LizandraA vingança tem um cheiro peculiar. Hoje, eu não sou só Lizandra Lambertini, a esposa de David ou a mãe das suas filhas. Eu sou a garota que viu um amigo crescer ao seu lado e por pouco não tivemos as famílias trocadas, sou a mulher que carrega o peso de uma história que precisa ser encerrada.David está ao meu lado, mas a inquietude é um manto invisível que o cobre da cabeça aos pés. Seus dedos tamborilam contra a lateral da calça, um ritmo contido, como se cada batida fosse uma explosão engolida.— Liza, precisamos conversar. — Sua voz é um sussurro, suave demais para um homem como ele.Sei que ele teme por mim. Ou melhor, pelas nossas filhas. Ele olha para minha barriga saliente como se cada palavra pudesse estilhaçar aquela bolha de proteção que ele construiu em torno de nós.— O general Castellano... — Ele prende a respiração após a revelação, esperando por minha reação.Apenas balanço a cabeça. Eu já sabia.— Quero vê-lo. — Minha voz é firme, sem espaço para negociação.
DanielEm resposta ao passado, esto aqui, um passado que marcou a minha mãe e também o meu pai, ja conversamos de homem para homem, e ele confessu algumas dores, porém deixou claro que o erro do Castellano não relfete no quanto ele me ama, meu pai me tem como um filho legítimo e ainda citou que o infeliz, foi apenas um doador de esperma, e isso, de certa forma me alivia, por que saber que fui concebido, através de um estupr0, não foi fácil, mas sobrevivi e agora estou aqui.O cheiro de sangue fresco me preenche as narinas antes mesmo de cruzar a porta do galpão. É acre, metálico, quase sufocante. Mas não me incomoda. Não mais. Estou encostado na parede, braços cruzados, esperando. Minha mente, no entanto, não está ali. Está anos atrás, em um passado que não vivi, mas sei o quanto machucou a minha mãe.Aquele homem imundo, o general Castellano, está acorrentado diante de nós. Um monte de carne velha, apodrecendo por dentro e por fora. Vejo cada hematoma, cada corte, cada marca deixada
Marco SilaEu sou Marco Sila. Não sou um homem comum. Não sou um homem bom. Eu sou um sobrevivente.Desde pequeno, aprendi que o mundo é uma selva. Não há bondade sem segundas intenções, não há amor sem um custo. A minha mãe, dona Judite Sila, tentou me ensinar o contrário. Era uma mulher forte, doce comigo, mas devastada pela perda do meu pai, Martin Sossa. Um homem que, para mim, era um rei. O verdadeiro padrão de um mafioso.Meu pai não aceitava a fraqueza. O Don anterior era uma piada, um frouxo que perdia respeito dia após dia. Meu pai não apenas quis mudar isso — ele agiu. Assassinou o Don sem hesitar, um ato de coragem e poder. Mas o que ele não previu foi a vingança do filho dele, o maldito Vittorio Lambertini. Uma resposta cruel e impiedosa. Vittorio matou meu pai, deixando minha mãe viúva e a mim, um garoto perdido, mas consciente.Eu vi o corpo do meu pai no caixão, lembro-me do cheiro das flores misturado ao cheiro de sangue. Eu era só uma criança, mas sabia que um dia ret
DanielA porta pesada da sede da máfia se fecha atrás de mim com um estalo seco, como se cada clique das trancas ecoasse a decisão silenciosa que paira sobre essa reunião. O cheiro de couro, charuto e madeira envelhecida impregna o ar, uma combinação tão familiar quanto perturbadora. Estou acostumado a ambientes sombrios, a presença de homens perigosos, mas hoje... hoje parece diferente. Meu sangue corre quente nas minhas veias, e a adrenalina sussurra segredos que ainda não compreendo.Don Vittorio está sentado em sua poltrona imponente, um copo de uísque repousando em uma das mãos, os olhos fixos em mim. É um olhar pesado, calculista, mas também carrega algo a mais, algo que me faz endireitar a postura imediatamente.— Daniel Malta — sua voz ressoa com a gravidade de um veredito — finalmente chegou o momento.Não respondo de imediato. Aprendi que, com homens como Don Vittorio, o silêncio é uma arma tão afiada quanto uma lâmina.— Todos os testes foram feitos. — Ele tamborila os dedo
