Capítulo 3

Dominic observava a menina sorrir e conversar com os irmãos, ela gaguejava um pouco, e constantemente um deles precisava repetir sua pergunta ou opinião sobre algo, uma vez que ela dispersava com frequência, mas todos eram muito pacientes. Ela parecia feliz no meio deles, como se tudo realmente fosse uma grande novidade.

Ela contou para Sam que ela tinha primas gêmeas, mas que não eram tão agradáveis quanto ele e Faith. Jamie gaguejou um pouco mais quando falou de sua família, Dominic notou que não era um assunto que ela realmente gostava de falar, ao mesmo tempo, ela parecia sentir necessidade daquilo. Como se precisasse falar sobre si.

Seu tom de voz era sempre baixo e delicado e todos se esforçavam para ouvi-la com todo o barulho do refeitório. Ele viu ela rir de algo que Lindy falou sobre Elvis Presley e até sorriu para Tom. Dominic sentiu seu coração falhar naquele momento. Estava ao lado do irmão e podia ver os dentes brancos, perfeitos e o sorriso inocente dela. Era tão bonito. Jamie era simplesmente linda quando sorria.

Mas também quando prestava atenção, de verdade, percebia que ela era muito boa em fingir. Não sabia se os outros conseguiram perceber, mas definitivamente ele sim. Os sorrisos de Jamie, embora lindos, eram falsos.

Ela quase o enganou por um momento. Jamie sorria, conversava, mas não era o que sentia, ela tinha angústia no modo de falar, se movia de forma desconfortável em seu lugar, e se esforçava para não olhar para o rapaz, ele a deixava nervosa, contribuía mais ainda para a sua tensão.

Dom não gostava daquilo. Sentia-se desconfortável por causar tais sensações naquela menina. A culpa que sua mãe colocou nele com toda aquela história de ser incompreendido estava complicando as coisas em sua mente. Com certeza era aquilo que estava mexendo com Dominic.

Ele não poderia estar mais errado sobre ele.

Mas estava certo sobre Jamie.

Jamie estava desconfortável, com medo, confusa, queria estar feliz ali. Tinha que estar. Ter amigos era bom.

 Nunca teve ninguém para conversar e se divertir antes. Os London e os Stuart estavam sendo muito cordiais com ela. Ela queria se sentir como uma adolescente normal. E, se para se sentir daquela forma ela precisava dividir uma mesa com Dominic London, o faria. Passaria por cima do seu medo, do desconforto e até mesmo encararia o fato de que gaguejaria muito na frente dos novos amigos. Mas ela se acostumaria. Ela passaria por cima da vergonha que sentia por sua condição, que sequer era grave, mas fora tratada desta forma por toda a sua vida.

Escondida dentro de casa porque seus pais diziam se preocupar, mas a verdade, a verdade que Jamie se recusava a acreditar, era que eles tinham vergonha dela.

— Então, Jamie... — Começou Tom.

— Sim? — ela forçou mais um sorriso para Tom que retribuiu, mas Dominic não se enganou as mãos da menina continuavam tremendo, seus dedos batiam de forma impaciente na mesa. Queria estar confortável. Queria. Mas não estava.

Ela pode tentar o clube de teatro.

Pensou Dominic enquanto analisava a bagunça discreta que Jamie Everest era.

— De onde você é? O que a traz em Midles Creek?

— Oh, sim... bem.— Ela respirou fundo para se concentrar na pergunta. Depois de anos de prática não era difícil concentrar-se nos temas que sempre abordavam quando se aproximavam dela: O que faz aqui? Qual a sua cor preferida? Como vão as aulas de piano? Mas Dominic estava ali, e não tirava os olhos dela. Então mesmo uma pergunta banal seria difícil para responder. — Papai é empresário. Do ramo metalúrgico, ele tem uma empresa em La-Lagoon City. — Todos assentiram em entendimento. Lagoon era a grande cidade que ficava a quase mil quilômetros de Midles Creek. Era o polo de todas as grandes indústrias. — M-mamãe não gosta da cidade grande, ela... bem... anda um pouco debilitada e papai achou que Midles seria um bom lu-lugar. — Ela engoliu um pouco de ar. Dominic estreitou os olhos pela gagueira nervosa da menina. Estava nervosa ou mentindo?

— Seu pai deve ficar ausente. Lagoon é longe. — Faith observou.

