2. UM MUNDO DESCONHECIDO

 Nunca imaginei que uma decisão tão impulsiva me arrastaria ao inferno… Meu nome é Lilian Caleri Pagani, e esta é a história de como arruinei minha vida em menos de uma hora.  

Fiquei em silêncio depois do que o desconhecido me disse. O que eu poderia responder a isso? Ele tinha razão, eu mesma havia destruído o casamento dele e me colocado nesta situação. Só me restava esperar e ver como poderia sair dela, se conseguisse.  

Descemos devagar as escadas. A atmosfera era tensa. Todos nos olhavam. Eu me apertei instintivamente ao braço do senhor Minetti, que, ao sentir meu tremor, rodeou minha cintura com seu braço possessivamente. Um homem muito velho em uma cadeira de rodas, todo trêmulo, pegou minhas mãos, puxando para que eu me inclinasse, e me deu um beijo em cada bochecha.  

—Bem-vinda à família, filha —me disse enquanto me percorria com o olhar e sorria.  O senhor Minetti me sussurrou ao ouvido:  

—É meu avô. —Então eu sorri também.  

Era a primeira vez na minha vida que visitava um lugar desse tipo. Estava cheio de pessoas de alto nível. Todos felicitavam meu marido sem quase prestar atenção em mim. Enquanto tomava uma taça de champanhe, olhei a hora no enorme relógio da parede. Percebi que já era mais de onze da noite. Mamãe deveria estar muito preocupada. Eu precisava encontrar uma maneira de avisá-la de que não voltaria.  

O senhor Minetti, ao me ver sozinha tomando a taça de champanhe, se aproximou, me tomou pela cintura, beijou meus lábios e me puxou para dançar. Nunca na minha vida tive boa habilidade para dançar, ¡tinha dois pés esquerdos! Por isso não entendia como ele poderia me levar assim, com tanta maestria, como se fôssemos um só. Quase me fez esquecer onde estava. Com sua direção, fez com que eu parecesse uma excelente parceira de dança. Olhei admirada ao terminar. Ele me piscou.  

De repente, ouviram-se alguns ruídos. Saltei assustada e me agarrei ao braço do senhor Minetti. Um grande alvoroço se armou. O senhor Minetti correu puxando-me em direção ao seu avô, pegou sua cadeira e a empurrou. Corremos como loucos para o interior da residência e conseguimos nos esconder no escritório. ¡Eu estava tremendo incontrolavelmente! O senhor Minetti se aproximou, me pegou pelos ombros e me sacudiu.  

—¡Lilian, Lilian, escute-me, não saia daqui! ¿Entendido? ¿Você sabe atirar com uma arma? ¡Toma! —Me entregou um revólver que tremia em minha mão.  

Tomei horrorizada, não conseguia acreditar que estava segurando uma arma enquanto balbuciava:  

—Eu…, eu…, nunca peguei uma arma na mão.  

—¡Lilian, não é nada! Olha, segura assim. Já tirei o seguro. Pressione o gatilho, este aqui. ¡Lilian, pare de tremer! —me gritou enquanto me forçava a segurar bem a arma—. ¡Eu preciso ir! Qualquer um que entrar por essa porta, dispare. Vovô, não se mova daqui, tudo ficará bem. Dispare em quem entrar. Vou mandar reforços. ¡Não abram para ninguém!  

E ele se foi, nos deixando sozinhos. O avô me olhava sorrindo, tentando me acalmar, enquanto tentava manter firme o revólver em sua mão trêmula. Mas eu sentia que meu coração ia explodir. O metal frio e pesado em minhas mãos parecia me lembrar o quão longe estava de tudo o que conhecia. Nunca pensei que algo assim estivesse em minhas mãos, em um lugar que até algumas horas atrás eu nem sabia que existia. Olhei para a arma aterrorizada, enquanto tentava fazer minhas lágrimas pararem de fluir. Os minutos passaram, que para mim pareciam séculos.  

A porta começou a se abrir lentamente. Meu coração batia tão forte que não conseguia distinguir se eram passos ou o eco do meu próprio medo. Eu não conseguiria, não conseguiria atirar em ninguém, pensei, mas meus dedos trêmulos já estavam apertando o gatilho. O que veio a seguir foi uma explosão, e uma voz conhecida que rasgou o silêncio:  

—¡Cuidado, Lilian, sou eu, seu marido!  

