Estou revigorado. A adrenalina da noite anterior ainda corre nas minhas veias. A garota, Summer, mexeu comigo mais do que deveria, mas não vou deixar que isso me distraia. Sou um homem prático. Sempre consigo o que quero.
Depois de um banho rápido, visto um terno preto impecável e sigo para um dos meus bordéis. Tiffany me espera no salão principal, como sempre. Está sentada em um sofá de couro vermelho, com um vestido que grita provocação e um sorriso cheio de intenções.
— Demorou, chefinho — diz ela, jogando o cabelo loiro por cima do ombro.
— Estava resolvendo assuntos importantes — respondo, sentando ao seu lado.
Tiffany se inclina, os dedos deslizando pelo meu peito. — Sempre trabalhando. Você precisa relaxar, Gael.
— E é pra isso que você está aqui, não é? — sorrio de canto, puxando-a para um beijo.
Nossos lábios se encontram, e tudo deveria ser simples. Mas não é. Porque não vejo Tiffany — vejo Summer. Seu rosto me vem à mente. Os olhos assustados. A resistência. A fragilidade.
Meu desejo cresce, mas não é por quem está nos meus braços agora.
Interrompo o beijo bruscamente, afastando Tiffany.
— O que foi? — ela pergunta, entre ofendida e curiosa.
— Nada. Preciso cuidar de algo no escritório.
Ela revira os olhos, mas não insiste.
No escritório, acendo um charuto e me jogo na cadeira de couro. Estou impaciente. Tudo me irrita. Meus olhos percorrem os relatórios, mas não consigo me concentrar. Então, um dos meus homens entra, visivelmente nervoso.
— Chefe... temos um problema.
— Fale logo.
— Uma das encomendas... foi desviada.
Fecho a mão com força, o charuto quase se partindo entre meus dedos. Me levanto devagar. A raiva lateja sob minha pele.
— Quem foi o responsável?
— Ainda estamos investigando, mas...
— Não me venha com desculpas! — urro, atirando o charuto aceso contra a parede. Ele estoura em brasas no chão. — Alguém vai pagar por isso!
Meu olhar é lâmina. O homem recua, pálido, e sai do escritório antes que eu o mate ali mesmo.
Não tolero erros. Quem mexe com os meus negócios cava a própria cova.
Chego em casa ainda fervendo. A tensão me consome por dentro, como fogo ácido. A velha que cuida da casa me espera no corredor, os olhos baixos.
— A garota... Summer... ela se recusou a comer, senhor.
— O quê? — minha voz sai grave, mais gutural do que humana.
— Disse que não queria. Não tocou em nada — ela responde, quase sussurrando.
Sinto algo estalar dentro de mim. A última gota. Subo as escadas como uma tempestade. Cada passo parece ecoar a fúria contida. Abro a porta do quarto com violência. A madeira range, quase cede.
Summer está sentada no chão, encostada na cama. Os olhos vermelhos. Me encara, mas não diz nada.
— Que tipo de joguinho acha que está fazendo? — rosno, cruzando o quarto em direção a ela.
— Não estou com fome — murmura, a voz quase inaudível.
— Não está com fome?! — grito, as palavras impregnadas de sarcasmo e fúria. — Isso aqui não é um hotel, Summer. É uma ordem. Você me obedece. Sempre!
Ela tenta se levantar. Eu a empurro de volta com facilidade. O olhar dela é um misto de medo e desafio. Ainda tenta resistir. Ainda não entendeu.
— Não me toque! — diz, a voz trêmula, mas firme.
— Você ainda não entendeu, não é? Eu sou o dono da sua realidade agora. Vai fazer o que eu mando. Nem que seja à força.
Ela abaixa a cabeça, em silêncio.
— Quando eu mandar comer, você come. Está claro?
Ela faz que sim, devagar, sem me encarar.
— Ótimo — digo, virando para sair. Mas antes de fechar a porta, olho para trás. — E quando eu falar com você, me responde.
— Tudo bem, senhor — responde, com a voz trêmula, quase um sussurro.
Fecho a porta com força. O som ecoa no corredor vazio.
A raiva não passa. Ela queima, me consome. Algo nela me tira do controle — e isso me enfurece ainda mais. Caminho até a parede do corredor e, sem pensar, acerto um soco com toda a força. O estalo dos ossos contra o concreto reverbera no meu crânio.
A dor não alivia. Só alimenta.
Fico ali, ofegante, encarando o sangue escorrendo dos meus nós dos dedos.
Esse jogo está indo longe demais. E, no fim, alguém vai sair destruído. Mesmo que seja eu.