— Oh, na verdade não. Papai é muito presente, ele sempre está em casa para o jantar, eu e mamãe ajudamos Gertha na cozinha, por vezes até damos um descanso a ela, depois do jantar toco piano e eles dançam na sala me ouvindo tocar minhas composições.

Ela sorriu e Dominic viu seus olhos brilhando de excitação.

Os outros todos se olharam rapidamente. Dom não era o único a não comprar a história de Jamie, a menos que seu pai tivesse seu próprio avião ele não estaria em casa todas as noites para o jantar. E Anne passou outras informações sobre os pais de Jamie. Eles sequer apareceram para matricular a menina.

— Você compõe? — Lindy desviou o foco da conversa, mas fez Dom tremer.

Cale-se, Lindy, garota infernal!

— Hum... Sim. Mas apenas de cabeça. Eu não... Eu... não consigo colocar as palavras, eu...

— Dominic também compõe. — Faith continuou tentando salvar a menina mudando de foco, porém, não deu muito certo. Jamie sequer olhou para ele.

— Oh, bem... acho que devo ir para a minha próxima aula. — Dominic então era assunto proibido? Sam olhou para Dom e riu fazendo com que o rapaz revirasse os olhos. Jamie não falaria com ele.

— Ah, sim! Dominic irá acompanha-la...

Mas Faith foi interrompida por Jamie.

— Não é necessário! — ela disse levantando-se rapidamente. Enquanto juntava alguns livros que havia separado ela evitou olhar para os outros, mas parou de repente e olhou nervosa em sua volta e embaixo da mesa.

— Algum problema, Jamie? — perguntou Samuel olhando para os locais que a menina observava, tentando ajudá-la.

— B-bem, eu acho que... acho que... e-esqueci meu diá... um caderno meu. Deve estar em casa. — Mas ela não estava confiante quanto a isso, lembrava-se de alisar o caderno estofado dentro do carro enquanto conversava com Leopold no curso até a escola.

Devo ter deixado no carro.

Pensou ela, mais tranquila. Dominic ficou tenso por um segundo, mas depois se lembrou que ninguém o vira apanhando o precioso diário de Jamie e logo relaxou.

— Bem, vou para a próxima aula. Obrigada pela companhia. — Ela disse saindo rapidamente para que Dominic não fosse atrás dela.

— O que deu em você, delinquente? — Faith cutucou. —Vá atrás da menina e trate de protegê-la.

— Sou um tutor ou um guarda-costas, Faith? — Dom perguntou olhando para a namorada do seu irmão com tédio.

— Pensei que eu era o guarda-costas. — Tom entrou na conversa, mas Dom e Faith ignoraram.

— Os dois. Essa menina precisa de tudo. Inclusive amigos. Ela acabou de se mudar e sabemos que a história que ela contou sobre os pais não é verdade.

— Você sabe mais do que eu. — Dominic de repente estava interessado. — O que minha mãe disse a você?

— Se ela não disse a você é porque não é para você saber ainda. Mas você é esperto, delinquente. — Faith debochou se achando superior. Ela adorava competir com o caçula dos London.

— Vadia — murmurou Dominic.

— Dom... — avisou Tom se levantando. — Já falamos sobre insultar a minha garota.

— Sua garota me chamou de delinquente.

— Ela não está mentindo. — Tom deu de ombros fazendo Lindy e Sam rir.

— Pau mandado — retrucou o rapaz.

— Você só precisa de uma garota para chamar de sua, irmão. E seu mau humor vai passar.

— Ele tinha Mona. — Lindy brincou fazendo todos rirem. Dominic revirou os olhos.

— Tá brincando? — Sam entrou na conversa. — Mona sequer é humana. — Todos explodiram em gargalhadas enquanto Dom saía pisando duro, com raiva.

Imbecis!

Pensou o rapaz enquanto saía a procura da garota que fugia dele como satã fugia da cruz.

Quando ele entrou na sala de aula e logo avistou Jamie sendo praticamente usada como rata de laboratório por Mona e sua gangue.

— De onde você é? — Uma delas perguntou de perto, ele até podia ver a mão de outra menina analisando o seu cabelo.

Jamie sentia que elas não estavam exatamente sendo amistosas e começava a suar, não queria falar, gaguejaria e todos veriam que ela era retardada.

