Chloe Clinton cresceu tendo uma vida de princesa. Seus pais adotivos a colocaram em um patamar alto, mas uma pequena peculiaridade sobre uma das famílias mais ricas do país, da qual ela era integrante, sempre fez com que a mulher quisesse se manter distante de seus familiares e de seus quatro “irmãos”. Os anos passaram e a jovem agora precisa lidar com três problemas persistentes. O casamento de seu chefe e melhor amigo, a presença do homem que sempre amou “no escuro”, e a volta de um fantasma que promete não dar paz para os seus dias. Segredos foram guardados a sete chaves, mas agora, todos eles estavam prestes a ruir. Chloe tinha pessoas para a apoiar, mas e quando se está errada? E quando você quebra as regras e comete atrocidades? Quem pode te defender?
Ler maisFaziam exatos dez dias que minha vida tinha virado um verdadeiro caos. Dez estressantes dias desde que Corey Legard havia anunciado que estava noivo e que planejava uma festa para marcar esse feito horrível.
Meu chefe era um desmiolado.
Não era preciso muita explicação para descrever um típico garoto rico que conseguia todas as mulheres que desejava. Corey foi assim a vida inteira.
Ele olhava para uma garota, sorria para ela e então conseguia arrancar sua calcinha. O grande problema é que ele não gostava de repetir a mesma mulher — mais clichê que isso impossível — e partia para outras assim que conseguia uma transa.
E então, o ciclo se iniciava mais uma vez...
Uma busca quase comparada à caça, um olhar terrivelmente sedutor, o sorriso que ouso dizer ser um dos mais lindos que já vi, a lábia sem igual que era sua marca registrada, e por fim e não menos importante, a foda. Com todas as etapas concluídas, ele partia mais uma vez para outra.
Corey parecia não cansar nunca, não conseguia parar uma semana sequer com a mesma pessoa e parecia não ter a capacidade de amar.
E então aconteceu.
Há tortuosos dez dias atrás, ele veio até meu apartamento dizendo que estava noivo, sem nem ter me contado que estava saindo com alguém. Eu recebi a notícia de que meu melhor amigo se casaria logo, e minha vida definitivamente virou um inferno infindável.
Porcaria!
Como é que ele decidiu se casar com alguém que conheceu há duas semanas?
Corey só podia estar tramando alguma gracinha pra cima de sua família, isso seria compreensível. No entanto, a mais afetada foi eu. Era Corey, merda, o meu coração que batia fora do peito. O único que eu amava imensamente e sem escrúpulos. Minha estrutura sólida em meio a um mar tempestuoso.
Era o meu Corey, que não sabia dar um único passo sem me consultar, nem mesmo era capaz de formar seus próprios looks para um jantar normal com a família sem pedir minha opnião.
Eu, definitivamente, não estava preparada para isso.
Deixei o corpo tombar na cama enorme e macia enquanto meus olhos lutavam para se fechar.
Não poderia ceder. Estava exausta por passar a noite toda tentando arrumar argumentos para convencer o dono de um castelo a permitir que a realização da festa de noivado fosse feita em seu lindo e majestoso estabelecimento.
Filha de uma puta.
A tal noiva de Corey não tinha limites, a bonitinha não sabia ouvir um "não", muito menos aceitava outras coisas que não fossem as desejadas por ela, e ainda por cima, eu como braço direito de seu noivo, fiquei com a obrigação de cuidar dos principais preparativos, como se fosse uma casamenteira ou organizadora de festas.
Inferno!
Eu era só a advogada dos Legards, não sabia nem mesmo usar um vestido, quem dirá escolher a melhor loja para a noiva provar o seu.
Tudo o que queria era estrangular aquela megera de cabelos tingidos e jogar seu corpo morto no lago da mansão. Pena não ser tão desequilibrada assim.
Contudo, a futura esposa de Corey Legard era um assunto delicado em toda a Família, não só para mim.
Não haveria facilidade alguma em encaixar uma garota como ela no nosso meio. Haviam regras, leis e segredos que deveriam ser guardados a sete chaves e que só poderiam ser passados à ela depois de seu batismo. Se é que ela conseguiria passar por ele.
Não era fácil. Não seria para nenhuma das mulheres que formavam a Família Legard.
Um batismo era obrigatório e necessário para todos os membros, no entanto, mulheres precisavam mostrar sua força e domínio, mais que os homens. A explicação não era tão convincente a princípio, mas ficava um pouco mais clara com o passar do tempo.
Contudo, alguém como Lily Crawford não seria psicologicamente capaz de passar por tanto.
Nunca foram provas iguais ou algo a qual poderíamos nos preparar, enquanto Green, uma das minhas únicas amigas próxima, foi convocada uma semana antes do ato, eu fui pega de surpresa no meio da madrugada, com dois homens da Família invadindo meu quarto e me levando até a ilha.
