Ela se lembrava, não apenas de dormir no peito dele, mas também de como Tank se levantava com todo cuidado do mundo tentando não a acordar. Também só era inteira quando estavam juntos. Passou a mão no rosto do rapaz. — Vai me dizer o que fizeram com você? — Não aconteceu nada, eu achei que tivesse, achei que tivesse perdido tudo hoje. Mas eu não perdi, perdi, minha flor? Dállia negou com a cabeça, Tank não a perderia nunca e era uma pena que ele não soubesse disso. Foram juntos para o banheiro e o rapaz olhou para o lugar como quem julga tudo. — Como conseguiu tudo isso? Esse banheiro é maior do que o meu quarto. A menina não respondeu, continuou tirando a roupa de Tank, os olhos percorrendo cada um daqueles machucados, qualquer outro homem estaria em um hospital e não ali. Era isso que ela enxergava, dedicação, amor, cuidado. — Responde, Dállia! O que precisou fazer para conseguir esse quarto? Para ela a pergunta parecia uma acusação, mas para ele cada palavra doía como br
Tank olhou para aquelas malas, não reconhecia nenhuma, Mel havia comprado roupas novas para Dállia e ele não permitiria que ela usasse as roupas que Russo tinha dado a ela. Se abaixou em frente ao carrinho e vasculhou as malas, eram roupas masculinas, um kit de primeiros-socorros, alguns antibióticos, um celular que abriu com a digital dele. Na caixa havia dinheiro em espécie, não era muito, mas o bastante para o básico e uma carta. Se levantou e leu cada letra procurando pela armadilha. “Olá, Theodoro. Acho que nunca nos apresentamos como deveríamos. Peço desculpas por mim e por cada Foster antes de mim. Não deveria ter crescido sozinho, ninguém deveria. Nossa função não é o tráfico, nem os bares, muito menos os esquemas de tecnologia, nosso código nos diz que antes de tudo, nossas crianças são o futuro. E você foi uma criança que deveria ter sido protegida, falhamos, mas não se esqueça de que apesar disso, é um maggiore, você nasceu entre homens que vivem e morrem por uma lei,
Ele voltava, todos os dias, sem exceção. Saia fingindo ir aos treinamentos da organização, inventava alguma desculpa e corria de volta para ela. Sempre aparecia com alguma coisa, uma flor roubada, um chocolate, ou as caixas de morangos, mas ele sempre voltava. Agora, ele estava ali, parado na porta de um quarto de hotel que nenhum dos dois sabia quanto custava e muito menos quanto aquele sonho duraria. Se sentou em frente a menina e mostrou a caixa de primeiros socorros. — Me ajuda? A voz pareceu extremamente sexy e Dállia passou a língua nos lábios sem perceber o que estava fazendo. Ficou olhando para o rapaz, sentia como se aquilo fosse bom demais para ser real. Por que ele ainda a queria?E quando ele percebeu que a menina estava perdida nos próprios pensamentos, acabou se levantando. — Ok, faço sozinho. — NÃO! Dállia correu até o rapaz, pegou o kit das mãos masculinas, começou por elas. O fez se sentar e limpou cada um daqueles cortes, percebeu que eram mordidas. — Você
Tank olhou para Dállia assim que desligou o telefone, não foi fácil falar aquelas palavras para Louis, ainda assim, achava que era o mais certo, o mais coerente. Ninguém tinha culpa, ninguém além dele e Russo. Muitas vezes se pegou pensando que até mesmo aquele amor era culpa de Russo, não deveria ter se deixado levar, mas gostava de se justificar dizendo para si mesmo que se o pai não tivesse levado Dállia para casa, ele jamais teria se apaixonado. Nem mesmo a conheceria. O problema era que agora, olhando para aquele rosto ele pensava que a vida teria mesmo sido muito miserável se não tivesse conhecido aquela menina. Os soluços de Louis ainda ecoavam nos ouvidos de Tank quando ele tentou sorrir. — Pronto, sou um homem livre. Todo mordido por cães assassinos, mas livre. Casa comigo, minha flor? Dállia nem teve tempo de responder e ele se justificou. — Também não sou homem para casar. Sou pobre, não enxergo de um olho, tenho uma irmã para sustentar e para piorar, tudo o que sei
Tank correu na direção em que viu Dállia pela última vez, estranhou que ela não tivesse percebido a demora dele. Um rapaz estava abaixado segurando a perna da menina, ele não perguntou. O chute acertou a boca e o nariz do homem. — TANK! Dállia gritou, mas Tank não parou. Cada soco foi dado com tanta força que o rapaz só conseguia tentar se defender. Tentou erguer a mão numa defesa inútil. O soco seguinte quebrou três dedos de uma vez.Dállia quis segurar o namorado e como não conseguiu usou o próprio corpo para defender o rapaz. Os olhos de Tank ficaram estáticos, arregalados, o punho erguido no ar. — DálliaEla estava chorando, mas respondeu. — Ele estava me ajudando, eu caí e machuquei o tornozelo. — Ajudando? Tank olhou para a Dállia ainda cego pelo ciúme, mas a ergueu do chão como se levantasse uma princesa. — Eu caí.O rapaz percebeu que ela de fato estava mancando, a ajudou a se sentar e acabou ficando na mesma posição do homem que estava segurando a perna de Dállia.
