5. A Fuga

~ Summer ~

Luxo. Ouro. Paredes que brilham como se quisessem me cegar. Para mim, não passam de grades. O quarto é uma cela dourada. Tento olhar pela janela — o céu está ali, azul profundo, tão perto… mas não para mim. A liberdade é um horizonte que só existe do lado de fora do vidro.

Respiro fundo, tentando empurrar coragem para dentro dos meus pulmões. Deus não me trouxe até aqui para morrer enjaulada. Repito como um mantra, mas a fé parece pequena diante das paredes que me cercam.

Espero. O silêncio da casa vai crescendo, engolindo risos e passos até restar apenas o bater do meu coração. Me levanto. Cada som é perigoso — o ranger da porta, o estalar da madeira, até o roçar dos meus pés descalços no mármore frio. Tudo parece alto demais. Como se a própria casa me delatasse.

A porta principal não cede. Trancada. Claro que estaria. Minha garganta aperta. Tento não chorar. Tento acreditar que ainda existe uma saída. Vejo a cozinha, corro para lá.

“Senhor… guia meus passos… não me abandone agora…”

A porta dos fundos abre. O vento frio me envolve e quase desabo de alívio. Dou um passo, outro, e corro. A terra arranha meus pés, mas eu não sinto dor, só a urgência. Cada batida do meu coração é uma oração. Só mais um pouco. Só mais um passo.

O grito corta a noite.

— Peguem ela!

Não. Não, não. Minhas pernas não obedecem. O medo rouba minhas forças. Mãos me alcançam, prendem meu corpo. Eu grito, esperneio, mas eles riem. Riem da minha luta, como se eu fosse nada. Sou arrastada, jogada de volta ao quarto.

“Não, Senhor, não me deixa aqui…”

A porta se abre outra vez. Ele entra. O ar fica pesado, como se até o oxigênio se curvasse diante dele.

— Você achou que podia fugir? — A voz baixa, mas cada palavra me corta.

Quero desaparecer. Quero me encolher até virar poeira. — Só quero ir embora… — minha voz é quase um fiapo.

O riso dele não tem alegria. Só crueldade. Sua mão prende meu rosto, seus olhos queimam os meus.

— Não existe “ir embora”. Você é minha.

— Minha vida pertence a Deus. — Tento acreditar no que digo. Tento acreditar que não estou sozinha.

A raiva nele é tão viva que parece iluminar a escuridão. — Deus… — ele cospe o nome. — Vamos ver o quanto esse Deus te protege.

Sou arrastada pelos cabelos. A dor me arranca lágrimas, mas não solto um som. Não vou dar a ele essa vitória. A porta de ferro se abre. O cheiro de mofo me invade. O chão do porão me recebe com brutalidade. Correntes apertam meus pulsos. O som ecoa. Um fim anunciado.

— Aqui você vai aprender. — a voz dele desce sobre mim como sentença.

Tremo, choro, mas as palavras me escapam, sozinhas:

— O Senhor é meu pastor… nada me faltará…

Ele segura meu queixo. Sua pele queima, não pelo calor, mas pela força.

— Continue rezando, docinho. Reze até perder a voz. Mas aqui, só existe a minha vontade.

Ele me deixa no escuro. Tento orar, mas cada sílaba sai quebrada, fraca. A fé é a única coisa que ainda é minha, e mesmo assim ele tenta arrancar. O silêncio me pressiona até eu perder noção do tempo.

Então, os passos voltam. A porta range. Meu coração se despedaça em terror. É ele.

Cada degrau que ele desce é uma batida de martelo dentro da minha cabeça. Ele para diante de mim, agacha-se. A mão áspera toca meu rosto. Tento virar, mas ele me obriga a olhar.

— Ainda acredita que Deus vai te tirar daqui? — sussurra.

Minha voz sai trêmula, mas firme: — Sim.

O riso dele é baixo, arranha meus ossos. Então sua boca toca a minha.

Não é um beijo. É posse. É invasão. Um choque que me paralisa. Tento resistir, minhas correntes chacoalham, mas ele é a muralha e eu sou pó. O gosto metálico se mistura ao medo.

Quando ele se afasta, meu corpo inteiro treme. Minhas lágrimas escorrem junto com o pedido sufocado:

— Deus… me perdoa…

Ele me observa. Olhos escuros, cheios de algo que não consigo decifrar — triunfo? Desejo? Raiva? Tudo junto? Passa o polegar pelos meus lábios, marcando território.

— Viu, Summer? Pode rezar o quanto quiser. Mas aqui, até o seu corpo sabe a quem pertence.

Minha fé grita que ele mente. Minha mente sabe que preciso odiá-lo. Mas meu corpo… meu corpo treme não só de medo.

Abraço os joelhos, soluçando. — É síndrome de Estocolmo… é só isso… só isso… — repito, desesperada.

Mas a lembrança dele continua, queimando como cicatriz.

E no fundo mais escuro de mim, a verdade me apavora mais do que ele:

Eu não quero me livrar.

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