DanielA porta pesada da sede da máfia se fecha atrás de mim com um estalo seco, como se cada clique das trancas ecoasse a decisão silenciosa que paira sobre essa reunião. O cheiro de couro, charuto e madeira envelhecida impregna o ar, uma combinação tão familiar quanto perturbadora. Estou acostumado a ambientes sombrios, a presença de homens perigosos, mas hoje... hoje parece diferente. Meu sangue corre quente nas minhas veias, e a adrenalina sussurra segredos que ainda não compreendo.Don Vittorio está sentado em sua poltrona imponente, um copo de uísque repousando em uma das mãos, os olhos fixos em mim. É um olhar pesado, calculista, mas também carrega algo a mais, algo que me faz endireitar a postura imediatamente.— Daniel Malta — sua voz ressoa com a gravidade de um veredito — finalmente chegou o momento.Não respondo de imediato. Aprendi que, com homens como Don Vittorio, o silêncio é uma arma tão afiada quanto uma lâmina.— Todos os testes foram feitos. — Ele tamborila os dedo
Daniel O silêncio da noite é enganador. Há algo pulsando no ar, como se a própria escuridão soubesse que estou prestes a explodir. Meu coração bate pesado dentro do peito, cada batida uma martelada seca. Desde a conversa com Don Vittorio, minha mente não encontra descanso. Filho legítimo de Castellano. Uma cadeira no conselho. Um convite, mas ao mesmo tempo uma sentença.E Raissa. O rosto dela invade meus pensamentos sem piedade.Pego o telefone e ligo para ela.— Daniel? — a voz dela é suave, doce. Como diabos alguém como eu conseguiu isso?— Está em casa?— Sim.— Estou indo.O silêncio dela me faz sorrir. Sei que sua resposta é um aceno tímido do outro lado da linha.Chego à casa dos Horn com o motor ainda vibrando. A casa é grande, mas discreta, como quem tem dinheiro mas não quer alardear. Raissa abre a porta, linda como sempre, um vestido simples que molda o corpo dela de um jeito quase cruel.— Daniel, meus pais estão aqui — ela diz, um leve rubor nas bochechas.Ótimo. Conhece
Um mês depoisDavidA música explode pelos alto-falantes, uma batida vibrante que parece sincronizar com os corações pulsantes ao meu redor. As luzes coloridas dançam pelo salão luxuoso, refletindo nos copos erguidos, nos sorrisos escancarados e nas lágrimas emocionadas de quem finalmente chegou ao fim de mais um ciclo. Hoje não somos herdeiros, não somos mafiosos, não somos soldados. Hoje somos apenas jovens comemorando uma conquista. Hoje sou apenas David Lambertini, formando em Administração de Empresas.Olho ao redor, absorvendo cada detalhe. Lizandra está radiante, mesmo sem a taça de champanhe que todos carregam. A gravidez a impede de beber, mas não de sorrir, de rir, de brilhar. Seu vestido vermelho molda sua figura com elegância, enquanto sua mão pousa sutilmente sobre a barriga, um gesto instintivo que me faz querer puxá-la para perto e nunca mais soltar.— Estamos formados — ela diz, os olhos brilhando, a voz embargada de emoção. — Conseguimos meu amor.— Conseguimos — rep
DerickO vazio me consome. Acordo, respiro, existo… mas não vivo. Tudo ao meu redor perdeu a cor desde que Nara sumiu. A casa está silenciosa demais, a base da empresa sem cor, tudo grande, sem graça, o mundo está frio demais. Cada canto ecoa sua ausência. Tento me afundar no trabalho, nas missões, no caos que sempre foi o meu combustível. Mas nada me satisfaz. Porque a única coisa que eu queria não está aqui… e não sei onde está, ainda tem o filho da putta arrogante do David f0dendo a minha paciência..Mais de um mês que cometi o meu maior ato de covardia, e eu, com a minha cara de idi0ta e a consciência pesada, tento aliviar a dor, mas não consigo. Deposito o salário dela como se ela continuasse aqui, pontual como um relógio. Não porque sou um homem bom, longe disso, mas porque é o mínimo que posso fazer. Nara abandonou tudo pela merda que eu fiz. Rasguei o vínculo que ela tinha com a máfia, a afastei da segurança de Raissa e dos Lambertini… arranquei dela até a vontade de ficar. No
