O silêncio era opressor.Serena acordou com uma pontada aguda na base da nuca, como se tivesse levado um golpe forte demais. Seu corpo inteiro pesava, a mente embaralhada entre lembranças fragmentadas e um vazio incômodo. Tentou mover os braços, mas não conseguiu. Correntes, frias como gelo, envolviam seus pulsos, ligadas a um anel metálico fincado em uma parede de pedra bruta.Ela estava deitada sobre uma superfície áspera, dura. O chão era feito de pedras negras, ligeiramente úmidas. O ar tinha cheiro de mofo antigo, com um leve traço de incenso queimado — ou algo muito próximo disso, como se alguém tentasse mascarar o odor da podridão com rituais.Quando conseguiu abrir os olhos, a luz fraca de tochas nas paredes revelou o interior de uma câmara subterrânea. O teto era abobadado, sustentado por colunas grossas com inscrições antigas, e as sombras dançavam nas paredes como fantasmas silenciosos. Havia símbolos lunares invertidos pintados em vermelho escuro — sangue seco? — ao redor
O silêncio da câmara subterrânea foi quebrado apenas pelo leve som das gotas que escorriam por alguma fissura nas pedras antigas. Serena não sabia quanto tempo havia se passado. Horas? Dias? Não havia janelas. Nenhum marcador de tempo. Apenas o cansaço progressivo em seu corpo e a inquietação crescente na mente.As roupas limpas que deixaram para ela eram feitas de um tecido macio e escuro, quase como uma segunda pele. Ela vestiu por necessidade, mas cada fibra parecia conter algo mais — uma energia antiga, talvez encantamentos que serviam para conter sua transformação. Mesmo assim, seu corpo começava a se adaptar. Ela sentia isso. O véu que bloqueava sua loba estava se tornando mais tênue.E então, finalmente, uma nova presença adentrou a sala.Era diferente de Ezra. Havia algo mais jovem, mais impetuoso, quase animalesco no ar. O som das botas ecoou pelo chão de pedra até que ele surgiu, saindo da escuridão como um predador saindo da mata.— Então é você — disse a voz grave, arrasta
O cheiro de ervas queimadas e óleo de lobo enchia o ar da câmara subterrânea. Serena sabia que algo estava errado antes mesmo de abrir os olhos. A droga que Kael lhe dera na última sessão de "treinamento" ainda latejava em suas veias, turvando seus pensamentos. Seu corpo estava pesado, mas sua loba... Sua loba rugia por dentro, presa sob camadas de magia e química. A porta se abriu sem som. Kael entrou, os músculos tensos sob a pele bronzeada escondidas pelas vestes pretas. Seus olhos âmbar brilhavam no escuro, fixos nela. — Você está linda assim — Ele murmurou, a voz um rosnado baixo. — Quase minha. Serena tentou se levantar, mas seus membros não respondiam. A droga — Uma mistura de acônito negro e lua-de-prata, ela percebeu tarde demais — a mantinha paralisada. — O que... você fez? — Ela forçou as palavras entre os dentes cerrados. Kael sorriu, lento, cruel. — Só garantindo que você não vá lutar. Desta vez. Ele a puxou pelo cabelo, expondo seu pescoço. O grito que
A lua cheia pairava no céu como um olho prateado, banhando a paisagem de Pembrokeshire com sua luz espectral. Serena puxou o casaco mais rente ao corpo, tentando afastar o frio cortante que invadia a noite. Caminhava lentamente pela trilha que levava de seu escritório até sua casa alugada, um trajeto que ela já conhecia de cor. As ruas estavam vazias, apenas o som distante das ondas quebrando contra as rochas ecoava na escuridão.Desde pequena, Serena sentia um magnetismo estranho em noites como essa. Era como se algo dentro dela estivesse inquieto, ansioso por algo que nem mesmo ela sabia nomear. Mas ao contrário dos alfas da matilha local, que celebravam a lua cheia como um momento de conexão com suas naturezas lupinas, ela preferia ignorar. Não era parte daquilo. Nunca fora.Suspirando, acelerou o passo. Ainda sentia os efeitos do longo expediente no escritório de arquitetura, onde passou o dia ajustando os detalhes de um novo projeto para um restaurante sofisticado no centro da ci