Tank bateu na porta do quarto do médico, o amigo havia informado não apenas como encontrá-lo, mas também que o rapaz estava sendo atendido por uma equipe médica especializada. Não queria entrar, mas Buck o fez se lembrar de que não deveria quebrar sua palavra com Dállia. — Então o boyzinho está bem, por mim, é isso, volto e dou a notícia para Dállia. — O senhor me disse que deu a sua palavra de que iria ver o senhor Silas. — Silas, Silas, isso lá é nome de homem? — Não sei, senhor, mas não podemos escolher nossos nomes, não é mesmo? — Tá bom, Buck. Por você. — Por ela, senhor. A menina confiou. Tank concordou e foi até o local indicado. Entrou no quarto e a sua presença pareceu pesar no ambiente. Olhou para a cena e pensou. — Nem bati tão forte.Tudo era branco, o rapaz estava cercado de pessoas e o cheiro de iodo o deixou enjoado.Silas estava, deitado como se tivesse perdido uma luta com um caminhão. Colar cervical, os dois braços engessados e uma atadura no nariz que mais
Dállia não respondeu com palavras, ficou olhando para Tank, os olhos fixos onde a mão se movia, hipnotizada com a visão. Tank se aproximou devagar, continuou movendo a mão. Ela salivou, o membro quase colado ao seu rosto, sempre quis provar, era estranho como o que a enojava em outros homens parecia perfeito com ele, mas Tank nunca deixou que ela pusesse a boca nele. Não tentou, apenas deslizou dos dedos na barriga masculina, ergueu a camisa e Tank deixou que ela o despisse, sem pressa. O toque dela era bom de um jeito indescritível. — Ah, minha flor. Se ela soubesse o poder que tinha sobre ele, provavelmente o faria rastejar aos seus pés, mas Tank fazia questão de esconder, de omitir, de negar até a si mesmo aquele sentimento. Dállia passou os dedos pela barriga definida, raspando as unhas devagar deixando um rastro de arrepio e sussurros. Tank travou o maxilar, sentia que ela poderia arrancar o prazer dele só com aqueles carinhos. — Está brincando com fogo, Dállia.Ele nunc
E como se o amor pudesse ser a base para tudo, na manhã seguinte, Tank acordou decidido a realizar aquele sonho, pela primeira vez se viu olhando para o que queria e não apenas para o futuro da irmã. Talvez, e só talvez, pudesse ser assim e o mundo tivesse espaço para que ambos fossem felizes e não apenas ela. Conversou com o gerente do hotel, saber que Endi havia dado cartas brancas a ele fazia tudo mais fácil. Quase gostou do poder.— Preciso de um funcionário seu. — Sim, senhor Theodoro. — Tank, me chame de Tank, por favor. — Sinto muito, senhor Theodoro, mas o senhor Foster deixou ordens claras de que o senhor ainda não foi promovido. Disse que deveria ser exatamente essa a resposta caso pedisse para ser chamado de Tank. O gerente pegou o celular, pigarreou e leu a mensagem que vinha ensaiando para quando aquele dia chegasse. — Seu nome só passa a ser Tank quando concluir a sua primeira missão, não esqueça que está nela e cada passo seu está sendo avaliado. Será uma honra t