Três dias desde que Victor a viu pela última vez na biblioteca da mansão Willivam, vestindo uma blusa azul-clara emprestada de Maria e rindo de algo bobo que Benjamin dissera. Três dias desde que o calor dela desaparecera dos corredores, desde que o silêncio começara a gritar entre as paredes do quarto que ela mal começara a chamar de lar.Benjamin não dormia. O rosto cansado, os olhos fundos, a barba por fazer. Ele se recusava a comer, recusava a sair da mansão, recusava qualquer palavra que não estivesse diretamente ligada a encontrar Amber.Victor, por outro lado, parecia prestes a explodir. Já havia vasculhado cada centímetro da cidade, intimidado possíveis cúmplices de Olga, ameaçado seguranças antigos da escola, e dormia com o celular embaixo do travesseiro, esperando uma ligação, um sinal, qualquer coisa.Foi Maria quem recebeu a entrega.Estava na cozinha com a governanta quando o porteiro anunciou que havia uma encomenda sem remetente. A caixa era pequena, leve demais para alg
A sala da mansão Willivam estava em completo silêncio. A caixa com as mechas de cabelo de Amber repousava sobre a mesa como um objeto maldito. Ao lado, a carta da tia Olga com suas palavras frias e ameaçadoras: "Se não retirarem todas as acusações, a próxima caixa trará algo que sangra." Victor tremia de raiva. Os punhos cerrados, os olhos vermelhos, o peito arfando como se fosse explodir. Benjamin, por outro lado, estava imóvel. Seus olhos fixos no nada, como se seu cérebro processasse mil possibilidades ao mesmo tempo. - Ela quer guerra — murmurou Victor. — E vai ter. - Vá chamar o Daniel, ele melhor que ninguém deve participar do nosso plano de resgate. - Benjamim nem se quer tirou os olhos do quadro que havia na parede, era um quadro lindo de um retrato de sua família, mas seu coração doía por alguém que não estava naquele foto. Benjamin se levantou devagar, empurrando a cadeira para trás com o pé. Caminhou até a lareira e apertou um botão escondido atrás do quadro da família.
A noite estava espessa como tinta derramada sobre o mundo. A antiga mansão dos Oliveira, outrora símbolo de imponência e riqueza, agora se erguia como uma sombra maldita, tomada pelo mato alto e pelo silêncio mórbido que envolvia seus corredores esquecidos. As janelas estavam cobertas de poeira e as paredes, enegrecidas pelo tempo, pareciam guardar segredos inconfessáveis.No interior do casarão, Amber estava amarrada a uma cadeira enferrujada, com os pulsos marcados e a respiração fraca. Seus olhos, apesar do cansaço extremo e da dor que martelava seu ventre, ainda tinham o brilho da resistência. Olga andava de um lado para o outro, descontrolada. O plano estava ruindo, e ela sabia disso.Do lado de fora, os Willivam já estavam prontos. Victor, Benjamin, Carla e até John, o melhor amigo de Amber, se uniram ao time de resgate, liderado por um segurança experiente que Victor contratara às pressas. As informações reunidas nas últimas horas indicavam a localização precisa da mansão. Eles
O som constante do monitor cardíaco preenchia o silêncio frio do quarto hospitalar. Cada bip era uma esperança, uma lembrança de que Amber ainda estava ali, mesmo que perdida dentro de um mundo onde ninguém mais conseguia alcançá-la.Três dias haviam se passado desde o resgate. A polícia prendera Olga e seus capangas, e a mansão antiga fora lacrada como cena de crime. Ainda assim, nada disso trazia alívio àqueles que esperavam por Amber. A sala da UTI transformara-se em um ponto de vigília constante para os Willivam, para Maria, Victor e até John, que quase não se alimentava desde que vira sua melhor amiga inconsciente, coberta de hematomas e com o rosto pálido como porcelana.Victor permanecia ao lado dela a maior pa
