Depois do jantar — ou, como eu comecei a chamar, da entrevista informal de "tensão contida com Luca Moretti" — resolvi explorar um pouco a mansão. Ou pelo menos, os cômodos que me eram permitidos. Abri a porta da varanda lateral e saí para o jardim. A noite estava fresca, o céu coberto de nuvens grossas. Respirei fundo, tentando reorganizar os pensamentos. Foi quando ouvi passos. — Não recomendo sair sozinha por aqui — disse uma voz atrás de mim. Virei devagar e dei de cara com Marco. Alto, elegante em seu terno escuro, olhos castanhos frios e um ar de quem sempre estava analisando tudo. — Não estou fugindo, se é o que veio checar — respondi, cruzando os braços. — Não pensei que estivesse. Mas os protocolos de segurança são claros, e... — ele fez uma pausa — nós temos ordens. — Ordens de Luca? — Ordens de mantê-la viva. Antes que eu pudesse retrucar, um segundo vulto surgiu ao lado de Marco, encostado numa das colunas com um sorriso debochado no rosto. — Está interrompendo
Eu a observei enquanto ela subia as escadas à minha frente, seu passo hesitante, mas não fragilizado. A postura, quase defensiva, como se sentisse que todos ao redor estavam aguardando algum erro da parte dela. Eu a compreendia. Era um ambiente novo para ela, e tudo ao seu redor gritava perigo. Mas ela não se deixava abater. Ela não era uma fraca. Não poderia ser.Não com Luca ao seu lado. A mansão estava quieta à noite, exceto pelo som dos passos. O lugar parecia gigantesco demais para alguém sozinha, e isso me incomodava mais do que deveria. Ela não era uma prisioneira, mas estava presa. Eu sabia disso. E sabia também que era nossa responsabilidade manter isso em segredo. Não podia haver distrações.Rafael já havia saído para dar uma volta pelo perímetro, como sempre fazia depois de uma missão. Enzo estava se ocupando dos detalhes da segurança da casa, vigiando como um predador silencioso. E Adrian… Bem, esse era mais difícil de ler. Ele estava ali, mas ao mesmo tempo, não estava.
Eu a observei enquanto ela subia as escadas à minha frente, seu passo hesitante, mas não fragilizado. A postura, quase defensiva, como se sentisse que todos ao redor estavam aguardando algum erro da parte dela. Eu a compreendia. Era um ambiente novo para ela, e tudo ao seu redor gritava perigo. Mas ela não se deixava abater. Ela não era uma fraca. Não poderia ser. Não com Luca ao seu lado. A mansão estava quieta à noite, exceto pelo som dos passos. O lugar parecia gigantesco demais para alguém sozinha, e isso me incomodava mais do que deveria. Ela não era uma prisioneira, mas estava presa. Eu sabia disso. E sabia também que era nossa responsabilidade manter isso em segredo. Não podia haver distrações. Rafael já havia saído para dar uma volta pelo perímetro, como sempre fazia depois de uma missão. Enzo estava se ocupando dos detalhes da segurança da casa, vigiando como um predador silencioso. E Adrian… Bem, Adrian era mais difícil de ler. Ele estava ali, mas ao mesmo tempo, não est
A noite estava quieta, com exceção dos sons abafados do vento que arrastava as folhas secas no jardim. Dentro da mansão, eu observava Sara de longe. Ela estava sentada na poltrona perto da janela, o olhar perdido na vastidão da cidade lá fora, como se tentasse encontrar algo além das paredes que a cercavam. Algo que a conectasse ao mundo que ela havia deixado para trás. O som dos passos de Marco a ecoava pela casa, mas ela parecia alheia a tudo. Não conseguia esconder o fato de que ainda estava em guerra consigo mesma. Eu sabia que ela não era como as outras mulheres com quem me envolvi. Ela não se renderia facilmente. Mas o que me intrigava era o porquê dela não ter se afastado ainda, depois de tudo o que aconteceu. O que ela via em mim, no que eu oferecia, ou no que ela acreditava ser capaz de conquistar? Aquela aura de resistência… ela não era apenas uma mulher corajosa, ela era uma mulher que sabia o que queria, embora tivesse dificuldade em admitir isso, até mesmo para si mesma
