Mansão da família Silva.
— Valentina! — Francisco aproximou-se rapidamente da cama, estendendo a mão para tocar a testa dela. — Por que está tão fria? Olívia, chame o médico, rápido!
Beatriz entrou logo atrás, fingindo preocupação:
— O que aconteceu com a minha irmã? Será que ela se cansou demais ontem à noite?
— Câncer em estágio terminal. — Olívia estava parada na porta, a voz tranquila. — A senhora já faleceu.
— O quê? — Francisco franziu a testa. — Não brinque com coisas assim. Ontem à noite ela estava bem.
Ele se virou para ligar para o médico particular, mas Olívia o impediu:
— Sr. Silva, ela já se foi há duas horas.
— Impossível. — Francisco balançou a cabeça, com mais impaciência do que tristeza na voz. — Ela só quer chamar atenção. A Beatriz mesmo disse que ela anda fingindo estar doente.
— Fingindo? — Olívia soltou uma risada fria. — Então, veja isto.
Ela abriu a gaveta do criado-mudo, revelando frascos vazios de remédio:
— Estes são analgésicos em doses letais. A senhora tomou durante três dias, só para não deixar vocês perceberem a dor que sentia.
— Ela...
Francisco ainda quis dizer algo.
— Três dias atrás, o médico disse que ela só tinha mais setenta e duas horas. — Olívia continuou: — A única chance de tratamento foi dada à Srta. Beatriz.
Beatriz logo ficou com os olhos marejados:
— Eu não sabia que a minha irmã estava tão mal... Por que ela não disse nada?
— Se dissesse, você devolveria a chance de tratamento para ela? — Olívia retrucou.
— Eu... — Beatriz mordeu o lábio, as lágrimas caindo. — Se eu soubesse, com certeza...
— Chega. — Francisco cortou, impaciente. — Ela já morreu, falar disso agora adianta o quê?
Ele olhou para Valentina na cama, as sobrancelhas apertadas:
— Ela era orgulhosa demais, mesmo doente não dizia nada. Agora...
Olívia olhou para ele, incrédula:
— Sr. Silva, a senhora acabou de falecer e é assim que o senhor fala dela?
— Só estou dizendo a verdade. — Francisco respondeu friamente: — Ela sempre foi assim todos esses anos, sempre queria disputar tudo, querer tudo só para ela. Agora, perdeu até a vida.
Ele se virou para Beatriz, mudando o tom para suave:
— Beatriz, não se culpe. Não foi sua culpa.
— Mas... — Beatriz fingiu chorar.
— Não diga mais nada. — Francisco a abraçou. — Valentina escolheu não se tratar, ninguém tem culpa.
Olívia assistiu àquela cena, sentindo o coração gelar por completo.
Até na morte, para Francisco, Valentina não valia nem uma lágrima de Beatriz.
E aquele homem, nem sequer quis olhar para o testamento.
— Sr. Silva. — Olívia falou por fim. — Nestes três dias, a senhora transferiu todos os bens para a Srta. Beatriz. A galeria, ações, a casa de campo, o fundo fiduciário... tudo foi deixado para ela.
Francisco ficou surpreso por um instante, mas logo ficou aliviado:
— Assim é melhor, evita problemas no futuro.
Olívia perdeu toda a esperança.
Afinal, para ele, a morte da esposa era menos importante do que a transferência dos bens.
— Vou providenciar o funeral. — Olívia virou-se e saiu.
Atrás dela, ouviu o choro de Beatriz e as palavras de consolo de Francisco.
Ninguém chorava pela pessoa que realmente partiu.
Essa era a tristeza de Valentina.
Viva, não foi amada; morta, não foi lembrada.