Mundo ficciónIniciar sesiónSeus olhos brilham gélidos para mim. Ele avança na minha direção e segura meus braços. Eu ergo meu rosto assustado e nossos olhos se encontram. Dou com seus olhos duros como uma pedra. Eles têm uma intensidade tão grande que seguram os meus.
—Sei muito bem disso. Pensa que não sei?
—Então...—digo num fio de voz —ainda não entendo por que me quer tanto ao seu lado sendo que me odeia.
Ele fica olhando para mim, então respira fundo e me solta. Começa então andar de um lado para o outro na minha minúscula sala. Parece um leão enjaulado, então ele estaca e olha para mim:
— Vou refrescar sua memória.
Fico olhando para ele paralisada, amenizando a vontade de mandá-lo se ferrar.
—Por favor, eu quero entender isso. Se eu entender não precisará me levar à força. Concorda?
Ele fica mais ereto em seu um metro e noventa então avança na minha direção devagar. Eu estremeço ante seu andar felino, seus olhos negros fixos nos meus.
Ele para centímetros de mim e diz pausadamente:
—Como sabe, estou para fechar um grande negócio com o Sheik Saad. Acontece que ele é um homem extremamente tradicionalista se eu não me mostrar um homem sério eu perco essa negociação.
—Um homem sério? Você quer dizer compromissado com alguém?
—Exatamente. Então querida Layla, você não pode sair da minha vida assim. Lembre-se que desfiz meu relacionamento com Nádia. E agora? Que moral terei eu com um homem como o Sheik Saad?
Uma grande mortificação me invade quando ele me lembra disso.
Ela o deixou numa situação delicada. Sua atitude pode arrebentar sua imagem, tanto com os seus pais como com os de fora.
Minhas mãos estão suando frio com a angústia crescente no meu coração. Eu respiro fundo tentando me acalmar.
—Então quer que eu seja sua namorada de fachada até fechar essa negociação? —faço questão de deixar bem claro isso.
—Namorada? — Ele ri. —No Egito nem existe essa palavra. Nós noivamos e nos casamos.
—Então quer que eu seja sua noiva por um tempo até fechar esse negócio e então estarei livre?
—Exato. Eu mesmo faço questão de nunca mais ver a sua cara.
Não sei por que, mas as palavras dele mexem comigo de um jeito estranho. Eu respiro fundo.
—Tudo bem, eu vou com você e simulamos um compromisso.
Ele sorri com sarcasmo.
—Ótimo!
Eu fujo de seus olhos frios para mim:
—Farei minhas malas.
—Leve só seus pertences pessoais. As roupas que eu te dei estão todas lá. Eu não me desfiz de nada.
Aceno um sim para ele e quando estou para me afastar ele me segura pelo braço.
—Não brinque com sua sorte. Saiba que aquela boa alma deu lugar a uma negra. Agora estarei de olho em você. Se fizer seu papel direitinho tudo dará certo.
Balanço minha cabeça em concordância e sigo meu caminho.
Maya
O percurso da minha casa até o aeroporto transcorreu numa infelicidade. Roboticamente entrei num jato branco.
Depois fiquei quatro horas sentada em frente a um Rashid calado que me ignorou por toda a viagem: lendo, ora trabalhando em seu notebook, ora olhando pela janela onde nada podia se ver, apenas nuvens.
Só agora que aterrissamos seu olhar procura o meu.
— Lembre-se que você agora fará tudo que eu disser. Eu não tenho intenção alguma de ser um bárbaro com você, mas não serei feito de tolo novamente. Então coopere.
Aceno um sim com a cabeça com o semblante sério.
O que posso dizer?
A aeromoça abre a porta. Rashid se levanta e estende sua mão para mim. Estremeço com seu gesto.
Eu desengato meu cinto e aceitando sua mão me levanto do banco. Sua mão quente na minha me provoca arrepios de prazer e eu passo a me lamentar por esse homem me afetar tanto.
Será que tem alguém nos esperando lá fora por isso esse gesto? Ou faz parte de sua natureza ser gentil?
Pode ser também um aceno de paz.
Caminhamos de mãos dadas até a saída do jato. Rashid para ante a porta e faz um gesto para eu sair primeiro.
Eu faço isso. Lá embaixo posso ver um carro preto reluzente com a porta traseira aberta. O motorista vestido com roupas orientais o espera do lado de fora.
Desço devagar as escadas, pois minhas pernas estão moles. Fiquei estremecida pelo toque de Rashid. Ainda posso sentir o calor de sua mão na minha.
Eu mal o conheço e ele sempre consegue abalar minhas defesas.
Tão logo começo a descer os degraus, sinto imediatamente a diferença de temperatura.
Allah! Que lugar quente!
Quando desço o último degrau sinto a mão de Rashid nas minhas costas me conduzindo para o carro. Estremeço novamente e meus lábios entreabrem com a minha respiração encurtada. Isso me preocupa. Fico pensando se conseguirei esconder a grande atração que ele me provoca.
O motorista faz uma reverencia para ele e depois para mim. Eu aceno com a cabeça e lhe dou um pequeno sorriso.
—Entre—ouço a voz cheia de autoridade de Rashid. É impressão minha ou ele está incomodado pelo fato de eu ter sorrido para o rapaz?
Eu faço como ele mandou, entro no carro e logo sinto o frescor do ambiente por causa do ar-condicionado ligado.
Agradeço a Allah por isso. Usar o hijab no calor não é fácil.
Deslizo meu bumbum no banco até ficar bem perto da janela e bem longe de Rashid que toma acento ao meu lado.
Tão logo o motorista ocupa a direção o carro parte. Rashid aperta um botão e o vidro preto se ergue nos dando privacidade. Ele então gira a cabeça na minha direção, nossos olhos se encontram e eu trato imediatamente de retirar meus olhos dele.
Allah! Ele é a perfeição em pessoa. Os outros homens parecem rascunhos feitos por Allah até chegar a ele.
— Layla.
Ser chamada pelo nome da minha irmã me incomoda muito.
Já estou aqui no Egito, não estou?
Por que preciso manter essa farsa?
Eu o encaro com o nariz em pé e antes que ele diga algo eu o corto:
—Sou Maya. Eu disse que era Layla quando vi que não acreditaria em mim. Assumi o erro da minha irmã para o senhor ser bem-sucedido nesse negócio com esse sheik. Quero que saiba que lamento muito pelo que ela fez ao senhor e estou disposta a colaborar para deixar esse país o mais rápido possível.
Rashid vira seu corpo na minha direção e me encara com um sorriso no rosto, o descrédito brilha em seus olhos.
—Por que isso? Que fugir de suas responsabilidades?
—Eu sou Maya—insisto.
Seu olhar profundo e penetrante se torna perigoso e minha respiração fica encurtada.
—Ainda insiste nisso? Vamos ver.
Numa gesto rápido, o longo braço de Rashid alcança minha cintura e ele me puxa para ele. Meus lábios se abrem surpresos quando ele me traz com tamanha força que quando me vejo estou sentada praticamente em seu colo.
Meu ar é simplesmente arrancado de meus pulmões quando dou com seus olhos ardentes nos meus. Minha respiração fica encurtada. O idiota de meu coração troveja tão forte que parece que sairá do meu peito. Meu corpo está formigando em todos os lugares.
Ele solta o ar enquanto sua mão direita se move pelo meu rosto e eu fico tensa imediatamente, mas não consigo reagir. Seu olhar tão ardente no meu me paralisa.
Quando ele me vê sem reação suas pupilas se dilatam e suas narinas se expandem, seus lindos lábios se entreabrem.
Allah! Preciso reagir!







