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7. Longe daquilo que imaginei

Lucas Park

     Quando abri a porta, uma onda de emoção percorreu cada célula do meu corpo ao vê-la parada ali, pisando em um pequeno gorro de Natal, xingando o objeto com palavras que eu jamais esperaria ouvir da boca dela. Ela estava adorável usando aquele vestido vermelho, que definitivamente foi a primeira menção ao natal que vi desde que cheguei. Embora tivesse a curiosidade de perguntar o que o gorro havia deito de tão grave, para merecer sua ira, eu não queria ser o próximo de sua lista, portanto guardei para mim. Não pude deixar de sorrir com a cena.

     — Jingle bells, senhorita Gold — disse a ela.

     Eu estava tão nervoso, e ao mesmo tempo me divertia com a cena à minha frente, que nem pensei antes de dizer aquelas palavras. Quando ela se virou e encontrou meu olhar, foi como se todo o esforço que empenhei durante aqueles anos estivesse sendo recompensado. Em toda a minha vida, nunca estive diante de alguém tão bonita quanto ela. Seu rosto era sereno, impecável, e eu poderia passar horas apenas olhando para ela. Seus cachos volumosos caíam pelos ombros, pelos seios que, tão fartos e evidentes, me obrigaram a desviar o olhar de volta para os seus olhos. Aqueles olhos grandes e expressivos, que me encaravam sem vacilar. Seu rosto estava tão corado que me perguntei se ela havia escutado meus pensamentos impróprios.

     Ela manteve meu olhar, firme. Nenhuma outra garota jamais sustentou o olhar por tanto tempo, sem desviar. O que estaria passando pela sua cabeça? Será que pensava em fugir de mim de novo? Somente o pensamento dela se unir a festa, participar daquelas rodadas de bebidas, me causava pânico. E se aquela imagem que eu havia criado, e se toda aquela perfeição e decência que eu havia idealizado dela, simplesmente não existisse? Eu seria capaz de ir contra todos os meus princípios, apenas para ter seu perdão?

     A verdade é que vê-la ali, tão linda, fez crescer em mim sentimentos que eu não sabia que existiam. Eu queria pegá-la nos braços e tirá-la daquele lugar, levá-la para longe daquelas pessoas e daquele ambiente imundo. Eu deveria ter segurado sua mão e levado embora no instante em que chegou. Eu imploraria se fosse necessário, desde que ela não se misturasse com aquelas pessoas, eu faria o que fosse necessário. Ela poderia ver em meus olhos o quanto eu desejava tira-la dali? Poderia sentir que aquele não era o ambiente ideal para uma jovem distinta feito ela?

     Mas então me lembrei a razão dela estar ali, e por um momento, pude relaxar um pouco. Eu sabia que ela estava ali por conta de um acordo com Jullian, e que segundo ele, seria a minha melhor chance de me aproximar dela. Ela me olhava intensamente, como se buscasse alguma resposta. Se ao menos eu tivesse coragem de iniciar uma conversa, poderíamos quebrar a tensão que crescia entre nós.

     — Pode parar de me encarar agora — murmurei, mais para mim mesmo do que para ela.

     Quando ela sorriu, soube naquele momento que nossas vidas estavam, de certa forma, voltando aos trilhos, de onde nunca deveriam ter descarrilado. Mas, por mais que Gabrielle forçasse aquele sorriso, era óbvio, em seus olhos, que ela não estava feliz em me ver. E, sinceramente, nem queria estar ali. Eu também não a culparia por isso — afinal, eu mesmo não queria estar naquela festa.

Afastei-me um pouco, liberando o espaço na porta para que ela entrasse. No instante em que pisou naquela m*****a casa, senti os olhares daqueles abutres pousarem sobre ela. Gabrielle se encolheu ao meu lado, como se quisesse desaparecer. Meu movimento foi instintivo: peguei sua mão e a apertei, puxando-a para mais perto de mim. Por um momento, temi que ela protestasse, que tirasse a mão da minha e desaparecesse no meio daquelas pessoas. Mas, em vez disso, ela permaneceu imóvel ao meu lado. Estava tão desconfortável quanto eu naquele lugar.

     — Atenção, pessoal! — gritei para todos. — Temos uma convidada especial esta noite!

     Eu não precisava dizer mais nada para que eles entendessem que não deviam se aproximar dela. Ao mantê-la comigo, de mãos dadas, e ao anunciar sua chegada para todos, deixava claro que a acompanharia durante toda a noite e que ninguém deveria incomodá-la. Comecei a percorrer a casa, mostrando a ela todas as saídas, caso precisássemos fugir. Procurava o lugar mais tranquilo e menos barulhento, onde pudéssemos conversar sem interrupções.

     Ela me seguia em silêncio. Fiquei surpreso por ela não ter se livrado da minha mão durante o trajeto. Gostava da sensação de sentir o calor dela, mesmo que apenas na palma da mão. Tê-la ali daquela maneira fazia com que minha mente divagasse por momentos que eu desesperadamente ansiava desde que a vi naquela manhã. Eu queria abraçá-la e dizer o quanto sentia por ter estado fora por tanto tempo.

     A conduzi até o final da piscina, onde havia algumas espreguiçadeiras a poucos metros. Soltei sua mão apenas quando tive certeza de que ninguém a pegaria e a levaria para longe de mim. Gabrielle estava tão calada, observando tudo ao nosso redor, que eu sabia que uma opinião já se formava em sua mente — e não parecia ser uma boa.

     Foi quando vi Ramon se aproximando, segurando dois copos vermelhos. Pelo sorriso que me lançou e pelo olhar que direcionou a ela, suas intenções estavam longe de ser amigáveis. Ele estava me testando. Senti meu corpo enrijecer e minha respiração ficar pesada enquanto ele se colocava diante dela, sem dizer uma palavra, e lhe oferecia um dos copos. A malícia em seu sorriso despertou uma vontade indescritível de socar aquela cara e jogá-lo na piscina.

     Eu não sabia o que havia naquele copo, mas também não pretendia descobrir. Minutos antes da chegada de Gabrielle, vi líquidos duvidosos e drogas circulando por ali. Jamais permitiria que ela ingerisse algo nocivo. Eu nunca me perdoaria se algo acontecesse a ela. E, com certeza, perderia meu réu primário, pois alguém naquela festa pagaria caro se isso acontecesse.

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