O silêncio no tribunal era tão espesso que parecia pesar sobre os ombros de todos os presentes. Nenhuma câmera fora autorizada. O caso se tornara conhecido nacionalmente, mas o juiz optara por sigilo absoluto, principalmente para preservar a integridade da vítima — Amber.Ela continuava em coma, internada na ala intensiva da ala particular do hospital Saint Grace. Enquanto máquinas pulsavam e sons robóticos marcavam os segundos da sua luta pela vida, do outro lado da cidade, o destino que tanto a perseguiu agora tinha um novo oponente: a justiça.Victor Willivam, ao lado de Benjamin e do advogado da família, sentava-se à frente, com os olhos fixos no banco dos réus. Olga fora trazida algemada. O rosto rígido e os olhos frios não demonstravam o menor arrependimento. Os demais envolvidos — Marina, o marido e o advogado c
As árvores já floresciam de novo quando Amber cruzou os portões da mansão Willivam. O ar da primavera era leve, mas o coração dela ainda carregava os ecos de um inverno longo e sombrio. Cada passo em direção à escadaria principal era uma vitória silenciosa. Estava viva. Estava em casa.O sol da tarde invadia os vitrais da entrada, desenhando cores no chão de mármore. Amber fechou os olhos por um instante. Respirou fundo. Pela primeira vez em muito tempo, aquele lugar não parecia uma prisão dourada. Parecia... refúgio.Desde a prisão de Olga, ninguém mais ousara mencionar sua tia em voz alta. A sentença havia sido divulgada, o escândalo abafado por acordos entre advogados e interesses da alta sociedade. A última notícia que recebeu foi de que sua prima fora retirada da escola—os tios nunca pagaram de fato as mensalidade
O sol atravessava as cortinas brancas do quarto de hóspedes, pintando a parede com um tom dourado suave. Amber abriu os olhos devagar, sentindo o corpo ainda cansado da noite anterior, mas não de dor. Era um cansaço bom, quase como se o peso dos últimos meses finalmente tivesse sido solto de seus ombros. Ela virou de lado e encarou o teto por algum tempo, absorvendo a paz daquele momento. Pela primeira vez em muito tempo, ela acordava sem medo. Sem pavor de gritos vindo da casa principal, sem o cheiro de mofo do porão, sem os olhos frios da tia a julgando a cada passo, ou sua prima aguardando um erro para pisá-la. Na mesa de cabeceira, uma bandeja com café da manhã, esperava com pães, frutas cortadas, suco de laranja e uma flor branca no centro do prato. Amber sorriu, emocionada. Maria, é claro. Ela se levantou devagar, calçou as pantufas novas que haviam deixado para ela, e caminhou até a janela. Lá fora, o jardim da mansão Willivam estava calmo, com pássaros brincando entre as
Naquela manhã, Amber acordou com um objetivo diferente. Pela primeira vez, ela não estava apenas tentando sobreviver. Agora, ela queria construir alguma coisa. Algo só dela. Já vestida e arrumada, desceu para o café da manhã onde Maria, como sempre, já havia preparado tudo. A mesa estava cheia de frutas frescas, ovos mexidos e torradas quentinhas. Benjamin já estava ali, devorando uma tigela de cereal com leite como se estivesse atrasado para uma maratona. - Bom dia, dorminhoca - disse ele com a boca meio cheia. - Bom dia, comilão - respondeu ela, sentando-se ao lado dele com um sorriso discreto. John apareceu no corredor em seguida, se jogou na cadeira e olhou para ambos sorrindo com um pouco de dor no rosto. - Vocês dois vão à escola juntos hoje? - O Benjamim tem ido de moto para a escola, mas não custava perguntar, queria saber para não ficar de vela no carro. - Na verdade - disse Amber, pegando uma maçã - hoje é o dia da apresentação dos projetos eletivos. Eu e Carla v