Aquela não era uma família qualquer. E Patrick descobriria isso muito em breve. Não era a primeira vez que algo parecido acontecia - e Samanta havia jurado que seria a última. Desde então, tomou todas as precauções possíveis para que ninguém da sua família voltasse a cair nas mãos de um lunático.Ela mal conhecia Emma e a pequena Aurora, mas já as carregava no coração como se fossem suas. Havia algo naquela mulher ferida e naquela menina inocente que tocava sua alma. Talvez fosse o modo como Emma despertara em Noah um amor tão verdadeiro. Ou talvez fosse a forma como aquela criança, com seus olhos curiosos e frágeis, havia trazido luz para dentro daquela casa que antes parecia grande demais para um homem tão solitário.Samanta viu a mudança em seu filho - e que mudança. Noah havia amadurecido. Tornara-se responsável, protetor, e finalmente parecia inteiro. Tudo por causa daquelas duas. E em apenas alguns minutos ao lado de Aurora, Samanta sentiu um amor arrebatador, como se aquela men
- Se dependesse de mim, nenhum dos meus filhos correria perigo - disse Samanta, ajeitando os últimos detalhes sobre a mesa. As malas cheias de dólares estavam posicionadas no centro da sala, enquanto todos os membros da família Novack se reuniam ao redor, tensos, como peças de um jogo prestes a ser movidas.Harvey foi o primeiro a desviar o olhar. A angústia em seu peito crescia por não poder contar nada à esposa. Ele sabia que, se ela descobrisse, faria qualquer loucura para se envolver, e convencê-la do contrário seria quase impossível. Ele estava morrendo de medo. Aquela era sua família, mesmo que não conhecesse pessoalmente a menina - ainda assim, desejava com toda a força que ela saísse ilesa daquilo tudo.Emma andava de um lado para o outro, descalça, os pés já doendo pelo atrito com o piso frio. A cabeça fervilhava com mil pensamentos, cenários catastróficos que insistiam em tomar forma. Ela mal prestava atenção na conversa entre Noah e Samanta, apenas ouvia vozes distantes, mi
Jamais imaginei que encontraria alguém que me amasse dessa forma - intensa, protetora, quase feroz. Alguém disposto a proteger a mim e à minha filha com unhas e dentes, mesmo contra o próprio pai dela... um homem que deveria, no mínimo, ser capaz de amar a própria filha. Fiz más escolhas no passado, e sim, me arrependo de algumas. Mas se essas escolhas me trouxeram até este momento, com a Aurora nos meus braços, vestida como uma pequena princesa enquanto eu estou de noiva, então talvez tudo tenha valido a pena.Depois daquele sequestro que quase destruiu o pouco de paz que eu ainda tinha, a família Novack nos acolheu como se já fôssemos deles. Não houve julgamentos. Nenhuma hesitação. No instante em que Aurora atravessou aquela porta, ainda atordoada, assustada, marcada por tudo o que passou com aquele traste... eles a amaram. E, aos poucos, ela também os amou. Um por um. Principalmente Harvey, que a olhava como se ela fosse realmente sua neta de sangue. E, de alguma forma, eu sentia
Emma jamais poderia imaginar que sua vida tomaria um rumo tão doce. Tudo parecia um sonho do qual ela não queria acordar. Sua menina já estava tão crescida, e Noah... Noah era o pai que ela sempre desejou para Aurora. Era impossível conter o orgulho que sentia ao vê-los juntos. Depois de tudo o que passaram - principalmente após os horrores com Patrick - ela havia se tornado mais cuidadosa, mais atenta. Não que fosse culpa dela. Patrick sempre fora um monstro, mesmo agora, atrás das grades, parecendo mais um gato acuado do que o predador cruel de antes.A família Novack a acolhera com um carinho inesperado. Samanta adorava a nova neta, tratava Aurora como uma princesa. Já Harvey, mesmo surpreso com o título de avô, se mostrou encantado com a chegada da pequena - um presente inesperado que derreteu qualquer dureza remanescente em seu coração.Dois anos haviam se passado. Agora, com um novo bebê nos braços, Emma se encontrava sentada numa cadeira confortável na varanda da nova casa - um
