Acordo com o cheiro de café invadindo o quarto.

O sol entra preguiçoso pelas frestas da cortina, aquecendo os lençóis ainda bagunçados da noite anterior. Espreguiço devagar, ouvindo o som abafado de pratos sendo empilhados e uma música baixa vindo da cozinha.

Levanto com um sorriso que não me esforço pra esconder.

Otávio está de costas quando chego na cozinha, sem camisa, usando só uma calça de moletom e aquele avental xadrez que ele jura que não é dele. Ele canta baixinho, desafinado, e mexe algo numa frigideira com uma concentração adorável.

— Você tá mesmo cozinhando? — pergunto, encostando no batente da porta.

Ele se vira rápido e sorri. Tem farinha no rosto. No nariz, especificamente.

— Estou. Você acha que eu não sei?

— Acho que você tá tentando — rio, caminhando até ele. — Tem farinha no seu rosto.

— Onde? — Ele esfrega o nariz com o braço, e acaba piorando tudo.

— Agora tá parecendo um padeiro fantasma.

Ele revira os olhos, rindo, e me puxa pela cintura.

— Vem cá, artista. Voc