Normalmente os dias no hospital eram bem intensos, mas hoje estava particularmente agitado. Aparentemente tinha acontecido um acidente de trânsito grave perto dali, o que resultou em corredores repletos de pacientes, médicos e enfermeiras se movendo de um lado para o outro. Eu mal tive tempo de respirar entre um atendimento e outro. Cada segundo contava, e a pressão era constante. Estava no meio de uma avaliação de um paciente quando o alarme do pronto-socorro soou, indicando mais um caso urgente.
— Alice, precisamos de você na sala de emergência! — gritou uma das enfermeiras.
Corri até lá, colocando minha máscara e luvas rapidamente. Uma mulher idosa estava tendo uma crise respiratória grave. A equipe já estava a postos, esperando por mim. Trabalhamos juntos para estabilizá-la, administrando medicamentos e monitorando seus sinais vitais. Após um período tenso, finalmente conseguimos estabilizá-la.
— Bom trabalho, pessoal — disse, sentindo o alívio misturado ao cansaço. — Vamos mantê-la sob observação nas próximas horas.
Após algumas horas intensas, consegui um breve intervalo. Caminhei até a sala de descanso, onde meus colegas estavam reunidos. Peguei uma xícara de café e me sentei ao lado de Clarice, uma das minhas melhores amigas no hospital.
— Dia difícil, hein? — comentou Clarice, soprando a fumaça de seu café.
— Nem me fale. Estou exausta — respondi, massageando as têmporas.
Ela lançou um olhar rápido para onde os garotos estavam reunidos rindo de alguma coisa e baixou a voz antes de falar:
— Ei, você não vai acreditar — disse Clarice, com um sorriso travesso. — Tem um homem bonitão procurando por você lá fora. Já está esperando há um tempo, e disse que era só com você.
Senti um frio na espinha. Só podia ser Bernardo. Respirei fundo e tentei manter a calma.
— Clarice, você sabe que estou com o Jonas...
— Ah, relaxa. Só estou passando o recado — riu ela. — Mas ele parece bem determinado.
Levantei-me, tentando ignorar o tumulto de emoções que sentia. Jonas, percebendo minha inquietação, logo se levantou e veio até mim, me seguindo a passos largos enquanto eu caminhava pelos corredores.
— O que está acontecendo? — perguntou ele, com uma expressão séria.
— Bernardo está aqui — respondi, tentando controlar a ansiedade.
Jonas franziu o cenho, claramente irritado.
— Vamos lá ver o que ele quer.
Caminhei até o saguão do hospital, sentindo meu coração acelerar a cada passo. E lá estava Bernardo, impecavelmente vestido com seu terno sob medida, com uma expressão de confiança e determinação. Ele claramente se destacava em meio a todo o caos daquele lugar, não parecia pertencer a esse ambiente, assim como eu não parecia pertencer aos ambientes que ele frequentava.
Quando nossos olhares se encontraram, ele sorriu levemente e se aproximou. Tentei me manter séria, mas tinha algo em seu sorriso...
— Alice, o hospital entrou em contato comigo. Os resultados do exame de DNA estão prontos. Gostaria que fôssemos juntos recebê-los — disse ele, direto ao ponto.
Meu coração disparou. Aquele momento tinha chegado mais rápido do que eu esperava. Olhei para Jonas, que estava visivelmente desconfortável, mas ele apenas assentiu.
— Tudo bem, vamos. Vou conseguir um intervalo — disse, tentando soar mais confiante do que me sentia.
Jonas estreitou os olhos, olhando diretamente para Bernardo.
— Espero que isso seja rápido. Alice tem um trabalho importante a fazer aqui.
Bernardo ergueu uma sobrancelha, um leve sorriso provocador nos lábios.
— Então, além de namorado você também é o chefe dela? — Ele parecia saber que não era, mas queria usar aquilo como provocação.
— Estou apenas constando um fato... — Jonas responde, entredentes.
— Claro, senhor namorado — disse com desdém. — Tenho certeza de que o trabalho de Alice é muito importante. Mas acredito que essa questão também merece a devida atenção.
Jonas deu um passo à frente, seu corpo tenso.
— Ela não precisa de você para decidir o que é importante na vida dela.
Bernardo manteve a calma, mas seu olhar ficou mais frio.
— Mas precisa de você? — Ele segurou o olhar de Jonas por um segundo antes de continuar. — Não estou decidindo nada. Apenas sugerindo o melhor caminho para todos nós.
Jonas apenas deu as costas e saiu, visivelmente irritado com tudo e todos. Eu lidaria com isso depois, mas não podia deixar de acompanhar Bernardo para descobrir a verdade sobre toda aquela história.
Depois de informar minha supervisora e conseguir um intervalo, segui Bernardo até a clínica. O caminho até lá parecia interminável, o silêncio entre nós era pesado, cheio de expectativas não ditas. A presença de Bernardo ao meu lado era quase sufocante, uma mistura de nervosismo e ansiedade parecia preencher todo o espaço.
Quando chegamos ao setor de genética, um médico nos aguardava com um envelope nas mãos. As paredes brancas e limpas do consultório pareciam claustrofóbicas naquele momento.
— Boa tarde. Vocês estão aqui para os resultados do exame de DNA, correto? — perguntou o médico, olhando para nós com uma expressão séria.
Assentimos, o ambiente carregado de tensão. O médico abriu o envelope e leu os resultados em silêncio por um momento que pareceu durar uma vida. A espera era insuportável, cada segundo se estendendo como uma eternidade. Ele então levantou os olhos e olhou diretamente para Bernardo e para mim.
— O exame confirma que Bernardo Orsini é o pai biológico de Ian — anunciou ele, com uma voz calma e profissional.
Senti minhas pernas tremerem. Cada célula do meu corpo parecia vibrar com a notícia. Olhei para Bernardo, que parecia calmo, quase satisfeito com a confirmação. O médico, percebendo nossa ansiedade, continuou.
— O exame de maternidade também foi realizado. Alice Bianchi, você é a mãe biológica de Ian.
Aquelas palavras me atingiram como um golpe. Minha visão ficou turva por um momento enquanto tentava processar a informação. Era uma sensação esmagadora, como se o chão tivesse desaparecido sob meus pés. Eu era mãe. Eu era mãe. Não, eu não apenas era mãe, eu era mãe de um filho de Bernardo Orsini, o gênio bilionário da tecnologia. Isso era loucura!
Bernardo deu um passo à frente, quebrando o silêncio.
— Então é isso — disse ele, com uma determinação que não deixava espaço para discussão. — Alice, vou providenciar para que você e Ian se mudem para o meu apartamento. E também vamos nos casar.