Eu estava exausta. Não era apenas o cansaço físico de quem andava horas pelas ruas de Nova York, batendo de porta em porta com um currículo nas mãos. Era um cansaço mais profundo, que pesava nos ombros e se infiltrava nos ossos. Um cansaço que vinha da vida, das perdas, das decepções, dos erros.Perdi minha mãe cedo demais. Meu pai? Bem, nem sei quem ele era. Mas minha avó me criou com todo o amor que podia oferecer, e isso me bastou. Fiz de tudo para ser a menina perfeita, para não dar trabalho, para não correr o risco de perder a única pessoa da minha família que restava. Mas, mesmo assim, cometi erros. Um deles me trouxe a pessoinha mais especial do mundo, e hoje, olhando para ela, sei que cometeria esse erro mil vezes se fosse preciso.Só que o pai dela... Ele era um idiota. Um idiota que nem sabia da existência dela e fazia questão de continuar assim. E era melhor que fosse desse jeito. Já bastava tudo o que ele tinha feito comigo, a dor, a decepção, os estragos que deixou para t
Muitas pessoas reclamam do meu jeito, mas não ligo. Sou o filho mais velho-pelo menos, o mais velho da minha mãe-de uma família grande. Meus pais eram o casal perfeito, daqueles que pareciam ter saído de um livro. Amavam os filhos com um amor incondicional, algo que sempre invejei. Minha infância foi perfeita. Nasci em uma família rica, cercado de conforto e privilégios. Tive irmãos adotivos, mas a mais nova, essa sim, era minha lógica.Minha mãe tinha uma história complicada, e talvez por isso fosse tão desconfiada das pessoas. Mas, com o tempo, ela mudou. Se transformou por causa dos filhos. E era invejável. Eu cresci observando o relacionamento dela com meu pai-um amor que só se intensificava com os anos. Meu pai sempre foi meu espelho. Ele protegia a família como um cão de guarda, mas dentro de casa... era outra pessoa. Minha mãe o dominava com um olhar. Tudo o que queria, conseguia com um estalar de dedos ou um silêncio carregado. E ele obedecia. Eu queria ser como ele.Afinal, h
Acordei cansada. Aurora dormira a noite inteira, mas o peso em meu corpo não vinha da falta de sono. Vinha do medo, da exaustão de estar sempre alerta.Despertei quando senti seu corpinho se remexer ao meu lado. Dormíamos na mesma cama porque não tínhamos um colchão extra, não tínhamos móveis supérfluos, nem mesmo lixo acumulado - eu não podia me dar ao luxo de desperdiçar nada. Mas, no fundo, não era só a falta de dinheiro que me fazia querer tê-la tão perto. Era o medo. Medo de que alguém aparecesse no meio da noite, arrombasse a janela e levasse minha menina de mim. Claro, era uma fantasia absurda... Mas, para uma mãe, era um medo real, constante, impossível de ignorar.E talvez esse pavor viesse do próprio pai dela.Eu não sabia que ele era um cafajeste quando o conheci. Não sabia que, por trás dos gestos carinhosos e das palavras doces, se escondia um homem perigoso. Durante meses, ele me tratou como uma rainha, fez eu me sentir especial, desejada, amada. E então, quando já não h
Eu estava completamente nervosa, sentindo como se o peso do mundo estivesse pressionando meus ombros. Aquela era a minha chance - a oportunidade de mudar tudo. Fechei os olhos por um breve segundo e respirei fundo, tentando acalmar o coração acelerado. Eu era grata pelo que tinha, claro. O emprego na lanchonete, por mais desgastante que fosse, pagava o aluguel do meu minúsculo apartamento em Nova York - o que já era uma vitória por si só. Também dava para comprar os remédios da minha avó e colocar comida na mesa. Mas estava longe de ser suficiente.E era por isso que eu estava ali. O cargo de secretária de um executivo significava um novo patamar. Um salário digno. Digno o bastante para me dar um respiro e cuidar da minha filha sem me preocupar se o dinheiro acabaria antes do mês. Eu precisava desse emprego. Não por mim, mas por ela.Me ajeitei na cadeira da sala de espera, alisando inutilmente o tecido amassado da minha saia. O som ritmado do meu salto batendo contra o chão quebrava