Gabrielle Goldman
Acordei com o gosto amargo da realidade se dissolvendo em minha boca, como se tivesse dormido com ferro derretido entre os dentes. A luz filtrava pelas cortinas pesadas e desenhava linhas tortas no chão, como se o próprio sol também hesitasse em me tocar. Virei o rosto no travesseiro, abafando a respiração, como se pudesse sufocar o mundo por mais alguns minutos. Mas era tarde demais. Eu já estava desperta… e não havia como voltar.
Meu corpo ainda carregava o cheiro dele.
O perfume amadeirado, a maldita mistura de pecado e poder que grudava em minha pele como uma sentença. Sentei na beira da cama, com as pernas bambas e o peito apertado, tentando me convencer de que nada daquilo significava o que parecia significar.
Foi um momento. Eu já havia beijado tantos outros apenas por diver