O dia amanheceu com o cheiro da chuva pairando no ar, as nuvens ainda carregadas no horizonte. Serena despertou com a mente embaralhada, a lembrança dos olhos prateados ainda vívida em sua memória. Tinha sido real? Ou apenas um devaneio causado pelo cansaço?Tentando afastar a sensação estranha, levantou-se e seguiu sua rotina matinal. O aroma forte de café preencheu sua pequena casa enquanto ela se sentava à mesa, distraída, rolando o feed do celular sem realmente absorver o conteúdo. Mas sua mente insistia em voltar à noite anterior.Quando chegou ao escritório, ainda se sentia inquieta. O prédio era moderno e minimalista, com paredes de vidro que permitiam a entrada de luz natural. Seus colegas já estavam em suas mesas, imersos em projetos e conversas. Laura, sua colega mais próxima, percebeu seu olhar distante.— Você está bem? — perguntou, franzindo o cenho. — Parece que viu um fantasma.Serena hesitou antes de responder:— Não é nada. Só não dormi muito bem.Laura estreitou os o
A brisa fresca da tarde soprou contra o rosto de Serena enquanto ela se apoiava na parede do lado de fora do escritório, tentando processar a presença intimidadora de Dominic. Era como se o ar ao redor dele estivesse carregado de algo que mexia com seus instintos, deixando-a inquieta. Dominic se mantinha a poucos passos de distância, com uma postura relaxada, mas ao mesmo tempo predatória, como se estivesse sempre pronto para agir.Seus olhos prateados pareciam ainda mais hipnotizantes sob a luz difusa do fim de tarde. Os cabelos negros caíam sobre sua testa de forma despreocupada, e a camisa escura, justa ao corpo, destacava cada contorno de sua musculatura. Ele não precisava dizer nada para exalar domínio. Estava no jeito como se movia, no peso de seu olhar, até mesmo no cheiro amadeirado e profundo que Serena ainda tentava ignorar.Ela cruzou os braços, num gesto defensivo.— Você parece tensa — Dominic quebrou o silêncio, inclinando a cabeça de leve, observando-a com um sorriso qu
O quarto estava imerso na penumbra quando Serena acordou de sobressalto, o coração disparado como se tivesse corrido quilômetros. Sua respiração estava irregular, e demorou alguns segundos para que percebesse onde estava: em sua cama, envolta pelo calor dos cobertores, sua casa ainda mergulhada no silêncio da madrugada.Mas o sonho ainda pulsava em sua mente.Ela se lembrava de estar na floresta, envolta por uma névoa densa que escondia as sombras ao seu redor. No meio da névoa, um par de olhos brilhantes a observava. Um lobo, majestoso e imponente, de pelagem escura como a noite. Ele não parecia ameaçador, mas sua presença era intensa, quase sufocante. Os olhos prateados perfuravam a escuridão, fixando-se nela com um reconhecimento silencioso. Serena queria se mover, correr ou ao menos falar, mas estava paralisada.Então, ele avançou um passo, e tudo ao seu redor desapareceu.O sonho ainda pairava sobre sua mente quando ela olhou o relógio ao lado da cama: 4h13 da manhã. Suspirando,
A noite parecia interminável.Serena rolava na cama, incapaz de desligar sua mente. O silêncio da madrugada deveria ser reconfortante, mas, em vez disso, tornava o peso da noite anterior ainda mais intenso. A sensação de estar sendo observada, o arrepio na espinha, a sombra que se moveu no limite da floresta... Tudo se repetia em sua cabeça como um ciclo sem fim.Ela fechava os olhos, tentava se forçar a dormir, mas, sempre que conseguia um pouco de descanso, um par de olhos prateados emergia da escuridão em sua mente.O mesmo lobo.Observando.Esperando.O som estridente do despertador a arrancou do torpor, fazendo-a se erguer de súbito, o coração disparado. Seu peito subia e descia enquanto piscava algumas vezes, tentando se situar. O quarto ainda estava em penumbra, iluminado apenas pelas frestas de luz que escapavam da cortina.Respirou fundo.Era fim de semana. Uma folga merecida.Ela precisava tirar a cabeça disso.☽❂☾Depois de um banho morno para aliviar a tensão, Serena escol