Daniel O silêncio da noite é enganador. Há algo pulsando no ar, como se a própria escuridão soubesse que estou prestes a explodir. Meu coração bate pesado dentro do peito, cada batida uma martelada seca. Desde a conversa com Don Vittorio, minha mente não encontra descanso. Filho legítimo de Castellano. Uma cadeira no conselho. Um convite, mas ao mesmo tempo uma sentença.E Raissa. O rosto dela invade meus pensamentos sem piedade.Pego o telefone e ligo para ela.— Daniel? — a voz dela é suave, doce. Como diabos alguém como eu conseguiu isso?— Está em casa?— Sim.— Estou indo.O silêncio dela me faz sorrir. Sei que sua resposta é um aceno tímido do outro lado da linha.Chego à casa dos Horn com o motor ainda vibrando. A casa é grande, mas discreta, como quem tem dinheiro mas não quer alardear. Raissa abre a porta, linda como sempre, um vestido simples que molda o corpo dela de um jeito quase cruel.— Daniel, meus pais estão aqui — ela diz, um leve rubor nas bochechas.Ótimo. Conhece
Um mês depoisDavidA música explode pelos alto-falantes, uma batida vibrante que parece sincronizar com os corações pulsantes ao meu redor. As luzes coloridas dançam pelo salão luxuoso, refletindo nos copos erguidos, nos sorrisos escancarados e nas lágrimas emocionadas de quem finalmente chegou ao fim de mais um ciclo. Hoje não somos herdeiros, não somos mafiosos, não somos soldados. Hoje somos apenas jovens comemorando uma conquista. Hoje sou apenas David Lambertini, formando em Administração de Empresas.Olho ao redor, absorvendo cada detalhe. Lizandra está radiante, mesmo sem a taça de champanhe que todos carregam. A gravidez a impede de beber, mas não de sorrir, de rir, de brilhar. Seu vestido vermelho molda sua figura com elegância, enquanto sua mão pousa sutilmente sobre a barriga, um gesto instintivo que me faz querer puxá-la para perto e nunca mais soltar.— Estamos formados — ela diz, os olhos brilhando, a voz embargada de emoção. — Conseguimos meu amor.— Conseguimos — rep
DerickO vazio me consome. Acordo, respiro, existo… mas não vivo. Tudo ao meu redor perdeu a cor desde que Nara sumiu. A casa está silenciosa demais, a base da empresa sem cor, tudo grande, sem graça, o mundo está frio demais. Cada canto ecoa sua ausência. Tento me afundar no trabalho, nas missões, no caos que sempre foi o meu combustível. Mas nada me satisfaz. Porque a única coisa que eu queria não está aqui… e não sei onde está, ainda tem o filho da putta arrogante do David f0dendo a minha paciência..Mais de um mês que cometi o meu maior ato de covardia, e eu, com a minha cara de idi0ta e a consciência pesada, tento aliviar a dor, mas não consigo. Deposito o salário dela como se ela continuasse aqui, pontual como um relógio. Não porque sou um homem bom, longe disso, mas porque é o mínimo que posso fazer. Nara abandonou tudo pela merda que eu fiz. Rasguei o vínculo que ela tinha com a máfia, a afastei da segurança de Raissa e dos Lambertini… arranquei dela até a vontade de ficar. No
DerickNo quarto pequeno e abafado, jogo a mochila em um canto e encaro o teto. As paredes parecem se fechar ao meu redor, como se a própria estrutura soubesse do caos que carrego no peito. O cheiro enjoativo de desinfetante gruda em mim, mas é o menor dos meus problemas.Meu celular está quente na minha mão. Deslizo as fotos dela, como faço todas as noites, cada imagem, uma punhalada em meu coração. Nara sorrindo timidamente, Nara de costas, os cabelos soltos… Nara nos meus braços. A memória do toque dela é uma tortura constante, um veneno lento que me consome a cada batida do meu coração.E então, lembro.A última vez que estivemos juntos. A forma como roubei dela o que não tinha direito de tomar. A cena se repete em minha mente como um filme malldito, cada detalhe marcado a ferro em minha alma.Uma lágrima escorre. E outra. E mais outra. Até que estou ali, um homem que já matou dezenas, chorando como uma criança perdida.— Se eu conseguir te encontrar… — murmuro, a voz rouca de dor