A rotina começava, aos poucos, a voltar ao normal. O escritório era amplo, moderno, e carregava aquele silêncio cheio de ideias - o tipo de silêncio que pulsa criatividade. Noah estava na sua mesa digital, totalmente imerso no projeto. Os olhos brilhavam a cada novo comando, e seu entusiasmo era quase palpável. Ao lado dele, Sophia mantinha o mesmo foco, mas com uma leveza que só ela tinha. Era impossível não gostar dela. Inteligente, divertida, sincera até demais - do tipo que falava verdades rindo, e ainda assim deixava todo mundo confortável.Eu, sentada à minha mesa, com o cotovelo apoiado e a cabeça na mão, observava os dois em silêncio. Por um momento, me peguei sorrindo sozinha, perdida em pensamentos. Eu deveria mesmo agradecer. Por tudo. Pelo que a vida me trouxe... ou melhor, pelo que o destino me permitiu encontrar. Chamar de sorte seria pouco - parecia algo traçado com propósito. De alguma forma, Noah entrou na minha vida, e desde então tudo ganhou um novo sentido.Ele cui
Ninguém jamais poderia imaginar que algo assim pudesse acontecer. Tudo parecia estar sob controle. A segurança funcionava, a rotina seguia seu curso, e tanto Emma quanto Aurora estavam protegidas - ou ao menos, era o que todos acreditavam. Mas Patrick... Patrick sempre encontrava um jeito de atravessar a linha, de atazanar a vida de Emma como uma sombra que nunca a abandonava.Ele nem gostava da criança. Não queria saber da existência de Aurora, nunca a reconheceu como filha. Mas por algum motivo cruel, a ideia de tirar a pequena de Emma o fazia sorrir. Para ele, aquilo não era se reconectar com a filha. Era tortura. Um golpe cirúrgico no único ponto que ainda restava vulnerável em Emma: o amor de mãe.A lembrança daquele dia no shopping era como um punhal cravado em sua mente. Rosa, a babá de Aurora, estava atenta, como sempre. Inteligente, cuidadosa, dedicada à menina. Mas até os mais preparados têm seus momentos de distração.Patrick apareceu do nada, com o rosto limpo e o sorriso
Eu faria qualquer coisa para ter minha Aurora de volta. Qualquer coisa. Ela era o fio que ainda me mantinha viva neste mundo, o respiro que separava minha alma da rendição. Meu raio de luz em meio a toda a escuridão que Patrick deixou. Foi por ela que tomei coragem, ainda que minha coragem tenha sido fugir. Quando descobri que estava grávida, achei que não sobreviveria, mas bastou senti-la nos meus braços para entender o que era o amor. O verdadeiro.Agora, eu não sabia onde ela estava. Nem com quem. E isso estava me matando aos poucos. Patrick nunca suportou crianças. E eu sabia - no fundo, eu sempre soube - que tudo isso era apenas para me atingir. Ele achou o meu ponto fraco e cravou as garras nele. E eu estava aqui, vazia. Perdida.Não queria culpar Rosa. Ela não tinha má intenção, estava claro em seu rosto arrasado. Mas foi dela a responsabilidade de proteger minha filha. E ela falhou. Deixou Aurora nas mãos do pior homem do mundo. Mesmo sem conhecer Patrick, ela deveria ter sent
Aquela não era uma família qualquer. E Patrick descobriria isso muito em breve. Não era a primeira vez que algo parecido acontecia - e Samanta havia jurado que seria a última. Desde então, tomou todas as precauções possíveis para que ninguém da sua família voltasse a cair nas mãos de um lunático.Ela mal conhecia Emma e a pequena Aurora, mas já as carregava no coração como se fossem suas. Havia algo naquela mulher ferida e naquela menina inocente que tocava sua alma. Talvez fosse o modo como Emma despertara em Noah um amor tão verdadeiro. Ou talvez fosse a forma como aquela criança, com seus olhos curiosos e frágeis, havia trazido luz para dentro daquela casa que antes parecia grande demais para um homem tão solitário.Samanta viu a mudança em seu filho - e que mudança. Noah havia amadurecido. Tornara-se responsável, protetor, e finalmente parecia inteiro. Tudo por causa daquelas duas. E em apenas alguns minutos ao lado de Aurora, Samanta sentiu um amor arrebatador, como se aquela men