Enquanto Green passou por seus testes no meio de uma cidade movimentada e caótica, eu precisei sobreviver na escuridão e solidão das noites, rodeada de uma imensidão de árvores e perigo constante.
Cada uma era diferente da outra. Simples assim.
Foi por esse e mais muitos outros motivos que entrei para os Corvos, e Green para as Serpentes. Lily, no entanto, deveria se encaixar nos Anjos, mas estes não existiam na Família, então ela com toda a certeza não se encaixaria em lugar algum, muito menos ao lado de Corey.
— Bom dia, Chloe. Já são cinco da manhã, hora de levantar — Briana, meu despertador inteligente e única companhia pela manhã, falou.
Revirei os olhos pesados e suspirei derrotada. Era tão injusto não poder dormir por causa de uma vaca mimada.
— Porcaria! — Esfreguei os olhos e forcei meu corpo a se levantar e caminhar até o banheiro.
Tinha apenas uma hora para tomar um banho, colocar meu terno, ajeitar o cabelo, ir até a cafeteria perto do prédio e depois caminhar mais dois quilômetros até a empresa.
Hoje teria que fazer tudo em tempo recorde.
Não que não fizesse isso quase que todos os dias durante os últimos seis anos. O problema maior, contudo, era o mau humor proveniente das exigências da noiva de Corey. Eu a odiava sem nem ter trocado mais de dez palavras com ela.
Era ridículo pensar que estava com ciúmes do meu melhor amigo, mas realmente estava e não conseguiria esconder isso por tanto tempo.
Mesmo que ir para a Hayans fosse contra todas as minhas vontades, fiz toda a higiene necessária, tirei cinco minutos do meu curto tempo para meditar ainda nua, e depois de tentar encontrar um equilíbrio mental, escolhi o terno que mais valorizava minhas curvas.
Preto com alguns pequenos detalhes brancos. Mas, um Gucci.
Apesar de usá-lo apenas em reuniões importantes ou ocasiões especiais, precisei abrir uma exceção para deixar minha autoestima no alto mesmo.
Seria um porre encarar toda a ladainha da noiva, me sentindo um zero à esquerda.
Duas bolsas de olheiras enormes foi o que vi ao me olhar no espelho do banheiro, e sem muito tempo, passei uma fina camada do melhor corretivo para tentar disfarçar aquilo.
Corey não deveria nem sonhar que minhas noites estavam sendo péssimas. Odiava a ideia de ajudar com o casamento dele, mas a ideia de tê-lo em meu apartamento me fazendo tomar suco de maracujá a cada dez minutos, era pior.
Sempre foi assim. Sempre cuidamos um do outro, e um medo gigantesco me assolava enquanto imaginava que tudo mudaria do dia para a noite.
Ele se casaria em breve.
Corey estava em um caminho diferente agora. Ele começaria a viver de outro modo e não precisaria mais de uma melhor amiga para lhe dar conselhos ou para comprar até suas próprias cuecas. Toda essa merda seria transferida para uma só pessoa. Sua futura esposa. E ela não precisaria da minha ajuda para lidar com o homem que dormiria ao lado dela todos os dias.
Corey não precisaria mais de mim, e essa era minha pior constatação.
Nossa amizade acabou no momento em que Lily apareceu, tinha certeza disso. No entanto, ele parecia não estar muito convicto disso, e não sabia esconder.
Para ele, me perder também não era uma opção aceitável.
