Narração: Vinícius
Acordei cedo. Já estava de pé, arrumado e perfumado quando entrei no quarto.
— Bom dia! — disse, tentando soar leve.
Sara me olhou com aquele cenho franzido que sempre me desmonta.
— Bom dia... Você vai pra onde assim, todo arrumado?
Sorri de lado. Não era mentira, mas também não era a verdade inteira.
— Vou resolver assuntos que eram do meu pai... Agora são meus.
Ela forçou um sorriso, mas vi a inquietação nos olhos.
— Se comporta...
Ri baixo e me inclinei para beijá-la. Aquele beijo tinha urgência. Talvez até um toque de despedida.
— Te mandei um vídeo... Te amo, minha porquinha.
Ela sorriu, corando.
— Que vídeo? Volta aqui, marido!
Mas eu já estava saindo.
— Tô atrasado! Chego só de noite... Quero aquela camisola branca... sem nada por baixo.
Deixei ela rindo sozinha. Eu precisava daquilo — guardar essa imagem na cabeça para o dia que me esperava.
Quando passei pela sala, encontrei minha mãe.
— Bom dia... Vai sair? — perguntou Carmem.
— Sim. Assuntos do meu pai.