DerickNo quarto pequeno e abafado, jogo a mochila em um canto e encaro o teto. As paredes parecem se fechar ao meu redor, como se a própria estrutura soubesse do caos que carrego no peito. O cheiro enjoativo de desinfetante gruda em mim, mas é o menor dos meus problemas.Meu celular está quente na minha mão. Deslizo as fotos dela, como faço todas as noites, cada imagem, uma punhalada em meu coração. Nara sorrindo timidamente, Nara de costas, os cabelos soltos… Nara nos meus braços. A memória do toque dela é uma tortura constante, um veneno lento que me consome a cada batida do meu coração.E então, lembro.A última vez que estivemos juntos. A forma como roubei dela o que não tinha direito de tomar. A cena se repete em minha mente como um filme malldito, cada detalhe marcado a ferro em minha alma.Uma lágrima escorre. E outra. E mais outra. Até que estou ali, um homem que já matou dezenas, chorando como uma criança perdida.— Se eu conseguir te encontrar… — murmuro, a voz rouca de dor
DerickA imagem carrega devagar, mas finalmente aparece.Nara. Sentada, abraçando a si mesma, como se tentasse se proteger do mundo, aparentando enorme fragilidade e isso me quebra masi um pouco. Logo depois, entrando em um dos consultórios.Mas não há vídeo dela saindo. Nada mais.— Porrah! — grito, arremessando um copo contra a parede.Então, o meu celular vibra.Uma notificação. Compra aprovada: Cartão de crédito Nara Silt — Bariloche, Argentina.Minha fúria sobe como um incêndio incontrolável. Está fugindo de mim. Me levando em um jogo mortal de gato e rato.— Você quer brincar, Nara? — murmuro, a voz carregada de veneno.Uma mensagem anônima surge na tela. Sem rastros. Sem origem."Reaper, está quente ou frio? Vamos brincar mais um pouco? ❤️"Assinado: Hello Kitty.Meus punhos cerram.Alguém está jogando comigo. Alguém está protegendo e escondendo Nara.Mas quem?Por que estão brincando comigo?E até onde isso vai chegar?O silêncio do quarto é esmagador, mas dentro de mim há um
LizandraSe existe uma coisa que eu não esperava ao pisar na fazenda hoje era ser recebida como se fosse um criminoso em fuga. Mas vamos por partes.Eu deveria ter avisado que viria. Mas entre a correria do dia, as meninas empolgadas e minha cabeça cheia de ideias para a obra, simplesmente esqueci. Agora, parada no centro da fazenda, com Alice e Alicia ao meu lado, não consigo conter o sorrisinho satisfeito ao ver o quanto tudo está encaminhado. O cheiro característico da fazenda mistura-se ao ar fresco e à poeira da construção, e eu respiro fundo, absorvendo tudo.— Uau! — Alice exclama, de olhos arregalados. — Isso está incrível!Alicia assente, dando uma voltinha para absorver todos os detalhes.— Quando você disse que estava reformando a fazenda, eu não imaginei que estivesse construindo um pequeno império.Eu sorrio, satisfeita. O projeto está ganhando forma exatamente como eu queria. A engenheira realmente seguiu tudo que combinamos. A esterqueira foi posicionada no centro, rece
DavidA noite está tão silenciosa que até o som da minha própria respiração parece ecoar pela mansão. Mas dentro de mim, um turbilhão ruge. O medo, algo que eu sempre considerei um conceito alheio, agora é um visitante constante em minha mente. E ele tem nome: Lizandra, principalmente depois que me senti tão vulnerável hoje, imaginando que ela poderia ter caído em mãos erradas.Sentados à mesa de jantar, a família está reunida. Lizandra ao meu lado, sua mão delicada repousa sobre a minha, como se fosse um lembrete silencioso de que estamos juntos em tudo. Ela está radiante, a gravidez parece ter intensificado ainda mais sua beleza, sua pele brilha, e seu sorriso ilumina o ambiente. As gêmeas, Alice e Alicia, estão energia pura. Correm pela sala após a sobremesa, rindo e gritando, empolgadas com a chegada das sobrinhas.— Elas nem nasceram e já têm duas tias completamente malucas por elas — Lizandra comenta, acariciando a barriga arredondada.Sorrio, mas meu coração pesa. Faço questão