— Carina!
A voz de Miguel continuava a mesma: suave e acolhedora, como sempre fora.
Mas, para mim, agora parecia um espinho macio, perfurando silenciosamente meu peito.
Um homem que, por fora, parecia tão gentil e inofensivo, mas cujo interior era escuro como a noite.
Para alcançar seus objetivos, ele não hesitaria em destruir tudo ao seu redor.
Respirei fundo, engolindo a dor, e fui direto ao ponto.
— Miguel, preciso da sua ajuda.
— Diga. — Respondeu ele, mas sua entonação já não era a mesma.
Agora que ele assumira o comando do Grupo Martins, sua voz carregava o tom de alguém no poder.
Afinal, o cargo não muda apenas a mente, mas também as palavras.
— Uma ex-funcionária da empresa, Ana Gomes, também minha amiga, desapareceu. Preciso que você a encontre.
— Ana Gomes? — Ele repetiu, e depois respondeu sem hesitar:
— Certo.
— Obrigada, Miguel.
Minha resposta foi formal, como sempre.
— Carina.
Ele chamou meu nome suavemente.
— Podemos nos encontrar?
— Claro. Quando?
Respondi sem hesitação