E sem saber por que, saí correndo, me abracei a ele chorando e o enchi de beijos, enquanto dizia uma e outra vez:  

—¡Graças a Deus que você está bem, graças a Deus!  

Ele ficou sem saber o que fazer. Primeiro, seus braços permaneceram rígidos, como se não soubesse o que fazer. Depois, lentamente, me tomou pela cintura e seu abraço foi diferente: algo quente e protetor que não esperava dele. Terminou me beijando suavemente nos lábios. Até que, percebendo o que estava fazendo, me separei bruscamente de seu corpo, sentindo-me toda avermelhada. O avô nos observava satisfeito.  

—¿Já resolveu tudo? —perguntou ao senhor Minetti com sua voz trêmula.  

—Sim, foram os Conti. Não gostaram do que aconteceu no casamento —respondeu com calma—. Mas tudo está sob controle.  

—Muito bem, quero descansar —disse o avô, soando como uma ordem.  

—Vou chamar o James —e o fez sem deixar de lançar-me olhares furtivos.  

Pouco depois, um homem apareceu, que pegou a cadeira de rodas, disse boa noite e se retiraram. Eu me havia sentado encolhida no sofá. O senhor Minetti ficou me olhando em silêncio. Depois veio, me levantou, sem dizer nada, e me levou com ele até nosso quarto. Vi-o preparar o banho. Ele me ajudou a tirar meu vestido e me indicou que entrasse. Eu fiz isso sem protestar. Meu corpo ainda tremia do medo sem que eu pudesse fazer nada. A água morna me relaxou, e foi então que todo o medo saiu de mim em grandes soluços.  

Depois de um longo banho, e de finalmente parar de chorar, saí e vi o senhor Minetti na varanda, fumando e bebendo. Me aproximei receosa.  

—Senhor Minetti, senhor Minetti —o chamei. Ele se virou devagar, me olhando com aqueles olhos que brilhavam na noite—. Preciso ligar para casa, avisar à mamãe que não voltarei hoje. Não tenho telefone.  

—Você pode ligar do telefone da casa —e apontou para o que estava ao lado da cama—. Amanhã te darei um.  

Sem mais, virou as costas. Eu liguei para minha mãe. Desde que papai morreu, ela havia envelhecido dez anos. Ao atender, a ouvi cheia de preocupação e cansaço, incapaz de entender como seguir em frente depois de ficar sozinha. Eu era seu bastão, seu apoio. Se ela soubesse o que havia feito, a dor a mataria.  

—Mamãe…  

—¡Lili, filha! ¡Que susto eu tive! ¿Onde você está? ¿Por que ainda não voltou? ¿Você viu que horas são? —me encheu de perguntas, como era seu costume.  

—Mamãe, não posso voltar. Hoje farei um turno duplo —menti, porque não sabia como contar a essa loucura que cometi—. Só estou ligando para não se preocupar.  

—Eu disse que você não precisa trabalhar tanto —voltou a me repreender.  

—Mamãe, depois conversamos. Agora preciso continuar trabalhando —insisti na minha história.  

—Está bem, filha, cuide-se —ela aceitou, embora com dúvidas—. Não esqueça que amanhã é o dia da consulta da sua irmã.  

—Não esqueço, mamãe. Estarei lá. Boa noite. Descansa. —Cortei a ligação, sentindo o peso da culpa me afundar no peito. As lágrimas, que mal consegui conter, ameaçavam delatar minha desesperação. 

Se mamãe soubesse a verdade, não aguentaria. Mas não podia contar a ela em que loucura estava metida. Ela me mataria. Muito menos podia dizer a meu noivo. Se ele descobrisse, seria o fim do nosso relacionamento. Quem me mandou aquela mensagem? Com que objetivo? Quem quer que tenha feito isso me conhecia muito bem. Sabia que eu apareceria como uma doida para interromper o casamento.  

¡Oh, Deus! ¿Em que encrenca me meti por não pensar ou averiguar as coisas antes de agir? ¡E esse cara parecia ser perigoso! ¡Ninguém deve saber que estou casada com ele!  

Sem saber como, me deitei na cama e cai em um sono profundo. Queria acordar desse pesadelo, mas não conseguia. Esse homem e seu mundo perigoso eram contrários a tudo o que eu acreditava. E, embora soubesse que devia escapar, não tinha ideia de como fazê-lo sem colocar em risco aqueles que amava. Porque, de qualquer forma, minha vida como a conhecia havia desmoronado. ¡Acabou, Lilian, por suas loucuras!  

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