- Se dependesse de mim, nenhum dos meus filhos correria perigo - disse Samanta, ajeitando os últimos detalhes sobre a mesa. As malas cheias de dólares estavam posicionadas no centro da sala, enquanto todos os membros da família Novack se reuniam ao redor, tensos, como peças de um jogo prestes a ser movidas.Harvey foi o primeiro a desviar o olhar. A angústia em seu peito crescia por não poder contar nada à esposa. Ele sabia que, se ela descobrisse, faria qualquer loucura para se envolver, e convencê-la do contrário seria quase impossível. Ele estava morrendo de medo. Aquela era sua família, mesmo que não conhecesse pessoalmente a menina - ainda assim, desejava com toda a força que ela saísse ilesa daquilo tudo.Emma andava de um lado para o outro, descalça, os pés já doendo pelo atrito com o piso frio. A cabeça fervilhava com mil pensamentos, cenários catastróficos que insistiam em tomar forma. Ela mal prestava atenção na conversa entre Noah e Samanta, apenas ouvia vozes distantes, mi
Jamais imaginei que encontraria alguém que me amasse dessa forma - intensa, protetora, quase feroz. Alguém disposto a proteger a mim e à minha filha com unhas e dentes, mesmo contra o próprio pai dela... um homem que deveria, no mínimo, ser capaz de amar a própria filha. Fiz más escolhas no passado, e sim, me arrependo de algumas. Mas se essas escolhas me trouxeram até este momento, com a Aurora nos meus braços, vestida como uma pequena princesa enquanto eu estou de noiva, então talvez tudo tenha valido a pena.Depois daquele sequestro que quase destruiu o pouco de paz que eu ainda tinha, a família Novack nos acolheu como se já fôssemos deles. Não houve julgamentos. Nenhuma hesitação. No instante em que Aurora atravessou aquela porta, ainda atordoada, assustada, marcada por tudo o que passou com aquele traste... eles a amaram. E, aos poucos, ela também os amou. Um por um. Principalmente Harvey, que a olhava como se ela fosse realmente sua neta de sangue. E, de alguma forma, eu sentia
Emma jamais poderia imaginar que sua vida tomaria um rumo tão doce. Tudo parecia um sonho do qual ela não queria acordar. Sua menina já estava tão crescida, e Noah... Noah era o pai que ela sempre desejou para Aurora. Era impossível conter o orgulho que sentia ao vê-los juntos. Depois de tudo o que passaram - principalmente após os horrores com Patrick - ela havia se tornado mais cuidadosa, mais atenta. Não que fosse culpa dela. Patrick sempre fora um monstro, mesmo agora, atrás das grades, parecendo mais um gato acuado do que o predador cruel de antes.A família Novack a acolhera com um carinho inesperado. Samanta adorava a nova neta, tratava Aurora como uma princesa. Já Harvey, mesmo surpreso com o título de avô, se mostrou encantado com a chegada da pequena - um presente inesperado que derreteu qualquer dureza remanescente em seu coração.Dois anos haviam se passado. Agora, com um novo bebê nos braços, Emma se encontrava sentada numa cadeira confortável na varanda da nova casa - um
Eu estava exausta. Não era apenas o cansaço físico de quem andava horas pelas ruas de Nova York, batendo de porta em porta com um currículo nas mãos. Era um cansaço mais profundo, que pesava nos ombros e se infiltrava nos ossos. Um cansaço que vinha da vida, das perdas, das decepções, dos erros.Perdi minha mãe cedo demais. Meu pai? Bem, nem sei quem ele era. Mas minha avó me criou com todo o amor que podia oferecer, e isso me bastou. Fiz de tudo para ser a menina perfeita, para não dar trabalho, para não correr o risco de perder a única pessoa da minha família que restava. Mas, mesmo assim, cometi erros. Um deles me trouxe a pessoinha mais especial do mundo, e hoje, olhando para ela, sei que cometeria esse erro mil vezes se fosse preciso.Só que o pai dela... Ele era um idiota. Um idiota que nem sabia da existência dela e fazia questão de continuar assim. E era melhor que fosse desse jeito. Já bastava tudo o que ele tinha feito comigo, a dor, a decepção, os estragos que deixou para t