Capítulo 2

Luciele

“Quem um dia irá dizer 

que existe razão para as coisas feitas

pelo coração, e quem irá dizer

que não existe razão.”

Eduardo e Mônica - Legião Urbana

"Bárbara... De onde ele tirou esse nome?" — pensei, tentando processar tudo o que havia acontecido no meu primeiro dia de aula.

— Oi! Você se sente melhor? — ouvi uma voz feminina surgindo ao fundo dos meus pensamentos, que não paravam de revisitar os fatos. Saí do transe, e meus olhos se depararam com uma menina de cabelos loiros e olhos verdes bem à minha frente. Sorri, ainda perdida em pensamentos, e arrisquei uma curta frase para aliviar a preocupação aparente no rosto daquela colega.

— Estou bem, mas ainda tentando entender essa recepção fervorosa que tive no meu primeiro dia de aula. Foi intenso! — respondi meio desnorteada, tentando ser o mais receptiva possível.

— Eu imagino! Essa garota sempre foi problema, e o namorado nem se fala. Ele é metido a pegador, e não é a primeira vez que dá em cima de uma novata. — A garota loira respondeu, resoluta.

— Eu vi que o cara só podia ser problema mesmo. Um gato desses, com pinta de coreano, parece ter saído de um dorama, caindo em cima de mim logo no primeiro dia de aula… não podia ser real. — Revirei os olhos, indignada. — Tinha que ser problema. — Bufei, resignada.

— Não é totalmente verdade. Você fala dele, mas e o gato que te tirou da situação? Mil vezes mais interessante: moreno claro, olhos verdes-acinzentados, cabelos castanhos escuros ondulados, porte alto e definido. Minha amiga ali tá caidinha por ele. — A garota soltou a pérola numa risadinha marota, abanando-se.

— Ui, um roqueirinho que toca violão e tem um corpinho daqueles! Você não deve estar interessada porque já se conhecem, mas as gurias da turma estão babando nele. — A loira se abanava, com o rosto corado.

— Eu não conhecia o David. Na verdade, não conheço ninguém nesta escola. Vim pra cá este ano porque minha família passou por um problema e precisou se mudar. — Respondi de uma vez, um pouco contrariada com aquela afirmação. — Por que você achou que eu o conhecia? — Perguntei, confusa.

— Ué, ele sabia seu nome, te tirou da situação, se meteu com aquela louca. Ficou nítido para todos que vocês se conheciam. Afinal, quem em sã consciência aparta uma briga daquelas sem conhecer a parte prejudicada? Seu nome é Bárbara, não é? — perguntou retoricamente, aproveitando para se apresentar. — Meu nome é Milena, muito prazer! — Sorriu e estendeu a mão. Eu retribuí imediatamente.

— Meu nome não é Bárbara, é Luciele. Ele só usou esse nome para me tirar da situação. E não é que colou? — Sorri, achando tudo aquilo engraçado. — Prazer, Milena.

— Sério??? Teu herói é literalmente um herói? Te tirou da situação sem nem te conhecer? — Milena falou corada, com expressão apaixonada. — Agora sim que a mulherada toda vai querer esse cara. — Abanou-se como se tivesse um leque nas mãos. — Um príncipe de verdade e… olha lá! — Milena apontou para o pátio da escola. — Ele tá lá, rodeado de gente, tocando violão. Vou chamar minha amiga Jéssica pra ver isso. Quer vir com a gente?

— Não sei se estou no clima. — Respondi, estagnada no lugar. — Depois de tudo o que aconteceu hoje, acho que vou ficar por aqui. Obrigada, Milena.

— Eu super compreendo, mas tenho um amigo querido lá e vou aproveitar essa vantagem pra me aproximar do nosso colega novo. — Até mais, Luciele!

— Até, e aproveite! — acenei para aquela garota que foi super legal comigo.

— Jéssica, vem! — Milena gritou, e a outra colega saiu da classe dando pequenos saltinhos até encontrá-la na porta.

As duas seguiram para o pátio, onde se ouvia uma versão delicada de Eduardo e Mônica, na voz e violão de David.

"Quem um dia irá dizer que

 existe razão nas coisas feitas

 pelo coração, e quem irá dizer

 que não existe razão?"

Me peguei pensando… "Quem irá dizer que existe razão?"

Meus dias têm sido incrivelmente intensos desde que meus pais se separaram. Mudei de casa, de escola, de vida, tudo em menos de um mês… Tanta coisa para absorver, tanta coisa para ressignificar.

E chego aqui, nesta escola onde não conheço ninguém, apenas para dar de cara com um circo que parecia armado pelo destino para rir mais um pouco de mim. Mas não há de ser nada. Não é isso que vai me desestabilizar; já passei por situações piores. Agora é focar nos estudos e realizar meu desejo de colocar a tal da Priscila no lugar dela. Essa vergonha, ela vai me pagar com juros e correção — ou não me chamo Luciele.

Porém, uma coisa não saía da minha mente — e do meu coração. Até hoje, ninguém jamais fez por mim o que o tal David fez. Ele me protegeu como nunca fui protegida por ninguém. E o sentimento que brotou em mim foi gratidão. Uma gratidão absurda por ele me fazer sentir tão especial naquela noite. Mas… como agradecer?

Enquanto pensava, desenhava flores no meu caderno, tentando acalmar a mente e o coração. Fiquei ali, sentada na minha classe, até o intervalo acabar e a turma retornar para a próxima aula.

David, sempre cavalheiro, sentou-se ao meu lado, tomando aquele lugar como se fosse dele na sala. Todos os dias ele estava ali. Amava observar meus desenhos e, de certa forma, o gosto pela arte nos aproxima cada vez mais, a ponto de estarmos sempre juntos. Nossa amizade floresceu como as milhares de flores que eu rabiscava no caderno, assim como nas músicas que ele tocava no violão.

As gurias Jéssica e Milena, e também um garoto chamado Charles, foram se aproximando, e nosso grupo se fortaleceu em amizade e companheirismo.

Mas, por alguma razão, eu não confiava na Jéssica… Não sei por quê. Sentia uma pulga atrás da orelha, como se ela quisesse tirar algo que era meu.

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