Dominic se aproximou, e Mona o viu deixando Jamie de lado e indo até ele.

Oh! Pelo amor da Virgem Maria.

— Hey, Dommy, podemos conversar? — Argh, odiava quando se referiam a ele como Dommy e ao irmão como Tommy, era ridículo.

— Agora não Mona, tenho uma questão para resolver. — Ele disse olhando para Jamie. Mona seguiu o seu olhar e cerrou seus olhos para a garota. O que Dominic queria com ela afinal?

— Não me diga que você quer a retardada nova!

— O que disse? — Ele não sabia o que era, mas um mal-estar se instalou em seu estômago no momento em que Mona chamou Jamie de retardada.

— A garota nova, ela tem dislexotã.

Doce menino Jesus, e ela chama Jamie de retardada?

Dominic riu da cara da menina e separou-se dela rapidamente.

— Faça um favor para mim, Mona, saia da minha frente e não abra a sua boca.

— Você costumava gostar da minha boca. — Mona tentou ser sensual, mas só conseguia despertar repulsa no bad boy.

— Foi antes dela começar a chupar o pau de Rick Stone, agora saia da minha frente. — Dominic passou por ela e se aproximou do grupo que continuava a analisar Jamie como se fosse um experimento.

— Olá, garotas! — cumprimentou todas com um sorriso de tirar o fôlego. Todas as meninas pareciam mariposas atraídas pela luz quando abriram espaço para Dom.

— Hey, Dom! — disse uma delas com a voz tão estridente quanto o cacarejo de uma galinha.

— Bem, garotas, acho que estão incomodando Jamie, não acham? — Jamie se obrigou a olhar para o rapaz. Ele disse seu nome de forma tão... ugh! Sexy? O que ela sabia sobre algo ser sexy, afinal? Mas pareceu.

Jamie imediatamente corou quando o viu dar um sorriso torto para ela.

Onde foi parar o ar da sala?

Ela pensou levando a mão no peito.

— Fora! — Dominic disse sem tirar os olhos de Jamie, mas seu tom de voz não deixava brecha para discussão, as meninas dispersaram deixando os dois sozinhos.

— Obrigada... — Jamie agradeceu, mas desviou os olhos. Olhar para ele e não gaguejar em apenas uma palavra era impossível.

— Pelo quê? — Dom sabia por que ela estava agradecendo, mas queria ouvi-la, precisava que ela conversasse com ele. Virou para ela e analisou os seus cachos marrons e bem cuidados em seus ombros combinando perfeitamente com suas bochechas rosadas que destacava sua pele, mais parecia um creme de baunilha. Dominic optou por parar de olhá-la e escutar sua resposta enquanto tentava se concentrar no livro em sua frente. Se acomodou ao lado da menina decidido a ser seu parceiro em todas as disciplinas que pudesse.

— Bem, elas de fato estavam... Eu só... — Respirou fundo e se concentrou. — Eu gostaria de agradecer por ter me ajudado, Dominic. Jamie sorriu quando conseguiu falar tudo sem gaguejar ou trocar as palavras. Mas Dom ficou tenso.

— É, eu sei! Sem problemas. — Ele se remexeu desconfortavelmente quando recebeu o agradecimento delicado dela, especialmente quando disse o seu nome. Ouviu as risadas conhecidas dos caras que costumavam andar com ele e olhou em sua direção. Um deles ergueu as sobrancelhas insinuando algo que Dominic entendia muito bem.

De jeito nenhum, seus bobocas. Eu não quero ela para ser a minha garota.

— Tudo bem, vamos começar a aula... — A senhora Kelvin, professora de Inglês, iniciou quando entrou na sala. — Oh! Senhorita Everest, quer sentar-se com outra pessoa? — Ela perguntou quando viu que Jamie tinha Dominic ao seu lado. Elisa Kelvin não era exatamente fã de Dominic assim como os outros professores. — Talvez Mona...

— Na verdade, senhora Kelvin, eu...

— Não senhora, obrigada. — Jamie interrompeu Dominic. Ele a olhou impressionado por ter ouvido mais do que um sussurro da garota. Jamie olhou para ele como se estivesse suplicando para que ele não saísse dali naquele momento. Jamie se aproximou de Dom e sussurrou. — Por favor. Só hoje. P-para elas fica-ficarem longe.

