POV Lianna
A casa dormia.
E eu… eu não sabia como fazer o mesmo.
O corredor estava mergulhado em penumbra. O silêncio era tão espesso que parecia tecido, quase dava pra tocar. Caminhei devagar até a cozinha, tentando não fazer o piso estalar, como se meus passos pudessem acordar o cansaço que eu lutava pra manter adormecido.
Abri a geladeira, e a luz branca me cegou por um segundo. Entre recipientes de comida e garrafinhas de água, lá estava: o vinho branco que Valentina trouxe na última visita.
“Pra emergências emocionais”, ela disse.
Eu ri na época. Hoje… talvez ela soubesse mais da minha vida do que eu mesma.
Peguei a garrafa, servi uma taça. O som do líquido preenchendo o vidro quebrou o silêncio com uma delicadeza quase dolorosa. A cozinha iluminada apenas pela lâmpada amarela parecia cenário de um filme lento, desses que só passam de madrugada e ninguém vê.
Encostei no balcão e deixei o corpo desabar contra a madeira, sentindo o peso de tudo, do jaleco que ainda estava pendurado