mas a ideia de ela ficar com o Douglas parecia absurda. Ou será que eu estava enganado?

— Estão pensando que a Luci está ficando com o Douglas, é isso? — perguntei, preocupado.

— Parece que não estão pensando, e sim que alguém os pegou num amasso numa esquina, atrás da escola — disse Milena.

— Caraca! Mas como isso, gurias? A Luciele está sempre com a gente! É óbvio que é mentira. Ninguém a protegeu dessa calúnia? — falei, indignado com todos eles. Talvez eu nem tivesse percebido antes, mas ver o nome dela envolvido nesse tipo de fofoca mexia comigo de um jeito diferente. Com qualquer outra guria, eu teria deixado passar. Mas com a Luci… não dava.

Não dava para acreditar que até eles estavam caindo naquela fofoca. Guardei o violão e saí dali pisando fundo, fechando a cara.

"Mas será que a Luciele tem o quê na cabeça? Não posso acreditar que essa doida fez isso!"

O trio veio atrás de mim, atônito com a minha reação.

— Cara, por que tu ficou tão bolado? Nem sabemos se é verdade! — falou Charles, num lampejo de consciência.

— O que essa maluca tem na cabeça para fazer um troço desses? — perguntei, afundando os dedos nos cabelos com força, bufando.

— Ah, ela sempre teve um desejo de fazer a tal Priscila passar vergonha, assim como ela mesma passou. Se isso for real, é tudo orquestrado — disse Milena, baixinho, para não ser ouvida.

— Ah, que se exploda! O que é que eu tenho a ver com isso? — esbravejei, irritado com a situação, lembrando a mim mesmo que não tinha nada a ver com aquilo.

A noite passou, e Luciele não apareceu. Nos dias seguintes, continuou ausente. Algo estava errado. Mas o que eu podia fazer? Nem sabia se a fofoca era verdade. Até pensei em peitar o tal Douglas, mas seria uma atitude impulsiva. As mensagens que eu enviava pelo W******p não eram visualizadas.

Pensei que talvez ela tivesse ficado envergonhada e decidido não voltar para a escola, que só lhe trouxe problemas. Decidi respeitar seu tempo e espaço e seguir minha vida, sem me prender àquela história. Mas a preocupação de que algo ruim pudesse estar acontecendo não me deixava em paz.

O pior era que não passava um dia sem que eu sonhasse com ela

"Será que aconteceu alguma coisa com os pais dela? Será que ela está bem? Será que teve que se mudar de novo?" Muitas eram as perguntas que me incomodavam.

Pegava no sono com aquelas questões martelando na cabeça, e as respostas vinham nos sonhos com uma força extraordinária.

"O que essa garota tem na cabeça?"

Aquela seria mais uma noite de sonhos intensos. Adormeci pensando naquela encrenqueira.

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