Dom assentiu e fechou os olhos respirando fundo.

— Tudo bem, então. — A senhora Kelvin respondeu com um sorriso e iniciou a aula. Dominic pegou um pedaço de papel do seu caderno e escreveu para ela novamente.

"Sei que começamos com o pé esquerdo. Mas tenho que ser seu tutor."

Ela leu aquilo e seu semblante endureceu novamente.

Mais um longo tempo escrevendo e ela passou o bilhete.

"Não! Obrigada! Não quero que sinta pena de mim. Posso me virar sozinha."

Ele bufou ao ler o papel e olhou para ela, mas Jamie não se incomodou em desviar seu olhar das explicações da professora. A aula inteira Dominic não tirou sua atenção dela, ele a olhou na tentativa de que ela se acostumasse com ele, com sua presença.

Ela não relaxou.

Ficou inquieta durante toda a aula e assim que o sinal tocou e Jamie saltou rapidamente de sua cadeira. Dominic não a deixaria escapar desta vez. Virou questão de honra. Ninguém o negava nada, nunca.

— Hey, Everest! — ele chamou andando ao lado da menina.

— Me deixa em paz, Dominic! — Seu pedido saiu tão baixo que ele questionou a sua audição. A menina estava tão vermelha quando virou para o rapaz que ele pensou que seu rosto explodiria. Nunca havia sentido nada daquele jeito antes, mas Dominic estava deixando ela completamente nervosa com aquela perseguição.

Que gracinha!

Pensou o bad boy. Ele sorriu gostando a atitude mais selvagem da menina.

Não era da natureza de Jamie ser rude com alguém, mas ele simplesmente não se afastava e aquilo a estava deixando cada vez mais nervosa. O que acontecera afinal de contas? Ele perdera uma aposta? Por que estava tentando ajudar?

Eram perguntas que rondavam a cabeça da menina.

— Por que não quer minha ajuda? — Perguntou enquanto ela atravessava o estacionamento da escola, Jamie parou no meio do asfalto e virou-se para ele que estava parado de braços abertos.

— Porque eu não preciso da sua ajuda. — Ao terminar a frase ela já estava nos braços de Dominic. Foi tudo muito rápido. Mike Forbes parou seu conversível e saiu do carro apavorado. Não tinha visto Jamie no meio da rua.

— Oh, meu Deus, me desculpe! Você está bem? — O paspalho do time de futebol quase atropelara a garota, mas não fora bem culpa dele. Jamie estava tão furiosa com Dominic que nem pensara que poderia passar um carro ali a qualquer momento. Ambos não deram muita atenção a Mike, estavam ocupados demais olhando um para o outro.

Jamie se mexeu nervosamente para se soltar dos braços de Dominic. Foi cedo demais para o rapaz. Queria saber se ela estava bem, segura... e para seu desespero, queria saber ela se sentia bem em seus braços como ele se sentia tendo ela dentro do seu aperto firme.

Mas embora sentisse tudo aquilo, o que saiu da sua boca foi:

— Olhe por onde anda, sua tonta! — Mesmo Dominic podia sentir a raiva no seu tom de voz e se arrependeu imediatamente. Os olhos dela o fitaram e ele pode ver o exato momento em que começaram a se encher de lágrimas.

Jamie lembrou-se daquelas palavras: Sua tonta.

Ouvira aquela frase antes.

Muitas vezes.

— Me solta seu... seu...— ela não terminou. Ouviu passos perto dos dois.

— Oh! Jamie! O que aconteceu?

— Leopold! Ah! Leo. — Desvencilhou-se de Dominic e correu para os braços do velho conhecido.

— O que foi, pequena? Ele a feriu? — Leo olhou com raiva para Dominic que o encarou de mandíbula travada.

— Não, Leo. Ele me ajudou, na verdade. — A garota disse rapidamente, seus sentimentos ainda eram confusos, ela não queria Dominic por perto, ao mesmo tempo queria voltar para os seus braços. O que era aquilo? Por que ele falou daquela forma com ela? Por que foi tão cruel?

Definitivamente, feriu seus sentimentos.

Porém, Jamie não queria ser injusta, embora ele tenha sido rude, realmente a ajudou.

— Oh! Obrigado, rapaz. — Leo sorriu.

— Uhum... — Dominic virou as costas e foi embora deixando a multidão e Jamie sem olhar para trás. Jamie sentiu seu peito doer ao ver o rapaz se afastando.