Finalizei o discurso e após alguns minutos me retirei da sala.Ao longe pude ver Sophie conversando com Mandy enquanto Logan apenas observava a situação com os olhos cerrados e cara de poucos amigos. O cabelo claro agora parecia muito com o meu tingido, puxava para um tom quase branco, o deixando lindo.Decidida, me enfiei na sala de Scott e bati a porta assim que entrei. Seus olhos azuis foram do computador para mim e suas sobrancelhas arquearam ao me ver cruzando os braços com feição de quem estava pronta para matá-lo.— Você não pode ensinar essas merdas para ele! Caralho, Scott. Como eu vou falar para a Mia que ele brigou mais uma vez e que arrancou sangue de um garoto de dez anos? Está de sacanagem? Eu não vou tolerar uma merda dessas!O desgraçado apenas deu de ombros, como se ignorasse toda a minha fúria.— São Legards, você sabe que eu te defendia até do vento. Não vou deixar que a nossa filha seja machucada, e que ele apenas a observe em silêncio.Ri com sarcasmo, balançand
— Bateu nele?— Exatamente como o senhor me instruiu! — falou como se fosse um pequeno soldado dizendo que tinha cumprido sua missão.Só tive mais vontade de bater em Scott quando ele lançou uma piscadela para o garoto e a diretora balançou a cabeça de um lado para o outro novamente, imaginando o porquê de aqueles dois serem tão problemáticos.Estavam frequentemente na diretoria porque, lógico, eram influenciados a fazerem aquelas merdas.Não que eu não quisesse que Logan defendesse minha menina, mas não queria que as pessoas pensassem que éramos todos animais vivendo de uma forma onde só se conhece a violência.Eu, Chloe Legard, abominava violência. Pelo menos abominava que fosse direcionada para os meus pequenos, e abominava que eles usassem dela para resolver situações.Sabia que nem tudo poderia ser solucionado na base da pancadaria.— Olha, eu sinto muito que isso tenha se repetido. Vou conversar com as crianças e prometo que elas vão entrar na linha.— Não pode me prometer isso
Com passos apressados praticamente corri pelos corredores do colégio enorme. Já conhecia muito bem aquele local, infelizmente, e minhas últimas idas até ali não foram por bons motivos. Duvidava muito que dessa vez seria.Um tanto ofegante, parei assim que cheguei na sala da diretora e após duas batidas na porta, pude ver o olhar de descontentamento da mulher de uns quarenta anos que já havia me chamado mais de cinco vezes só nos últimos dois meses.— Por favor, senhora Legard, entre!Ela abriu passagem para mim com um desânimo assustador, me fazendo pensar em qual seria a gravidade da situação dessa vez.Dava para imaginar muita coisa, e por mais insano que fosse, eu não duvidava de que tivessem feito alguma delas.Os dois pares de olhos foram até mim assim que parei na frente deles. Vi a garota engolindo em seco ao perceber que eu não estava nada contente em ter que sair do trabalho para ir até o colégio, e eu já disse não disse? Mais uma vez. Mais uma em tão pouco tempo.— Sente
— Mesmo se eu disser que abro mão de tudo para ficar com você? Que eu deixo a Hayans e vou para Kodar, agora, nesse momento?Suspirei balançando a cabeça de um lado para o outro.— Não. Eu não quero que faça isso, e não quero você ao meu lado. E não é porque deixei de te amar, mas é porque sacrifícios assim têm um preço alto. Não posso aceitar que abra mão dos seus sonhos para tentar fazer eu ter um. Isso seria um incômodo dia após dia.— Eu não me incomodo de abrir mão da minha vida para viver a sua.— Já eu, me incomodaria se fizesse isso. Agora que estamos livres, não quero te ver preso a uma vida que só agradaria a mim. Nós precisamos aceitar que nossos anseios são distintos, e que nossos caminhos sempre estiveram destinados a serem percorridos em direções diferentes.Ele se aproximou mais, segurando meu rosto com as duas mãos.Um jogo bem baixo.— Mas eu escolho te amar, Chloe.— E eu escolho não aceitar o seu amor.Scott deixou os ombros caírem.Aquilo seria difícil, tanto para
Azul era literalmente a minha cor favorita.Toda vez que olhava para as íris de Scott sentia como se estivesse me afogando em um mar de possibilidades e de desejos. Era como se meu corpo estivesse sendo levado por uma correnteza de maravilhas. Amava ver seus olhos tão claros me encarando com todos os sentimentos sendo ditos em apenas um olhar.Eu amava Scott.Só que era difícil. Sempre foi difícil, isso não mudaria de uma hora para outra.Mas encarando mais uma vez o meu mar particular, pude me sentir como uma garotinha boba apreciando toda a excitação do primeiro amor.Deixei minhas pernas falharem porque seria uma das últimas vezes. Passaria tanto tempo em Kodar que não teria como me permitir passar por aquela merda mais uma vez.Seria a última.— Posso saber onde está o papai? — perguntei ríspida, cruzando os braços.Scott umedeceu os lábios e então olhou para trás, como se pudesse procurar por alguém, no entanto, só éramos eu e ele no meio de uma pista de pouso.Paul deveria es
Podiam se passar três, quatro e até cinco anos, eu ainda não sabia quem era Chloe Jessey de verdade, e por alguma razão tinha a certeza de que Kiara me faria enxergar um potencial talvez adormecido.Me avaliei no espelho do banheiro por uma última vez. A maquiagem pesada vinha sendo constante nos últimos dias, lápis preto e rímel deixavam meus olhos menos "mortos".Passei o dedo pelo cabelo todo platinado sentindo falta de quando deixava que as ondas naturais desse volume a ele.Agora estava completamente liso, acinzentado de tal forma que quando Sophie me viu pela primeira vez disse que eu parecia "Kalid" a personagem de um dos livros que lia para ela dormir. Uma guerreira, uma domadora de dragões.Talvez até tenha me inspirado nela para mudar o tom dos fios, mas também tive bastante influência vindo de Sullivan, que esteve ao meu lado por um certo tempo, no intuito de dar apoio à Marisa.Deixei que por um último momento todas as lembranças daqueles últimos dias passassem pela minh
Último capítulo