O marido dizia que eu não era carinhosa o suficiente, os pais que eu era egoísta demais, minha filha dizia que amava mais a mamãe Beatriz. Então, decidi que, nas últimas setenta e duas horas, daria minha vida e tudo o que possuía a essa mulher perfeita.
As palavras do médico ecoavam nos meus ouvidos:
— Câncer em estágio terminal: se não iniciar imediatamente o tratamento especial, terá no máximo três dias de vida.
Reclinei-me no quarto do hospital, olhando para fora da janela.
Como esposa de Francisco Silva, tentei manter este casamento por sete anos, até a chegada dela.
— Está tudo bem com você?
A porta se abriu e era meu marido, Francisco, que entrou.
No rosto dele, uma expressão de leve impaciência.
Respondi baixinho:
— Estou bem.
Ele franziu a testa:
— O médico disse que você precisa daquela vaga para tratamento experimental, mas...
— Mas a Beatriz precisa mais, não é?
Completei, esboçando um sorriso amargo.
Beatriz Costa, a pobre menina do orfanato que convenci meus pais a adotar quando eu tinha doze anos.
Tratei-a como uma irmã de sangue, jamais imaginando que ela tiraria tudo de mim.
— Valentina, você precisa entender.
O tom de Francisco suavizou.
— O estado da Beatriz é mais grave. Ela disse que os rins estão quase falhando, e você... você parece bem.
Sim, eu realmente parecia bem.
Ninguém sabia que, para não preocupá-los, eu vinha tomando doses letais de analgésicos que mascaravam as dores lancinantes do câncer.
— Eu entendo. — Falei com serenidade. — Dê a vaga para ela.
Francisco visivelmente relaxou:
— Eu sabia que você entenderia. Você mudou tanto nesses anos, já não é mais teimosa como antes.
Teimosa?
Ri friamente por dentro.
Mas, desde que Beatriz chegou, toda vez que insisti em algo, fui vista como 'ciumenta' e 'mesquinha'.
À noite, forcei-me a voltar para casa.
— Mamãe!
Assim que me viu, Sarah correu para se esconder atrás de Beatriz.
— Sarah.
Sorri com esforço.
— Valentina, você voltou.
Beatriz usava o conjunto da Chanel que lhe dei, sentada no lugar que costumava ser meu.
— Beatriz, tenho algo para você.
Fui ao escritório e peguei uma pasta de documentos:
— Aqui está a transferência da galeria em meu nome. Quero que fique com você.
— O quê?
Beatriz levantou-se, chocada:
— Valentina! Essa é a sua galeria favorita!
Sim, era a galeria que fundei, meu maior orgulho.
Mas agora, isso não importava mais.
— Você vai administrá-la melhor do que eu.
Sorri:
— Considere um presente de casamento antecipado.
O rosto de Beatriz mudou por um instante, mas logo retomou a expressão ingênua:
— Por que está dizendo isso?
Aproximei-me dela e disse baixinho:
— Eu já sei de tudo, mas não faz mal. Eu lhes desejo felicidade.
Nesse momento, Francisco entrou, um pouco tenso ao nos ver juntas:
— Sobre o que vocês estão conversando?
— Valentina vai me dar a galeria.
Os olhos de Beatriz estavam marejados:
— Ela é maravilhosa.
Francisco me olhou com um olhar complexo:
— Valentina, você...
— Estou cansada.
Interrompi-o:
— Vou subir para descansar. Sarah, seja obediente.
— Tá bom.
Sarah respondeu sem emoção e logo se virou para Beatriz:
— Mamãe Beatriz, vamos continuar brincando?
Mamãe Beatriz.
Meu coração doeu.
De volta ao quarto, apoiei-me na porta, sem forças para continuar de pé.
As células cancerígenas devoravam minha vida, e os remédios aceleravam esse processo.
Comecei a arrumar o armário.
Vestidos caros, joias, bolsas — tudo em breve pertenceria a Beatriz.
— Restam setenta e duas horas.
Disse ao meu reflexo pálido no espelho:
— Valentina, nos últimos três dias, deixe que eles se lembrem de uma versão perfeita sua.
Eu sabia que a verdade viria à tona. Já deixara tudo preparado para depois da minha morte, e os documentos que reuni desmascarariam Beatriz. Eu sabia que eles acabariam se arrependendo.
Mas, nessa altura, eu já não estaria mais aqui.
E essa seria a minha vingança.