**

Jamie se atirou no banco de trás do automóvel da família e começou a procurar pelo diário.

— O que tanto procura, menina?

— Meu diário, Leo. Acho que o perdi. Oh Deus!

Nada poderia ser pior. E se alguém o lesse? Era muito provável que acontecesse. Suas mãos nervosas foram para seus cabelos, ela mordeu os lábios e respirou fundo.

Não há muito o que fazer. Há? Mesmo a fotografia minha com papai e mamãe se foi. Droga!

Papai! Por que o papai não está aqui?

— Onde está papai? — Perguntou a Leopold, tentando esquecer a sua preocupação.

— Seu pai não pode vir criança.

Como se você não soubesse, menina.

O velho motorista pensou.

— Ah, sim. Negócios — justificou para si mesma.

— Sua mãe foi junto, desta vez. — Ele disse tentando sorrir. Mais alguns dias sozinha.

— Quanto tempo desta vez? — perguntou olhando pela janela.

— Acredito que algumas semanas. Eles viajarão para a Europa. Seu pai vai a negócios e sua mãe vai aproveitar para descansar. Você tem aula então...

— Mamãe não conseguiu ficar novamente? — interrompeu o velho homem sem querer saber sobre a Europa, ela queria saber de sua mãe e o motivo pelo qual ela não ficava em casa. O motivo que todos entendiam.

— Afirmativo, criança. — Respondeu.

Jamie deu um longo suspiro voltando a se preocupar com o seu diário desaparecido. Doía menos pensar nele do que na viagem dos pais.

**

Vinte e quatro de Janeiro de 1958. – Começando um novo diário

Querido Diário,

Hoje pela manhã ouvi papai e mamãe brigarem na sala de estar. Ela não quer se mudar. A ouvi dizendo que não queria sair de Lagoon para me esconder no fim do mundo. Mas o papai disse que era importante para os negócios, já que estão dando bons frutos, não entendo porque seria bom para a empresa irmos para Midles Creek, mas tudo bem, eu não entendia de muita coisa ainda. Ouvi a mamãe dizendo que ele queria se livrar de nós. E que a culpa era minha.

Ela me bateu ontem.

Porque gaguejei no jantar e ela estava um pouco alcoolizada. Fiquei com raiva na hora, tive vontade de gritar com ela. Mas ao invés disso, segurei minhas lágrimas e deixei para soltá-las no meu piano. Papai comprou um novo, embora eu gostasse do velho, mas tio George disse que o antigo já não era bom para a minha capacidade de tocar, mas acho que ele só estava tentando ser legal e bem... O piano era velho mesmo. Eu nunca fui realmente muito boa com o piano.

 Ah! Sinto falta do tio George. Pena ele não poder ir conosco.

Acho que Midles Creek não será um de todo ruim. Afinal de contas!

Eu serei matriculada em uma escola, tio George levou muito tempo para convencer meus pais e sou tão agradecida. E talvez eu faça amigos novos. Se não fizer, não há problema também. Tenho o piano novo, Gertha e Leo, e tenho meus livros. Ah! Boas notícias. Consegui terminar outro livro da coleção de Jane Austen. Lady Susan é o nome. Depois de quase seis meses terminei o livro. Tentei contar para o papai que sempre se diz fã de Jane também, mas ele não prestou muita atenção. Acho que era por sua recém briga com mamãe. Ele jogou na cara dela que ela o dera uma filha defeituosa. Ela o esbofeteou.

E eu vi tudo. A culpa era minha.

Dominic pegou novamente a foto que estava entre as páginas do diário e analisou.

Os pais brigam e ela se culpa por isso. Por isso riscou seu rosto.

— Jamie — suspirou deitado em seu quarto. Não condenou a garota por mentir mais cedo durante o almoço, apenas se penalizou. — Ela nunca teve amigos...

De repente, Dominic estava mais do que engajado nesse projeto, nessa missão. Algo dentro dele havia mudado e não queria pensar sobre aquilo, mas não deixaria Jamie sozinha. Levantou-se da cama e foi até o corredor.

— Lindy! — berrou para que sua voz atingisse todos os cantos da casa.

A irmã logo apareceu.

— O que? — Seus olhos estavam arregalados.

— Preciso de ajuda!

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