POV SaraTerminamos o jantar em silêncio.Um silêncio cheio de coisas que não sabíamos como dizer. Ou talvez, que sabíamos, mas ainda não estávamos prontos para admitir.Luca recolheu os pratos e os colocou na pia como se fizesse aquilo todos os dias. Parte de mim se espantava com o contraste entre o homem que falava com os olhos e o “chefe” que seus homens temiam. A outra parte... só queria entender por que meu peito parecia querer explodir toda vez que ele se aproximava.— Obrigada pela comida — murmurei, passando os dedos pela borda da taça de vinho. — Estava realmente deliciosa.Ele me lançou um olhar por cima do ombro, secando as mãos.— Eu precisava que você comesse. Está pálida desde que chegou.Fiz uma careta.— Isso é jeito de dizer que estou horrível?— É meu jeito de dizer que você precisa se cuidar.Levantei da cadeira, cruzando os braços na frente do corpo, como uma barreira imaginária.— E voltar à minha vida é parte disso.Ele parou. Os olhos âmbar fixos em mim. Frios e
Ponto de vista de LucaA porta do quarto dela se fechou, e o som ecoou na minha mente por alguns segundos a mais do que deveria.Fiquei ali parado, no pé da escada, com os dedos ainda formigando pela breve proximidade. Por mais que tentasse me manter distante, frio, objetivo… a verdade era uma só: Sara mexia comigo de um jeito que ninguém mais conseguia.Subi para meu quarto em silêncio. Os corredores estavam escuros, exceto pelas luzes fracas embutidas nas paredes. Eu conhecia cada canto daquele lugar. Cada centímetro. Tinha sido projetado para ser uma fortaleza, mas hoje... parecia mais um abrigo temporário de segredos e cicatrizes abertas.Fechei a porta atrás de mim, soltando o ar como se finalmente pudesse respirar sem que alguém observasse. Estava me mantendo em pé por orgulho. Por necessidade. Mas a dor latejava nos músculos, especialmente no abdômen, onde os dois malditos tiros ainda deixavam sua marca.Lentamente, tirei a camisa. O tecido grudado na pele, colado com suor, san
A chuva caía como se quisesse lavar o mundo inteiro. As gotas batiam contra meu casaco encharcado, e cada passo pela calçada vazia ecoava como um sussurro incômodo no meu ouvido. Eram 23h37 quando girei a chave na porta de casa. Exausta, com o corpo pedindo socorro depois de mais de dezoito horas no hospital, tudo que eu queria era uma ducha quente e silêncio.Mas o que encontrei foi o oposto.Fechei a porta atrás de mim e deixei as chaves caírem na mesinha do corredor. Minha mochila escorregou do ombro. Ia direto para o chuveiro, mas então vi, um rastro escuro no chão. Gotas vermelhas. Não, não gotas. Marcas de Sague.Meu coração deu um salto seco. Travei. A luz fraca da luminária da sala desenhava sombras no chão de madeira, e o silêncio da casa parecia mais pesado do que nunca. Eu deveria ter corrido. Deveria ter ligado para polícia. Mas minha mente treinada em emergência agiu antes de qualquer medo.Meus olhos seguiram o rastro. As marcas iam do parapeito da janela até o centro d
O frio me envolveu de novo. Mas dessa vez, não era da chuva. Era medo puro. Um tipo de medo que nunca senti, mesmo nos piores plantões da faculdade.— Você está dizendo que minha vida corre perigo— Estou dizendo que ela já mudou. — Ele me encarou de novo. — E se quiser viver… vai ter que confiar em mim.Dei um passo para trás.— Confiar em você? Um mafioso? Você invadiu minha casa sangrando, caiu no meu chão, me contou uma história absurda e agora quer que eu confie?Ele suspirou fundo, com um cansaço que parecia pesar mais do que as balas.— Eu poderia ter lhe deixado no escuro. Poderia ter morrido na rua ou invadido qualquer outro lugar. Mas vim aqui. Porque o sangue do seu pai corre em você. Porque ele salvou o meu pai inúmeras vezes. E agora… eu estou pagando essa dívida.A confusão se misturava com a adrenalina. Eu não sabia o que era verdade, mas sabia que aqueles olhos — frios e intensos — não mentiam.— O que você quer de mim? — perguntei, a voz baixa.Ele me olhou por um lon