A notificação apareceu no canto da tela do meu celular no exato momento em que eu saía da academia.Carlos Ricci:🕴️ “Grande evento vindo aí, amigo. Hora de mostrar quem é quem nessa cidade. Te espero lá.”Sem emojis de coração. Sem palminhas. Só aquela arrogância polida que ele sempre usou como perfume.Ri sozinho.Era típico do Carlos: anunciar a própria glória como se estivesse convidando o mundo pra assistir sua coroação. Um noivado com direito a holofotes, colunistas sociais e champagne francês — como se isso fosse apagar a podridão que ele espalhava nos bastidores do hospital. Como se a fantasia fosse suficiente pra esconder o monstro.Mas dessa vez, ele tava se enganando sozinho. E o que ele não sabia… era que o palco já estava montado.Toquei no contato de Aston, e ele atendeu antes do segundo toque.— Fala, irmão.— Ele vai fazer um evento. — fui direto.— Ele quem?— O príncipe encantado da Amanda. Nosso querido Carlos Ricci. Vai anunciar o noivado. Tapete vermelho, imprens
Eu juro que chequei o celular umas duzentas vezes naquela manhã.Não porque eu tava esperando algo importante do trabalho — até porque, sinceramente, eu vinha deixando o trabalho em segundo plano desde que ela tinha sumido.Adeline.Ela tinha dado aquele afastamento clássico. Do tipo que não diz "vai embora", mas também não deixa espaço pra ficar. Eu entendi. Eu respeitei. Mas... esperar por alguém sem saber se ela vai voltar é como manter a porta entreaberta durante uma tempestade — você não sabe se fecha de vez ou deixa aberta e torce pra que o sol volte.E aí, de repente, ela respondeu.“Café da tarde? Hoje?”Li aquela mensagem cinco vezes. O coração deu uma batida estranha, rápida demais, e eu quase ri sozinho, no meio do quarto, parecendo um moleque de ensino médio com crush no banco de trás.Respondi tentando parecer casual:“Sim. Diz o lugar e eu tô lá.”Ela mandou o nome de um café que eu já conhecia — discreto, com um clima de aconchego chique e cheiro constante de bolo de la
O salão estava impecável. O tipo de perfeição que beirava o insuportável.Mármore branco. Lustres de cristal estrategicamente posicionados. Mesas redondas com arranjos florais que custavam mais do que o salário de alguns dos meus enfermeiros. Garçons flutuando com bandejas de champanhe francesa e petiscos em miniatura.Tudo aquilo para quê?Para oficializar o noivado da minha filha com um homem que eu mal conseguia olhar nos olhos.Carlos Ricci.Até pensar no nome dele me dava azia.E ali estava ele: sorrindo para as câmeras, cumprimentando empresários, se comportando como se fosse da família real. O terno sob medida, a barba milimetricamente aparada, o sorriso de vitrine — tudo exatamente onde deveria estar.Um personagem bem ensaiado.E a plateia, infelizmente, aplaudia.Amanda, por outro lado, estava linda.Ela escolheu um vestido champagne, elegante e suave, com detalhes bordados na cintura e um decote discreto. Estava com o cabelo preso em um coque baixo e maquiagem delicada. Par
Hoje era para ser um dia perfeito, pelo menos na teoria.Eu estava empolgada, ansiosa e com borboletas no estômago como não sentia desde a minha adolescência e considerando que eu já tinha 35 anos… isso fazia um bom tempo. Mas o fato era que mesmo depois de tanto tempo juntos, eu ainda sentia aquele friozinho na barriga quando pensava em Carlos. Ele tinha me pedido em noivado no final da residência e desde então, tudo tinha sido uma completa correria. Vida de médico não era fácil e eu sempre soube disso, mas… ele era meu futuro, meu chefe (desde que finalmente conseguiu a promoção que queria como staff no Saint Louis), e claro, meu porto seguro.Ou pelo menos era o que eu pensava.Com um sorriso bobo nos lábios, caminhei apressada pelos corredores do hospital depois de finalmente ter encerrado o meu plantão, eu estava segurando a sacola com o presente que eu tinha escolhido com tanto carinho para comemorarmos juntos essa noite, o nosso aniversário de noivado. Um relógio de luxo que ele
