CAPÍTULO 2 – A MANSÃO

O táxi avançou lentamente pela estrada ladeada de pinheiros altos, como se temesse perturbar o silêncio que envolvia a propriedade. Luna segurava a alça da bolsa com força, sentindo o suor frio escorrer pela nuca. Quando o carro parou diante dos portões de ferro pretos, ornamentados com o brasão dos Valmont, ela teve a sensação de que estava diante de uma fronteira invisível. Um limite entre a vida que deixava para trás e… seja lá o que a esperava ali.

O motorista olhou rapidamente pelo retrovisor.

— Quer que eu espere?

Ela respirou fundo.

Se pedisse para voltar, ficaria sem dinheiro para um novo táxi. Se ficasse, poderia estar entrando no pior erro da vida — ou na única chance que restava.

— Não — respondeu. — Pode ir.

O táxi partiu, deixando-a sozinha diante da imensidão da propriedade.

Luna apertou o botão do interfone.

— Boa tarde… sou a Luna Santiago. Estou aqui para a entrevista.

Por alguns segundos, só ouviu estática. Então uma voz feminina e firme respondeu:

— A senhorita Santiago foi esperada. O portão abrirá agora.

O som metálico ecoou enquanto o portão deslizava para os lados. O caminho se estendia como um corredor perfeito, pavimentado em pedras claras, cercado por jardins milimetricamente desenhados. Flores brancas alinhadas, arbustos podados, esculturas discretas.

Tudo ali parecia caro. Intocável.

A mansão surgiu ao final do percurso, iluminada pelo sol poente, janelas altas refletindo o céu alaranjado, paredes de vidro e mármore. Era moderna, fria, impecável. O tipo de lugar em que nada acontecia sem que alguém permitisse.

Luna subiu os degraus da entrada, sentindo seu coração bater mais rápido quando a porta se abriu sozinha. Uma mulher impecável, de coque baixo e postura perfeita, a observava.

— Seja bem-vinda — disse ela. — Sou Helena, governanta da família Valmont. Por aqui.

A casa era silenciosa. Silenciosa demais.

O hall tinha pé-direito duplo, um lustre enorme, duas escadas se abrindo para os lados como braços rígidos. Havia quadros caros, pisos de mármore polido, vasos enormes. O brilho do lugar quase a cegava.

— O senhor Valmont vai recebê-la no escritório — disse Helena, caminhando pelo corredor. — Ele prefere entrevistas privadas.

Luna assentiu, sem confiar em sua própria voz.

No caminho, notou pequenos pontos vermelhos no teto.

Câmeras. Muitas câmeras.

A sensação de ser observada fez sua pele arrepiar.

— Trabalhar aqui exige discrição — comentou Helena, sem olhar para trás. — E… resistência.

— Resistência? — Luna perguntou.

A governanta apenas ergueu uma sobrancelha, como se tivesse dito mais do que deveria.

Pararam diante de uma porta dupla.

Helena bateu uma vez.

— Senhor Valmont? A senhorita Santiago chegou.

Silêncio.

Por um instante, Luna teve certeza de que ele mandaria dispensá-la sem sequer vê-la. Talvez tivesse descoberto mais alguma coisa sobre ela. Talvez não quisesse arriscar o próprio filho com alguém cuja foto estava circulando em manchetes acusatórias.

Mas então a maçaneta girou.

A porta se abriu.

E ele apareceu.

Adrian Valmont.

Um homem de presença tão marcante que parecia ocupar mais espaço do que realmente tinha. Alto, ombros largos sob o terno escuro, barba cerrada desenhando o maxilar forte. O olhar dele era uma lâmina: frio, calculado, avaliador.

Ele não sorriu. Não estendeu a mão. Apenas a olhou como se estivesse analisando cada detalhe que compunha o ser dela.

Luna engoliu em seco.

— Senhorita Santiago — disse ele, com voz grave. — Entre.

Ela obedeceu, sentindo o ar mudar ao cruzar a porta. Como se o escritório tivesse sua própria atmosfera.

A porta se fechou atrás deles com um estalo que ecoou como sentença.

Adrian caminhou até a mesa sem se virar para ela. Sentou-se, cruzou as mãos. Parecia uma estátua de controle absoluto.

— Então é você — ele disse, finalmente levantando os olhos. — A mulher que a imprensa não cansa de repetir que matou um bebê.

A frase atingiu Luna como um golpe seco.

Mas ela permaneceu firme.

— Sou eu — respondeu.

Os olhos dele estreitaram, avaliando a reação.

Por um instante, nenhum dos dois disse nada.

Ele recostou-se na cadeira.

— Comecemos — disse. — Quero saber se você é um risco. Ou uma oportunidade.

E justamente ali, naquela sala de paredes escuras, naquele silêncio pesado, Luna percebeu que não estava sendo entrevistada para um emprego.

Estava sendo testada. Medida. Esmiuçada.

E que aquele homem, com olhar de predador cansado, tinha o poder de decidir não apenas seu futuro… mas tudo o que ainda restava dela.

E aquela seria apenas a primeira batalha entre os dois.

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