Eu não conseguia parar de pensar na cena que tinha acabado de presenciar. Quanto mais eu lembrava, mais eu sentia meu sangue ferver. O som das risadas abafadas, o cheiro barato do perfume daquela enfermeira, a expressão irritada do Carlos, como se eu fosse a errada da história e a cara de pau dele de dizer na minha cara que eu estava ficando “velha” e que era por isso, que ele estava me traindo com uma enfermeira que mais parecia uma ninfeta.Meu coração martelava no peito, e minha cabeça latejava. Eu precisava fazer alguma coisa. Eu precisava esquecer e por mais que Clara tivesse dito que viria me buscar, eu não queria falar com ninguém. Não agora.E se existia um jeito infalível de esquecer uma merda de traição e uma demissão no mesmo dia, esse jeito envolvia muito, mas muito álcool, então, me levantei da droga do banco, peguei minhas chaves e dirigi para longe daquela porcaria de hospital.Girei e girei pelas ruas da Itália até finalmente encontrar um bar que fosse desconhecido par
O gosto do whisky ainda queimava na minha língua quando aquele garoto me empurrou contra a parede do pequeno quarto dos fundos do bar. O lugar era apertado, cheirava a madeira velha e álcool derramado, mas eu não estava me importando nem um pouco. Minha cabeça girava, e eu não sabia se era por causa do álcool ou da forma como as mãos dele deslizavam pelo meu corpo com tanta facilidade, como se já soubesse exatamente onde tocar.— Está com pressa? — provoquei, arfando, sentindo as mãos dele descerem pelas minhas coxas, puxando minha saia para cima.— Você não? — Ele sorriu, aquele maldito sorriso convencido que me fez querer socá-lo e beijá-lo ao mesmo tempo.Eu ri, mas o som virou um suspiro entrecortado quando ele segurou minha cintura e me ergueu. Em um segundo, minhas costas estavam pressionadas contra a porta e minhas pernas estavam enroscadas na cintura dele. A urgência nos nossos movimentos fazia tudo parecer ainda mais insano. Minha cabeça gritava que era loucura, mas meu corpo
A primeira coisa que eu senti ao acordar foi a dor de cabeça. Uma pontada latejante que parecia castigar cada canto do meu cérebro. A segunda coisa foi o peso de um braço desconhecido sobre a minha cintura.Abri os olhos devagar, piscando contra a claridade suave que entrava pela fresta da cortina. Meu corpo inteiro estava dolorido, mas não de um jeito ruim. Um jeito que denunciava exatamente o que aconteceu na noite passada e porra, era óbvio que tinha sido bom.E foi nesse momento que uma terceira coisa me atingiu em cheio.— Ah, merda... — murmurei, minha voz saindo rouca.Minha cabeça virou devagar, como se meu próprio corpo se recusasse a confirmar o que meu cérebro já sabia. Eu tinha feito uma merda sem tamanho.O ninfeto da noite anterior, um garoto que deveria ter no máximo, 27 anos , completamente nú, dormindo ao meu lado como se não tivesse um único problema na vida.A porra do ninfeto que eu jurei ignorar.Respirei fundo, tentando conter o desespero que começava a subir pel
Eu nasci um Beaumont e como tal, não estava acostumado a nada que não fosse, excelência. Mesmo assim, tinha dias que o sobrenome da família pesava e era por isso que aquele bar, existia. No começo era só uma brincadeira de adolescente. Um lugar para beber e relaxar, longe dos paparazzis ou do controle do meu pai. Mas agora? Depois de assumir a empresa da família e me tornar o responsável por tudo, era difícil manter aquele lugar funcionando.— Vai mesmo fechar? — Henry me perguntou com aquela expressão de incredulidade que deixava claro: ele considerava isso um completo absurdo. — Estou pensando. Nós dois sabemos que eu não vou ter tempo de vir aqui.— E? — Ele sorriu, — eu vou. Bufei.A ideia de manter o bar não era ruim, mas… um bar vinculado a família Beaumont? Era plausível quando o dono era o filho da família, um playboy irresponsável. Só que agora… com o meu pai morto, meu tio doente e a empresa no meu colo? O tempo de playboy tinha ido de ralo e eu tinha que me tornar o rost